LETRAS e VEREDAS 09/06/2020A EXCEÇÃO BRASILEIRAÉ impossível entender o solo que sustenta o nosso viver diário sem apreender a opressão e a exploração decorrentes do regime colonial português e norte-americano, das consequências nascidas dos horrores e do genocídio da escravidão indígena e negra e do holocausto autoritário promovido pela ditadura civil-militar que perdurou entre 1964-1985.
A presença dessas expressões brutais de violência revelam que a nossa realidade brasileira é fundada no sangue, na repressão e na bárbarie que transfigura a exceção em rotina ordinária e quotidiana.
"O que resta da ditadura: a exceção brasileira", coletânea de 15 artigos organizada por Edson Teles e Vladimir Safatle, desvela que a violência da ditadura e do autoritarismo constituem partes fundante da nossa atual "democracia".
O verbo "restar" manifesto no título da obra não designa resquícios que desaparecerão calmamente e espontaneamente com as maresias do tempo, mas algo que funda e organiza a nossa existência social, política, cultural e econômica.
Nos nossos dias, a manutenção da ditadura se desnuda em múltiplas faces: na militarização da vida; nas práticas de tortura e de assassinatos cometidos pela polícia (especialmente, nas favelas e áreas de disputa pela terra e moradia); na tentativa de apagar a memória e o luto dos mortos, torturados e desaparecidos políticos; e na ausência de punição dos crimes perpetrados por civis e militares; dentre outras fisionomias perversas e bárbaras.
"O que resta da ditadura: a exceção brasileira", com seus duros e amargos ensinamentos, é uma obra essencial porque lança luz sobre a ditadura que ainda perdura em suas novas e mutiladas expressões.