Gabriel Aleksander 26/02/2015Portador de uma ótima crítica social, mas decepcionante...O Enredo
Tally Youngblood finalmente tem a vida com a qual ela sempre sonhou, uma beleza estonteante e com uma rotina regada a festas, onde sua única preocupação é ser aceita pelo grupo mais popular de Nova Perfeição. Entretanto, nem tudo é como se parece e existe um lado de Tally que permanece obscuro para ela, tornando seus reais objetivos inacessíveis para a mesma.
Tudo corria normalmente na nova vida da protagonista, até que durante uma festa onde ela saberia se o grupo dos Crims a aceitariam ou não, uma visita muda tudo. Um feio que Tally conhecia da época em que morava na Fumaça, grupo de resistência contra o governo atual, decide contatar a garota durante a festa, a fim de fazê-la lembrar de quem ela realmente é e qual é o seu objetivo ali. Esse contato será decisivo para o rumo que a sociedade na qual ela está inserida irá tomar, mas ela não estará sozinha, já que um grupo de Perfeitos estão preparados para se manterem “borbulhantes” o suficiente para promoverem essa mudança em conjunto.
Dinâmica Repetitiva
O aspecto desse livro que mais me irritou foi, sem dúvidas, a sensação de estar lendo a mesma coisa vista no livro anterior.
É inegável o fato de que Scott Westerfeld criou uma fórmula na qual ele submeteu os dois primeiros livros dessa série, que seguem uma dinâmica muito semelhante, da qual tentarei explicar da melhor forma possível sem dar spoilers:
No primeiro momento a protagonista se encontra num estado de alienação em relação a sociedade na qual ela está inserida, depois ela se dá conta do que existem por trás do governo vigente e de suas ações e com isso se coloca em uma aventura em busca de algum objetivo/lugar, finalizando na realização desse objetivo e tendo seus planos frustrados, fazendo com que ela volte pro ponto inicial.
Não sei se o terceiro livro se encaixará em tal dinâmica, que além de descuidada, broxa o leitor e desperdiça toda a grandiosidade da obra, que contém ótimas críticas sociais, rebaixando-a a um simples livro sem originalidade alguma.
Críticas Sociais
A característica que mais me conquistou em “Feios” foram as críticas trazidas em relação a nossa sociedade vigente, aos padrões de beleza e o controle das massas. Em “Perfeitos” essa característica foi mantida e o autor fez uma crítica muito mais explícita, ao inserir no enredo uma sociedade considerada primitiva e nos revelar que a mesma era apenas um retrato da nossa sociedade atual.
Ao nos apresentar a forma como uma pessoa do futuro enxerga a nossa civilização, Westerfeld levantou questionamentos interessantes sobre nossa organização social, religiosidade, sobre o regime patriarcal, machista e arcaico no qual estamos inseridos.
Personagens
No segundo livro teremos um enfoque maior nos Perfeitos, conhecendo sua rotina e suas ideologias. Esse ponto me incomodou bastante, pois, esse núcleo se mostrou bem desinteressante, onde seus integrantes estão mergulhados em um fluxo de futilidade e banalidade.
Porém, acredito que tal incomodo tenha se dado pelo fato de que os “Perfeitos” são extremamente verossímeis a nossa juventude, na qual estou inserido. No livro, esses jovens são mostrados como facilmente manipuláveis e donos de uma ideologia frágil, ao ponto de se colocarem contra o sistema, enquanto alimentam o próprio, sendo essa realidade na qual muitas vezes me vejo inserido.
Quantos de nós criticamos o governo, a corrupção e as pessoas que estão no poder nas nossas redes sociais, e quando chegamos na vida real tomamos atitudes corruptas, e elegemos representantes falhos que apenas são uma pequena amostra do que nós somos e da ideologia que defendemos.
Em “Perfeitos”, quando uma parcela daqueles jovens se junta e realmente age contra o sistema, eles viram famosos em Nova Perfeição, mas o que mais impressiona é que aqueles que os idolatram não se juntam ao seu movimento, se limitando apenas a aplaudi-los. Enquanto isso, outra parcela prefere criticá-los e classificam suas atitudes como momentâneas e pueris. (Alguém notou uma certa semelhança com as manifestações em Junho de 2013, ou com qualquer outra que já aconteceu no nosso país?).
Portanto, apesar da má construção dos personagens, a crítica social que eles trazem consigo nas entrelinhas se mostrou um prato cheio para que muitos aspectos da nossa sociedade e de quem somos sejam reavaliados.
Opinião Final
Apesar de trazer críticas fantásticas sobre a nossa sociedade atual, ler “Perfeitos” não foi uma experiência agradável. Personagens mal construídos e uma fórmula empregada de maneira desleixada, se tornaram um empecilho na leitura, tornando-a cansativa e arrastada.
Recomendo a série Feios para aqueles que se interessem em conferir as críticas contidas nas obras, mas aviso-os que as expectativas precisam ser diminuídas, pois o risco de decepção é grande.
Irei continuar com a leitura dessa série, já que ainda tenho esperanças de que o autor se reencontre no terceiro livro e faça algo do qual eu possa me orgulhar em ter lido
site:
fatalityliterario.wordpress.com