Letícia 10/06/2022Um clássico que eu queria ter lido na escolaCondições Nervosas foi escrito em 1988 pela Tsitsi Dangarembga, que também é diretora e nasceu e mora no Zimbábue. Considerado um dos 100 melhores livros do século XX, possui uma escrita fluida e envolvente. O leitor se sente inserido dentro da realidade da narradora Tambu.
Não é preciso explicar nada e nem tem por quê: o patriarcado é dominante globalmente, então mesmo uma realidade de outro continente me recordou a da minha família. O irmão, por ser do sexo masculino, tem a oportunidade de estudar. Já Tambu não, afinal a ela é imposta a responsabilidade de trabalhar para ajudar sua família em situação de pobreza.
Porém não é nenhum spoiler que seu irmão morre de uma doença e por isso ela consegue ter a chance de estudar no lugar do irmão.
O livro aborda muitas questões, como por exemplo o patriarca da família, tio dela que, por ter mais condições financeiras e por ter tido acesso aos estudos,além de ajudá-la também é muito respeitado e venerado pela família. Praticamente colocado num pedestal por ser um homem culto e de classe média. Porém, quando a Tambu passa a viver na casa dele e de sua esposa e filha, percebe um outro lado do tio: marido machista, que silencia sua esposa, extremamente rígido e bruto com a filha etc.
Sua esposa possui mestrado, mas mesmo assim é destinada a cuidar dos filhos e limitada a ser mãe e esposa servil.
Já a prima de Tambu é insubmissa, estudou fora e por isso tem uma percepção maior de mundo e entende com naturalidade que não é certo ser tratada como inferior por ser mulher. Tem o espírito livre, estuda bastante e, com isso, Tambu passa a ler os livros da casa. A partir dessa oportunidade, Tambu começa a questionar e refletir sobre os costumes e a cultura da qual foi ensinada desde criança. Não é um questionamento abrupto e explícito, mas sim podemos perceber como os estudos vão ampliando aos poucos a visão de mundo e as perspectivas de vida de Tambu.
É um livro imperdível para ser trabalhado nas escolas porque tem uma pegada jovem e, ao mesmo tempo, fala de coisas históricas e dominantes em nossa sociedade como o colonialismo e o patriarcado. Também é ótimo para entrarmos em contato com outros países e sairmos da bolha eua-europa.