Solo para vialejo

Solo para vialejo Cida Pedrosa




Resenhas - Solo para vialejo


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Leila de Carvalho e Gonçalves 30/12/2020

Epopeia Mestiça
Você conhece ou já ouviu falar de Bodocó? Se consultar o dicionário, trata-se de uma planta aquática abundante na microrregião de Araripina, no sertão pernambucano, aliás, a palavra pode ter sua origem ligada a uma tribo indígena, os Bodorocós, que habitou o local.

Contudo, minha pergunta não gira ao redor da planta nem da tribo, mas da cidade de Bodocó que encontrei no mapa, após ela entrar no radar da literatura brasileira por ocasião da divulgação dos vencedores do Sexagésimo Segundo Prêmio Jabuti, ocorrida virtualmente em 26 de novembro de 2020.

O motivo de tal interesse é auspicioso: De autoria da pernambucana Cida Pedrosa, nascida e criada em Bodocó, Solo Para Vialejo foi o vencedor na Categoria Poesia e escolhido o Livro do Ano durante o evento. Uma consagração que despertou interesse pelo ineditismo: jamais uma nordestina conseguira tal êxito.

Em linhas gerais, a autora lança mão das lembranças para contar em versos histórias de sua cidade natal, tendo como foco a maneira que Bodocó se relaciona com o mundo por intermédio da música. Para tanto, ela realiza uma jornada interior, inversa a viagem que realizou aos 15 anos, quando foi tentar a vida em Recife. Esse percurso é o mesmo realizado no passado por índios e negros fugitivos, empurrados do litoral para o interior, a fim de escapar do domínio do homem branco.

Fato que resultou numa rica miscigenação étnica e deu origem a diferentes ritmos como o xote, inspirado numa dança de salão trazida pelos portugueses, e um lamento sertanejo, aparentado com o blues. Aliás, curiosamente aparentado, pois ambos floresceram em áreas de cultivo do algodão, o vale do Mississipi e o semiárido nordestino, expressando sentimentos análogos, isto é, tristeza, sofrimento e até uma certa complacência com os infortúnios da vida.

Conforme explica a crítica literária Mariana Ianelli no Prefácio: Solo Para Vialejo é um grande poema de redescobrimento, mas também, para a poeta, um buscar-se a si mesma numa escuta interna, tendo por bússola e amuleto, em viagem ao passado e às notas dos antepassados, uma gaita. ?Paraíso perdido prometido ?, este vialejo azul foi um presente do pai que ela nunca aprendeu a tocar.

Agora sim a poeta o toca, revolvendo tempos, trazendo à tona todos aqueles a quem ela e sua poesia se filiam, mestres, maestros, país e mães de carne e alma que povoam sons de infância, como o som da roca de fiar, o violão de seu Dim, os benditos catados pelas mulheres nos campos de algodão, os aboios estrada afora na ?voz blues? do seu Bindô, as ladainhas da mãe, a Ave Maria de Schubert numa serafina de marfim nas manhãs de domingo. Sons que vem de longe, também de outras cidades, outras culturas, outros chãos peregrinos como a gaita de Bob Dylan ou as guitarras de Tom e John Fogerty.?

Para Johnny Martins que assina a contra-capa: ?essa musicalidade é um grande elemento de destaque, sobretudo quando se lê essa epopeia mestiça em voz alta. No entanto, toda a estrutura visual é igualmente importante e se afasta do pertencimento a uma ?tradição? da poesia oral e performática à qual Cida Pedrosa se vinculava. Agora, ela precisa ser lida, não apenas ouvida?. (vide fotos)

Finalmente, Wellington de Mello, o editor que assina o Posfácio, propõe uma interessante perspectiva para o poema: ?Pode-se afirmar que todo ele é construído a partir de tensionamentos que assumem diversas configurações: entre o individual e o comunitário, entre o racional e o afetivo, e, naturalmente, entre o lírico e o épico. A tensão entre memórias pessoais e as coletivas funciona como um pêndulo entre o ?dentro? e o ?fora?, entre o que pertence ao domínio da memória afetiva do indivíduo e o que está fincado numa memória cultural compartilhada?.

Trecho do Solo Para Vialejo:

?... quase todos os filhos de bodocó vieram ao
mundo pelas mãos de hermínia parteira
de ofício senhora de muitos saberes e sempre
a postos para a luz quando a parturiente residia
longe montava de lado no lombo de um animal
ou era transportada por dois homens em uma
rede sempre acudia às mulheres nessa hora de
solidão coragem e fé suas mãos além de darem a
vida tocavam música das missas domingueiras
em uma serafina de dois pedais e teclas de
marfim comprada às suas expensas

as mãos de minha mãe hermínia
e o som de suas teclas nem sempre afinadas
foram
minha primeira experiência com deus

ao ouvi-la dedilhar a ave maria de schubert meu
coração se apertava e ficava com medo de perder
minha mãe as lágrimas sempre apontavam nessa
hora a hora dessa língua mater materializando a
saudade de um deus sertão e de algo nunca
vivido

ave maria
schubert
na igreja a tua música parece tão sincera
tão silenciosamentesertão
tão teluricamenteateia

schubert
schubert
schubert...?

