Julia Agnes | @pontoparagrafoo 30/06/2021"As pessoas acreditam que serão mais felizes se elas se mudarem para outro lugar, mas logo percebem que não é assim que funciona. Para onde quer que você vá, leva a si mesmo""Para Ninguém Owens, criado desde bebê por fantasmas e seres de outro mundo, a morte é apenas a morte e o perigo está na vida, do outro lado dos portões do cemitério. Lidar com os vivos é a lição mais difícil que o menino terá de aprender. Tão difícil quanto crescer."
Depois de muito pesquisar, não encontrei o autor destas palavras, mas não poderia deixar de usa-las. Resumo mais completo e que faz o leitor querer ler esta obra, improvável encontrar.
Desde seu nome ao conteúdo, O Livro do Cemitério tem uma camada perceptível logo de primeira com O Livro da Selva - inspiração essa declarada por Gaiman.
Autor este, nada mais nada menos que, vencedor da medalha John Newbery - prêmio literário concedido para o autor mais distinguível para a contribuição à literatura americana para crianças.
Em primeiro momento, parece uma estória macabra para criancinhas - mas quem disse que só criança pode ler essa maravilha?
Uma das características que me prendem atenção nas obras do Neil Gaiman é a duplicidade com que ele consegue escrever. Apesar de muitos de seus livros serem considerados para o público infantil, quem já atingiu a maioridade consegue se sentir cativado e observar as mensagens que cada obra traz.
A imaginação do autor é o que faz o diferencial para todos seus livros. Cada nova estória escrita por ele fez com que eu me apaixonasse ainda mais por este livro – tendo em vista como ele consegue abordar um tema que é tabu para muitos, e criar um mundo leve com ele, apesar disto.
Nesta estória, conhecemos o protagonista Ninguém Owens, uma criança nada convencional, criada por seres humanos que passaram desta para melhor. Toda a criação de Ninguém é diferente. Tendo em vista que, seus lugares preferidos para brincar são entre os túmulos de seus conhecidos post mortem. Sim, ele é uma criança viva, mas que apesar dos infortúnios que o levaram ao Cemitério da Colina, foi adaptado ao mundo dos mortos.
Apesar de existirem seres já transformados, em decorrência da maldade ou do esquecimento dos vivos - até mesmo por terem falecido há muito tempo - no momento em que somos apresentados à um lado um pouco mais obscuro do além, não faltou delicadeza e embasamento para a explicação de como foram morar no Cemitério da Colina.
Contando com aventuras emocionantes vividas pelo protagonista e sentindo na pele suas novas experiências e descobertas, não poderia ter deixado de me emocionar com a sensibilidade das palavras e situações que foram criadas em torno da relação dos vivos com os finados. Em especial, como ele chega ao fim.
É um livro muito bem elaborado, desde seu enredo, às suas inspirações e à sua sensibilidade e respeito com o tema morte. Apesar de muitos evitarem, por medo, falar sobre morte, é um livro que elimina qualquer resistência ao assunto e te faz mergulhar neste universo à fundo. Foi meu primeiro contato com Neil Gaiman e recomendo à todos que ainda não leram obras do autor.
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