Toni 29/04/2019
Nas palavras do psicanalista Tales Ab’Sáber “o que restou da ditadura militar foi simplesmente tudo. Tudo, menos a própria ditadura”. Os quinze ensaios que compõem este livro organizado por Edson Teles e Vladimir Safatle respondem, de uma maneira ou de outra, a pergunta do título, apresentando as diferentes maneiras com que a ditadura brasileira logrou manter-se insidiosamente presente em nossa democracia. Vale lembrar, por ex., que trinta e três anos após a transição, o Brasil continua sendo o ÚNICO país (dentre os que viveram ditaduras na América Latina) que não puniu ou disponibilizou informações a respeito de crimes hediondos imprescritíveis perpetrados pelo Estado.
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Resultado de um seminário realizado em 2008, o livro contempla aspectos da “semidemocracia brasileira”, como nossa Constituição com fortes traços autoritários (forjada sob a guarda de generais), nossa política de transição precária, a presença da tortura como método de ação policial contra as classes populares, a Lei dos Desaparecidos, que impôs aos familiares e vítimas o ônus da prova contra as Forças Armadas (que se recusam a abrir seus arquivos), a luta por verdade e justiça empreendida ao longo de décadas por esses mesmos familiares e vítimas da violência de estado e do “poder desaparecedor” da ditadura.
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O amplo escopo científico, que inclui historiadores, filósofos, cientistas políticos, críticos literários, psicanalistas, juristas (ou seja, gente que estuda a ditadura brasileira dentro das especificidades de seus campos), garante a todos nós, leitores leigos, um painel bastante complexo do quanto ainda respiramos as consequências de um silenciamento institucional — uma Anistia da Impunidade que engendra monstros, como pôde ser comprovado nas últimas eleições.
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Se alguém aí se interessou, o e-book de 'O que resta da ditadura' estava em promoção por 8,90 Golden $howers na Amazon até o momento desta publicação.