Coruja 18/07/2011Descobri Martha Argel ano passado, justamente no Desafio Literário, quando li O Livro dos Contos Enfeitiçados. Ela me cativou de cara com o bom humor com que consegue juntar fantasia e cotidiano, com uma ambientação totalmente nacional – nunca vou me esquecer de quanto me acabei de rir com a história das bruxas que apagam o futebol da face da terra para darem jeito nos maridos... e vêem o feitiço virar contra o feiticeiro...
Assim, peguei Relações de Sangue com altas expectativas... e ela não me decepcionou: dos livros que li para o tema do mês, o título da Argel foi, sem dúvidas, o meu favorito.
Clara, bióloga, tradutora e amiga da vampira Lucila, que conheceu quando foi vítima de um seqüestro-relâmpago (a edição que li vinha, no final, com o acréscimo do conto que narra esse primeiro encontro das duas), acaba por se meter numa trama de assassinato envolvendo um vampiro “moreno, alto, bonito e sensual”, que anuncia seus serviços nos classificados do domingo.
Pois é, um vampiro de aluguel.
Daniel, nossa, hã... vítima, está tendo suas clientes mortas pelo que parece ser algum humano com grande conhecimento de causa. Além do fato de que isso pode atrair uma atenção indesejada para a comunidade dos caninos longos, há o detalhe de que algum maluco estar entrando no território de Daniel, que, como macho alfa que é, não está satisfeito com a situação.
E aí é que Clara acaba entrando na imagem, indicada por Lucila, dando uma de detetive particular. Ela não é detida pelo nascer do sol, e pode passar por uma excelente isca – desde que, claro, Lucila possa ser seu anjo da guarda a todo instante.
Aliás, é curioso que a despeito dos personagens masculinos – Estevão, Daniel -, o cavaleiro de armadura brilhante de Clara seja a Lucila. As duas formam um par curioso e seu relacionamento me lembrou muito o clássico Carmilla, de Joseph Sheridan – e não acho que isso se trate de uma coincidência involuntária.
Há algumas incongruências na história, não nego. Todo o lance de quem está por trás das mortes e o banho de sangue que Clara presencia em sua sala de estar são meio discutíveis, mas só vim prestar atenção nisso quando já tinha terminado a leitura. Enquanto estava com o livro nas mãos, tudo o que eu queria era continuar e continuar, rolando de rir com alguns diálogos e situações, ou me retesando na cadeira com a tensão.
Argel sabe escrever uma boa história, sabe manipular admiravelmente situações cotidianas extraindo delas muito humor, sem cair em armadilhas de mau gosto. Seus vampiros não são necessariamente deslumbrantes e glamourosos, mas são críveis, interessantes, curiosos.
Definitivamente, uma boa leitura!