Monge 29/01/2024
A dialeticidade na práxis da pedagogia problematizadora
A obra se desenvolve acerca da pedagogia voltada para o oprimido, que busca a humanização do homem. tendo em vista que este, submetido à classe opressora, é cerceado de sua humanidade. inicialmente, discorre sobre a situação de opressão material presente na sociedade, que mitifica a realidade e, por isto, é alienante. ao passo que a pedagogia do oprimido é libertadora, pois é criticidade e transformação concreta. o autor critica uma visão fatalista e estática da realidade, na qual acredita-se que a opressão é um destino dado, como fica explícito no seguinte trecho: “Esta (a luta pela humanização) somente é possível porque a desumanização, mesmo que um fato concreto na história, não é, porém, destino dado, mas resultado de uma ordem injusta que gera a violência dos opressores e esta, o ser menos.”. é enfatizada, no livro, a ideia de que a classe oprimida deve participar ativamente pela busca de sua libertação, não de maneira individual, mas coletiva.
existe, na obra, a abordagem, também, de conceitos como educação bancária, educação problematizadora, ação dialógica, ação antidialógica, invasão cultural e síntese cultural, entre outros. abordando-os sempre como conceitos em relações antagônicas: um que parte dos opressores e outro que deve partir dos oprimidos. já que o oprimido, para se libertar, necessita agir em diálogo, harmonia, humanização, buscando ser mais, enquanto o opressor, para se manter beneficiado da situação opressora, necessita conquistar, separar, manipular e invadir, tornando o oprimido um ser menos.
além disso, é utilizado o conceito hegeliano de dialética, a partir da caracterização dos oprimidos como “consciência servil” em relação à consciência do opressor, tornando-se “consciência para outro”. ademais, a dialeticidade é usada no decorrer da obra para desenvolver as relações homem-mundo, educadores-educandos, ação-reflexão, etc. Tais relações esclarecem que as coisas não se dão isoladas no mundo, mas em conjunto, como fica claro no trecho: “(a libertação autêntica) é práxis, que implica a ação e a reflexão dos homens sobre o mundo para transformá-lo.”.
a linguagem da obra, bem como o desenvolvimento do pensamento freireano, não é tão complexa, no entanto exige o conhecimento prévio de alguns conceitos para que haja um entendimento mais facilitado e claro por parte do leitor. o autor não se limita somente a abordar, de forma incisiva, a pedagogia como elemento separado da realidade. em vez disso, elabora, em torno da práxis da pedagogia problematizadora, seu pensamento filosófico. o livro se estrutura de forma organizada, em que os tópicos se complementam e facilitam a análise do leitor sobre o pensamento filosófico sintetizado na obra. além dos diversos referenciais teóricos encontrados durante a leitura do livro, paulo freire narra muitas experiências concretas de educadores a fim de exemplificar o que apresenta de forma teórica no ensaio.
embora, no contexto pedagógico, seja reverenciado nacional e internacionalmente, é perceptível que o método proposto por paulo freire nunca entrou em vigor de forma plena no brasil. pelo contrário, o que se verifica na realidade é uma educação tecnicista, criticada veementemente pelo autor, que a nomeia de “educação bancária”, a qual estabelece relações verticais no ato educativo, buscando depositar o conteúdo programático sem que haja verdadeiro diálogo entre educador e educando.