kafkiana 31/01/2024
Ensaio sobre a cegueira foi o meu primeiro livro de 2024. Não é um livro fácil de se ler, porque além da forma que o Samarago escreve - os diálogos não têm travessão ou aspas - existe uma atmosfera assustadora no livro, ele se passa um ambiente sujo, triste, solitário em alguns momentos e extremamente desumanizador.
Para ser mais fácil de comentar sobre o livro, eu irei dividir ele em três partes. A primeira parte se refere ao início do livro até o memento em que a quarentena começa a ser liderada pelo cego portador de uma arma, a segunda parte começa quando o grupo rouba a comida de todos os cegos até a morte de seu líder e a terceira, obviamente, é o restante do livro até o seu fim.
No início é evidente o estilo Kafkiano presente no livro, logo nas primeiras páginas um senhor que estava em frente a um semáforo esperando o sinal verde para poder seguir seu caminho se encontra em um mar de leite, passando abruptamente a enxergar tudo branco. E é assim que o livro se inicia, retratando o início de uma epidemia de cegueira peculiar que de uma forma inexplicável vai tomando posse de centenas de pessoas.
Depois de atingir a sua primeira vítima, a cegueira vai se espalhando pela cidade até chegar em um médico - um oftalmologista - que avisa ao Governo sobre a epidemia. Com o intuito de conter o número de contaminações o Governo decide pôr todos os cegos em um hospital psiquiátrico abandonado e todos eles vão para a quarentena, vale ressaltar que a mulher do médico não ficou cega, porém mentiu para as autoridades com o intuito de não se separar do marido. Nessa ?primeira parte? já é possível imaginar na desgraça que os contagiados estarão submetidos a viver, pois, o governo avisa que não darão nada mais do que comida para eles viverem ali. E então se sucedem vários acontecimentos que resumindo tudo seriam eles: fome, sujeira, morte, desumanização e mentira.
As autoridades não tinham o interesse realmente de controlar a epidemia, eles queriam exterminar os doentes para que não precisassem lidar com eles, e isso é o que nós fazemos o tempo todo. Eu acredito que essa seja a mensagem principal do livro, além de denunciar o descaso e atrocidades que são cometidos por um órgão que teoricamente serve para assegurar direitos e proteger os cidadãos, esse livro traz consigo uma mensagem para todos os seres humanos.
Nós costumamos ignorar qualquer problema ao nosso redor, até porque encarar ele é bem mais difícil, nos fazemos de cegos para os óbices das pessoas que estão ao nosso redor mesmo que em muitas vezes essas pessoas podem estar passando por uma coisa bem parecida com o que nos faz sofrer, - isso fica evidenciado na ?terceira parte? do livro - somos egoistas e cruéis com os nossos semelhantes assim como o cego da ?segunda parte? do livro é, e esse livro me fez refletir muito sobre empatia e sobre o que é ser um ser humano.
Com toda certeza irei ler esse livro novamente daqui a um tempo, quero ler outras obras do Saramago também!
Nota final: 8/10 ~ tirei alguns pontinhos porque a atmosfera do livro é bem densa, não se trata de um livro de conforto até porque muitas vezes é DESCONFORTÁVEL a leitura de tanta tragédia, talvez isso só confirme o hábito da humanidade de querer fugir ou ignorar experiências incômodas de que eu comentei ali em cima.