A Construção do Imaginário Cyber

A Construção do Imaginário Cyber Fábio Fernandes




Resenhas - A Construção do Imaginário Cyber


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Davenir - Diário de Anarres 20/05/2020

Um dos primeiros trabalhos acadêmicos sobre o ciberpunkno Brasil!
"A Construção do Imaginário Cyber: William Gibson, criador da cibercultura" (2006) é um livro derivado da monografia do mestrado de Fábio Fernandes, onde o autor argumenta sobre a obra de William Gibson e como ela influenciou a cibercultura, não apenas especulando o futuro, propondo uma nova forma de vê-lo, mas contribuindo para molda-lo. Talvez essa resenha pareça um fichamento, provavelmente pois foi baseada num fichamento de uma leitura com marcações no texto, afinal não temos preocupação com spoiler aqui.


O primeiro capítulo analisa as contribuições de William Gibson para a criação da cibercultura com um entendimento melhor do conceito de Aldeia Global, de Marshal McLuhan e da comunicação instantânea especulada por Arthur C. Clarke. O conto "O Contínum de Gernsback" é a forma que Gibson mostra que o futuro limpo da FC dos anos 1930 parece uma propaganda nazista perto da realidade suja e desigual da visão dos ciberpunks.

O segundo capítulo busca trazer luz ao que é ficção científica trazendo o conceito de estranhamento cognitivo/maravilhamento, além de caracterizar como um megatexto com palavras conhecidas (como robô ou nave) mesmo em obras diferentes.

O terceiro capítulo narra uma mudança na forma tradicional de FC dos anos 30-50, a Era de Ouro, onde despontaram nomes como Asimov e Clarke caracterizada pelo foco em áreas "duras" do conhecimento como a física, química e biologia em histórias limitadas ao confronto bem x mal, inspiradas no contexto da 2GM e passando pelo surgimento da New Wave nos anos 1970 onde despontaram Ballard, Ursula LeGuin e Delany, trocando o foco para áreas humanas como a antropologia, linguística e semiótica e tinha histórias multipolarizadas inspiradas no contexto da Guerra Fria e por fim, no movimento ciberpunk, que busca novas formas de especulação contrapondo-se fortemente a FC da Era de Ouro, tendo William Gibson e Bruce Sterling são os principais expoentes.

O quarto capítulo faz um resumo da obra literária de Gibson, onde o autor extrai as principais contribuições conceituais de cada obra. Principalmente Neuromancer, Count Zero e Monalisa Overdrive. Para fazer isso o autor conta também os finais de algumas obras o que é importante para quem não leu algum dos livros doa autor. Como a obra é de 2006, ainda não haviam sido lançadas as sequências que formariam a Trilogia Blue Ant, apenas a primeira (Reconhecimento de Padrões) que é especialmente tratada no capítulo cinco.

Em Reconhecimento de Padrões, o autor a aponta como uma repetição do que Gibson havia tratado em suas obras anteriores mas sem a especulação de uma FC, pois a obra se passa no presente. Por exemplo, a forma de megacorporações (como a Tessier-Ashpool de Neuromancer) é substituída pela pequena empresa Blue Ant, ágil e terceirizadora de staff, diferente do conglomerado que praticamente encarcera funcionários valiosos como em Count Zero. Isso também aparece na protagonista que reúne algumas características de personagens anteriores como Case, Laney, Molly Millions. O autor ainda faz reflexões sobre os fóruns que Cayce frequenta com comunidades na internet que ainda iriam se alastrar nas duas últimas décadas, dando o exemplo da época, o Orkut. As próprias repetições entre as especulações dos primeiros livros e Reconhecimento de Padrões mostram o quanto Gibson influenciou a criação da cibercultura e também como Gibson foi modificado por elas.

Espero não ter distorcido nenhuma reflexão do autor aqui, ao tentar colocar o que li em menos palavras. A monografia que gerou este livro é uma das pioneiras na abordagem da ficção científica na academia, aqui no Brasil e isso deve ser o suficiente para começar a leitura. Então, se você gosta de ciberpunk, cibercultura e não tem medo de uma leitura de não-ficção inteligente recomendo esse livro!

site: http://wilburdcontos.blogspot.com/2020/05/resenha-132-construcao-do-imaginario.html
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