Lucas1429 02/03/2024
Campo Geral como novela de formação.
É uma marca de João Guimarães Rosa, trazer em suas obras o peso lírico em seus romances e novelas. Com Campo Geral isso é mais uma vez verificado. A novela, que inicialmente fazia parte da obra "Corpo de Baile" escrito e publicado em 1956, e adaptado em um livro único após ser desmembrada do conjunto chamado "Manuelzão e Miguilim" em 1964, ganhando o próprio corpo em Campo Geral, traz Miguilim como personagem principal. Ficando o autor como narrador em 3ª pessoa. Miguilim é um menino de 8 anos que vive com a família no sertão de Minas Gerais, chamado Mutum. E ao longo da obra, ele vive experiências da vida de criança do interior, onde junto com seus irmãos, família e demais personagens vai desscrevendo seus sentimentos intensos de amizade, sensibilidade e inocência diante dos aspectos mais comuns do cotiano humano, como o amor, a fé a violência a opressão e o medo. Guimarães traz com muita genialidade a perspectiva do mundo a partir da visão de uma criança, com uma inocência e pureza tão refinadas que elevam a leitura á um estado de intenso sentimento de cumplicidade com o personagem, isto é, Miguilim. Vê-se também uma riqueza nos detalhes dos ambientes do sertão, sempre engrandecido nas palavras do autor, que geram ainda mais autencidade á forma literalizada da forma como fala o sertanejo mineiro, coisa que Guimarães domina com absoluta mestria. Novamente aqui, nesta obra, o autor usa do Neologismo e do transcendentalismo que busca resgatar na leitura e no leitor sua essência de pensamentos estéticos e poéticos, utilizando para tal do personagem Miguilim, que é a objetificação de um processo de crescimento humano que culmina na totalização da formação de uma personalidade madura, pós experimentada nas realidades humanas como o sofrimento ou as alegrias. Guimarães Rosa usa do tema da infância para trazer á sua obra um peso de formação cultural em ser mais humano do que se está. Com mestria e experiência caracteriza todos os personagens e torna toda a leitura um prazer que vai sempre se remetendo á reflexão do do leitor com a própria infância. Simplesmente uma obra de arte! Nada menos de se esperar de um escritor como Guimarães Rosa.