(páginas 94, 95 e 96)

Nota: Vialejo é uma corruptela de realejo, instrumento musical também conhecido como harmônica ou gaita.

Boa leitura!
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Vilamarc 04/02/2021

Jazz Band União Bodocoense
Bodocó já é sinônimo de Cafundó. Aquele recanto perdido do Brasil, do Nordeste e aqui, do Pernambuco arcaico.
Muitas interpretações serão possíveis para os leitores desse poema lírico e épico. Para mim, salta aos sentidos a poética da região do Cariri pernambucano sem esquecer das demais fronteiras.
Uma colcha de retalhos afetiva de histórias, desde a pangéia, configurando a Chapada fóssil do Araripe, das tradições indígenas, negras, mas também ibéricas, mouras e ciganas.
Tudo isso expresso em símbolos universais, que aproximam culturas, o algodão da caatinga ao jazz e ao blues, numa improvável jazz band bodocoense...
Enfim... uma baita pesquisa que une o melhor da cultura popular ao erudito e às referências pop, como Wanderleia e Reginaldo Rossi.
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Alexandre Kovacs / Mundo de K 12/12/2019

Cida Pedrosa - Solo para vialejo
Cepe Editora - 125 Páginas - Projeto gráfico e capa de Luiz Arrais - Lançamento: 17/10/2019.

Cida Pedrosa inventou um jeito diferente de falar do Brasil – e, por que não, dela mesma – a partir de um longo e ambicioso poema que começa em uma época na qual índios e negros fugiam do litoral para o sertão, após a chegada dos brancos invasores "com suas naus cheias de dores e prisões", uma história que vai avançando no tempo a partir de fragmentos de memória e referências musicais e que não se encontra em manuais de antropologia ou sociologia.

Difícil explicar em poucas palavras a experiência poética e musical da autora neste livro. Segundo o texto de divulgação da editora, trata-se de "um poema épico-lírico sobre uma viagem em busca da própria identidade", bom resumo sem dúvida, mas insuficiente para explicar essa epopeia mestiça que a autora construiu com base na sua vivência. Talvez melhor definição seja da ensaísta e crítica literária Mariana Ianelli na apresentação da obra: "Um grande poema de redescobrimento que é, para a poeta, um buscar-se a si mesma numa escuta interna, tendo por bússola e amuleto, em viagem ao passado e às notas dos antepassados, uma gaita: 'paraíso perdido prometido', este vialejo azul que a poeta, ainda menina, ganhou do pai e nunca aprendeu a tocar."

antes de os homens brancos chegarem com suas
naus nauseabundas e nulas a terra era vasta e nós
vivíamos livres

livres e vastos
livres e vastos
livres e vastos

não éramos vestais
éramos a vida o verbo e a vastidão
o verbo a voz e a vastidão

o verbo
o verbo
o verbo

sem necessidade de deus

um verbo encarnado encantado escancareado
entre águas de mar rios riachos lagoas e igarapés

um verbo
sem a presença incômoda de um deus
sem palavra e vestido de escuridão

um deus branco
um deus branco
um deus branco

um deus triste como tristes eram os negros que
aportavam na areia um deus triste como tristes
ficamos ao conhecermos jesus e sua cruz cheia
de espinhos ao trocarmos nossas penas
brilhantes por espelhos baratos ao vermos nossas
mulheres caçadas acossadas tomadas à força
bruta

um deus branco e cruel que nos fez desejar
caminhar em romaria rumo ao sertão

A música tem uma parte relevante nessa viagem, de Jackson do Pandeiro a Robert Johnson, a autora nos ensina que o lamento sertanejo é irmão do blues, ambos filhos do sofrimento e da melancolia que lida com sentimentos opostos de resignação e esperança. De Bob Dylan a Gonzaguinha, tudo se mistura no caldeirão cultural de Cida Pedrosa, seja no sertão pernambucano ou no delta do Mississippi, é só gente querendo viver e sonhar.

