Itamara 01/09/2021"...por favor, seja gentil e cuide de mim".Em nossa cultura ocidental, frequentemente ficamos admirados com certos costumes e hábitos dos chineses, além é claro de outras características relacionadas à população ou economia que podem ser facilmente encontrados na internet ou até livros didáticos.
?As filhas sem nome?, entretanto, nos apresenta um outro lado menos conhecido e que durante a leitura me parecia estar mostrando fatos do século passado, quando na verdade é uma realidade de duas décadas anteriores à nossa: uma sociedade patriarcal do nível mais extremo e que nos faz refletir sobre o poder das oportunidades quando já se tem um destino traçado.
A obra nos apresenta a história de Três, Cinco e Seis, irmãs (em um total de seis mulheres), nascidas na zona rural da China e que não tiveram sequer direito a um nome, tamanha a vergonha que o pai sentia por não ter ?conseguido? um filho homem, nomeando-as de acordo com a ordem de seus nascimentos. A situação de pobreza e o considerado ?azar? que a família carrega trazem os destinos das irmãs preparados desde a infância: casamentos arranjados e uma vida de subserviência aos maridos, independente de idade, condições financeiras ou físicas destes. Em um esforço descomunal, Três resolve fugir e tentar a vida na cidade em busca de trabalho. Sua experiência inspira outras a fazerem o mesmo.
Esse foi meu primeiro livro da autora e confesso que gostei bastante. Algumas leituras complementares são unânimes em afirmar que esta não é nem de longe sua melhor obra, mas ainda assim considerei uma jornada agradável e até mesmo útil. A linguagem é bem acessível e me possibilitou conhecer sobre aspectos da sociedade chinesa até então desconhecidas para mim. Talvez por já ser a tradução de uma tradução, alguns trechos ou expressões parecem com raciocínio incompleto, superficial ou até estranhos. Não há momentos de tensão ou reviravoltas inesperadas e por vezes a narrativa foca mais na parte da migração dos camponeses para a cidade do que propriamente as condições das mulheres na China, o que é a proposta principal da obra.
Apesar disso, é bem interessante acompanhar a trajetória vivida pelas irmãs, os percalços, o choque de cultura dentro do próprio país, a desconstrução de certos estigmas e o desfecho que coube a cada uma (essa parte na verdade fica em aberto, mas ainda assim gostei do final com notas da autora explicando sua relação com as pessoas que a inspiraram a escrever o romance). A reflexão final é EXCELENTE.