Dudu Menezes 08/04/2021
Leitura obrigatória
Esse livro tem vários méritos, embora a leitura seja extremamente - e propositalmente - alucinante, nauseante, cansativa, truncada e difícil.
Os relatos das torturas sofridas pelos presos políticos, conforme explicou o autor, são reais, e ele diz ter os mantido tal e qual os recebeu, quando ainda trabalhava na redação do jornal Última Hora, já que, devido à censura, não puderam vir à tona naquele período. O livro foi escrito no contexto dos anos 1960/1970, e acabou sendo publicado, primeiro, fora do país, na Itália, em 1974.
O texto precisa ser lido em meio a narrativas paralelas, que confundem, e, depois, enfim, se fundem, para, novamente, confundir, e, por fim, fundir as histórias pessoais em um conjunto de "fluxos de pensamentos" de diferentes personagens, que, como todos nós, raciocinam milhares de coisas, ao mesmo tempo, viajando, nos guetos das memórias, entre o presente e o passado, projetando um futuro cada dia mais incerto.
Denunciar os crimes cometidos pelos militares, durante a ditadura, é fundamental, ainda mais em tempos como os de hoje, mas Loyola Brandão fez isso como o Chico Buarque, em suas canções, para ultrapassar os censores.
Ele usa, portanto, de uma técnica de subversão linguística; misturando a pontuação própria do espanhol com a do português, para dizer, sem dizer, e, ao final, GRITAR! Denunciando o horror de um país, miserável, que se defrontou com o terror das prisões políticas e da tortura, que deixaram, até os dias de hoje, graves sequelas anti-democráticas.