bem longe dali em um outro lugar das améri-
cas em uma outra encruzilhada um artista en-
controu a virtuose nas cordas do violão afinado
pelo diabo e se fez lenda andarilho som e náu-
frago tocava de lado para não repassar os en-
sinamentos recebidos naquela noite auspiciosa
fez filhos e teve as mulheres que quis jovens
mocinhas e mulheres maduras morreu tomando
uma dose de uísque com cicuta servida por um
homem enciumado cães negros vieram buscar
sua alma e seu corpo repousa em três mauso-
léus diferentes sua música é a síntese de toda a
melancolia azul

tio sound tio sam robert bobby blues johnson

Sobre a poeta: Cida Pedrosa (1963) nasceu em Bodocó, Sertão do Araripe pernambucano. Foi uma das militantes do Movimento de Escritores Independentes de Pernambuco na década de 1980 e daí vem seu gosto e experiência com a récita. Tem sete livros de poemas publicados, sendo os mais recentes Gris (2018), Claranã (2015) e As filhas de Lilith (2009), os dois últimos selecionados pelo Prêmio Oceanos de Literatura. Tem participação em antologias de poemas e contos no Brasil e no exterior.
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Wilma.Suely 31/12/2020

Jabuti 2020 merecido, definido como ?um poema épico-lírico, conta parte de uma história do Brasil, com referências musicais e histórias do local de origem da poeta.
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Toni 16/01/2021

Leitura 60 de 2020
Solo para vialejo [2019]
Cida Pedrosa (PE, 1963-)
CEPE Editora, 2019, 128 p.

Cida Pedrosa nasceu em Bodocó, Sertão do Araripe: dois toponímicos presentes ao longo de seu extenso e premiado poema ‘Solo para vialejo’. Trata-se do sétimo livro de poesia da escritora (que é também vereadora pelo PCdB em Recife), vencedor do prêmio Jabuti 2020 nas categorias Livro de Poesia e Livro do Ano. Apesar de nunca ter lido coisa alguma da Cida, fiquei bastante feliz com a atribuição do Jabuti: em casos como este, creio que a premiação cumpre sua função mais nobre, trazer notoriedade a obras publicadas por editoras independentes e, ainda por cima, fora do eixo Rio-SP.

É importante ressaltar que ‘Solo para vialejo’ não é um livro de poemas, todo o livro é um único longo poema com traços da poesia épica. Há um amplo recorte temporal que abrange memórias de um sertão-brasileiro de várias épocas, amplificado por ritmos diaspóricos e uma multidão de vozes: escravizadas, dizimadas, torturadas, ressurgentes e insubmissas. Comportando-se ora como memória pessoal, ora como registro de uma coletividade sobretudo nordestina, o texto de Pedrosa se faz palimpsesto de cartas, invocatórias e canções (nacionais e internacionais) que contam a história de sua formação afetiva e poética, ao mesmo tempo em que narra as estratégias de sobrevivência de brasileiras e brasileiros ao longo da formação de nossa identidade tão plural.

Há trechos que se repetem como refrões e uma boa dose de experimentalismo visual nos versos, uma oportunidade para sair um bocado de sua zona de conforto se você, como eu, costuma ficar perdido quando encontra frases em X ou em formato de espiral. A experiência, como um todo, é agridoce, como “uma mulher que fia / fia armaduras para sois tristes / fia acalanto para madrugadas rasas / fia o orvalho para manhãs natimortas”. Campo e sertão, aqui, dão as notas, e todo este 'Solo para vialejo' é chão cantando uma história afetivo-coletiva.
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jsscmaria 29/11/2021

Merece o título
A poesia da Cida Pedrosa realmente é diferenciado. Elas contam uma história, uma história forte e com a cara dela. O livro tem umas saladas incríveis. Vale muito a leitura!
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Bruno Oliveira 08/08/2022

O SHOW É DELA, MAS É DA GENTE AMERICONEGROÍNDIA TAMBÉM!
Solo para vialejo, da poeta pernambucana Cida Pedrosa é um daqueles momentos típicos de bar que tem música ao vivo: a artista que está lá se apresentando no palco, ou num cantinho improvisado do lugar, se não está só, fica-a e, com uma luz bem em cima dela, destacando-a do recinto em penumbra, entrega-se, de corpo e alma, para o público que está lá a vendo/ouvindo, numa performance solo meio triste, meio melancólica, carregada por demais por lembranças afetivas musicais da cultura pop local e internacional de sua formação como artista; é aquele momento mágico em que o tempo para e parece que só você e ela estão lá no bar; talvez ela nem esteja ti vendo direito, mas você a vê por completo, sabe?
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Carol 22/01/2023

Impressões da Carol
Livro: Solo para vialejo {2019}
Autora: Cida Pedrosa {Brasil, 1963-}
Editora: CEPE
125p.

O último dia da #flip2022 trouxe uma das conversas que mais reverberou em mim. "O brando leque do gentil pomar" reuniu @cidapedeosa65 e @teresacardenascuba, para invocar o Sertão brasileiro, Cuba, ancestralidades, músicas, poéticas, olhares de rara beleza. Voltei deslumbrada.

O deslumbre permaneceu durante a leitura de "Solo para vialejo", de Cida Pedrosa, livro do ano do Jabuti, em 2020. Um grande poema, no qual a oralidade e o lirismo têm papel central.

O xote, o blues, o baião, a jovem guarda, o folk, o sertanejo, o jazz, ritmos que embalaram a infância da autora, em Bodocó, interior de Pernambuco, servem como fio condutor de uma narrativa com fundo épico.

A jornada dos indígenas, negros e portugueses do litoral ao interior do Brasil, ao Sertão.

"antes de os homens brancos chegarem
com seus navios cheios de negros tristes e sem destino
éramos apenas aqueles que habitavam
um solo flor
um solo flor
um solo flor
um solo flor" p. 28

"e depois do planalto da borborema
pora-pora-eyma
pora-pora-eyma
pora-pora-eyma" p. 32

"a sanfona de luiz
pungente espaço para a saudade
...
lua luz luiz
negro negro negro
mesmo sem entender sê-lo
negro." p. 50

"o guimarães sabia dos aboios das suas métricas
dos seus lamentos e da sua androginia
diadorinizada nos corações de riobaldos" p. 87

"as mãos da minha mãe hermínia
e o som das suas teclas nem sempre afiadas
foram
minha primeira experiência com deus" p. 95

A memória da poeta conexa à memória coletiva, de um povo, de um país. Um repertório de vozes, de sons, de ritmos. Lugar de cultura e de formulação histórica, pois não há como ler "Solo para vialejo", sem pensar no seu caráter político, sem se atentar às intertextualidades e no alargamento da memória, da escrita e do imaginário. É lindo.
Gabriel 16/04/2023minha estante
Estive nessa mesa da Flip 2022 também - encontro único. Logo após comprei o 'Solo para vialejo' - conheci ele na final do prêmio Jabuti. Gosto de pensar que esse livro me encontrou. Ótima resenha.




Eduardo.Mathias 01/01/2021

Epopéia partitura
Fui sem pretensões ao livro apenas sabido que tinha ganho o prêmio jabuti
E me surpreendi muito
Como uma trilha sonora circular, o livro nos evoca memórias de ternura e opressão na construção da personalidade da eu lírica
Estamos no livro enchendo o ouvido e querendo saber o próximo compasso das memórias da eu lírica
Achei incrível
E sei que as outras resenhas aqui no Skoob estão melhor que essa
Mas uau, que livro.
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Ricardo Santos 13/10/2023

Próximo clássico da literatura brasileira
Solo para Vialejo é uma obra muito pessoal e, ao mesmo tempo, coletiva. A poeta Cidra Pedrosa mistura referências autobiográficas com um tema fundamental da cultura brasileira: a música. Ela elabora uma poesia multifacetada, num jogo entre o erudito e o popular, o rigor e a subversão, o silêncio e a sonoridade, a partir de elementos que remetem à sua história familiar, como filha de Bodocó, no interior de Pernambuco, à estética sertaneja e à sua formação artística urbana, em Recife.

A vontade da autora de contar, em suas palavras, “um épico íntimo” foi plenamente realizada. Solo para Vialejo nos mostra os caminhos da formação do Brasil, do avanço pais adentro, partindo do litoral. Temos então como fio condutor a formação de Bodocó, com influências indígenas, europeias e africanas. E a relação com a música do seu povo e da própria Cida, desde ladainhas e cantorias em casa e na lavoura até os bailes comandados por uma jazz band em pleno sertão.

Solo para Vialejo é um manifesto político e poético que nos desconcerta pelo encanto e força. É uma ode à periferia, à descentralização da cultura, à valorização de quem sempre foi tratado como bruto e bárbaro. Vencedor do Jabuti de melhor livro do ano com todo o mérito, estamos diante do próximo clássico da literatura brasileira.
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Julyane Polycarpo 05/12/2021

Solo para vialejo
Eleito o livro do ano pelo prêmio Jabuti 2020.
Esse é um livro de poesia, escrito por uma pernambucana.
Já vou dizendo que não vou conseguir falar sobre o livro, apenas que ele precisa ser lido. É muito bom, e tem muitos trechos impactantes.
Recomendo demais!
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asaquebrada 12/02/2021

Vialejo azul nunca tocado
Uma linda viagem! Memória coletiva, território, sons, existências e resistências. Lindo, lindo.
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carbononh 06/07/2023

Perfeito, perfeito, perfeito!
Parte em busca de ti

negro ser negro ser negro ser

e te encontro e te encontro e te encontro

e me encontro
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Ise 18/12/2023

O estilo de poesia do livro não é exatamente o meu favorito, mas é inegável como as referências e o contexto delas se conectaram comigo.

Muito bonito rememorar ícones do sertão.
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