Guerra Justa

Guerra Justa Carlos Orsi




Resenhas - Guerra Justa


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Paulo 11/06/2017

Imaginar o futuro é umas das principais premissas da ficção científica. O gênero cyberpunk surgiu no final dos anos 70 e início dos anos 80 para nos alertar sobre a possibilidade de um futuro pessimista a partir das escolhas feitas pela humanidade. Neste livro, Carlos Orsi apresenta um mundo que depois de sofrer uma catástrofe, se volta para a religião em busca de respostas para restaurar o mundo.

No começo da história, as cidades de Roma, Meca e Jerusalém são destruídas por um meteoro. Subitamente o centro das principais religiões monoteístas do mundo desaparece e deixa os homens sem respostas sobre o porquê disso ter acontecido. No meio disso tudo surge um homem chamado O Pontífice que alega ter tido uma visão meses antes sobre este acontecimento. Na época da catástrofe ele não foi capaz de prever tais acontecimentos, mas agora ele se diz ser o enviado do verdadeiro Deus e se mostra capaz de prever novas calamidades. Surge uma nova ordem internacional a partir do que passa a ser conhecido como A Quinta Revelação. Após esta introdução somos apresentados a uma freira interessante chamada Rebeca que segue em direção a uma estação espacial com o intuito de causar danos ao Pontífice. Por que? O que se esconde por trás das revelações do Pontífice e de sua esposa? A irmã de Rebeca, Rafaela, uma cientista, acaba se envolvendo com uma organização terrorista que a convoca para continuar o trabalho de sua irmã que morre logo após atacar a estação espacial.

Além de escritor, Carlos Orsi faz divulgação científica. Então não é estranho quando ao nos depararmos com os detalhes científicos da história, eles são plausíveis. É assustador pensar que isto pode acontecer em nosso mundo. Basta uma catástrofe no mesmo nível da que acontece na história. O público entra em pânico e o surgimento do Pontífice acaba suprindo as pessoas com a necessidade de encontrar explicações. Se falamos quase sempre em religião e ciência em lados opostos, aqui a religião é usada para encobrir a ciência. O debate sobre a fé presente no livro me levou a refletir sobre o funcionamento da religião na nossa sociedade contemporânea. Em um capítulo do livro, ao conversar com a esposa, o Pontífice desdenha da fé e justifica sua importância ao fornecer às pessoas o bem-estar. Para a sua lógica desviada, é uma troca justa: controlar o mundo para fornecer a paz de espírito.

Lembro que quando eu passei da página 40, eu exprimi um "PORRA... ISSO É CYBERPUNK". Eu estava esperando algo do gênero: uma história que me apresentasse algo pelo qual refletir. Fiquei curioso porque as reações ao livro foram bem distintas. No Skoob, o livro não tem uma nota espetacular, ficando apenas na média. Sinceramente, este foi um dos melhores livros com temática cyberpunk que eu li no ano passado. Essa temática visa a reflexão... se você não é capaz de retirar nada da leitura, ele não se prestou ao seu intuito. Mesmo Neuromancer que eu tanto critico, foi capaz de me oferecer elementos para o questionamento do status quo. Talvez o que tenha desagradado ao público foi a opção de Orsi em se focar na temática e não nos personagens. Ou seja, temos uma narrativa guiada pelas ideias em que os personagens são a forma usada pelo autor para fazer os seus questionamentos. As metáforas apresentadas na história são fascinantes: um computador avançado utilizando o cérebro humano, uma religião cujo chefe religioso é um louco sedento por poder e influência.

Somos apresentados a vários personagens ao longo da história. Aquele que podemos considerar o protagonista é a cientista Rafaela. Achei que ela acreditou muito facilmente em Donato. Apesar de ele impor uma personalidade carismática, não sei se teria me deixado manipular daquela forma. Okay, perdoável. A história é curta e o autor não poderia perder tempo em minúcias da personalidade do seu elenco de personagens. Talvez esta possa ser a única crítica que eu posso fazer na história: a ausência de um aprofundamento maior nos personagens. Isso passa pela opção narrativa do autor e o fato de a história ser muito dinâmica e passar muito rapidamente.

O mundo é bem explorado por Orsi. Nada acontece sem algum tipo de consequência global. Em alguns autores que escrevem romances no gênero eu sinto que existe uma falta da terceira lei de Newton. Ou seja, para toda ação existe uma reação em igual intensidade. Cansei de ver situações onde os personagens realizam alguma grande ação e o universo literário não reage de nenhuma maneira. Aqui a geopolítica reina dominante. Um dos primeiros capítulos do livro serve para nos apresentar a reação de diversos povos do mundo diante da catástrofe e os dias que se seguem. Só assim somos capazes de entrar naquele universo e compartilhar o terror de um meteoro caindo nos lugares sagrados do mundo.

Enfim, adorei a história. Sei que muitos não gostaram justamente por ele ser um livro de ideias. Na minha opinião, o universo é tão rico que ele merece novas histórias dentro dele. Sei lá, pequenos contos ou uma novela. Apesar disso, os leitores podem abraçar a história tranquilamente porque ela é fechada em si. Até existem ganchos a serem aproveitados posteriormente, mas a história tem começo, meio e fim.

site: www.ficcoeshumanas.com
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Emerson.Mistico 21/12/2016

A ideia é boa, mas...
A trama apresentada na história é interessante, mas o autor perde tempo apresentando trechos que não permitem a ligação do enredo. Acaba ficando muito arrastado.
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Marcelo F. Zaniolo 23/04/2014

"Guerra Justa me surpreendeu bastante.

Por ser um livro escrito por alguém ligado a ciência e, principalmente, por envolver em seu enredo religiosos e cientistas propriamente ditos, desde o começo esperei encontrar reflexões e debates sobre fé e razão. Sobre visões diferentes de ditas verdades ou de um mesmo cenário.

Mas o que encontrei, entretanto, superou em muito as minhas expectativas.

Ao longo das 150 páginas de seu título, dotadas de uma leitura rápida, capítulos curtos e variados pontos de vista, Carlos Orsi nos apresenta um universo próprio, repleto de novos conceitos. Aqui, por exemplo, a ciência está mais para irmã da religião do que opositora, validando verdades usadas pela 5a Revelação para prever o futuro e, assim, “dominar” o mundo (...)"

Para continuar lendo, acesse: http://lokotopia.com.br/resenha-guerra-justa/

site: http://lokotopia.com.br/resenha-guerra-justa/
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Humberto Junior 18/12/2013

Muitas Ideias, Pouco Aprofundamento
A obra quer abraçar o mundo com as pernas, mas se perde em sua pretensa grandiosidade. São muitos temas, muitos personagens, mas nenhum deles é aprofundado é explorado a contento. A ideia que a obra passa é a de uma grande colcha de retalhos mal costurada. Acredito que se a obra tivesse se focado numa das ideias e eleito um ou dois personagens para serem centrais numa trama que não se restringisse a 150 página apenas, teríamos um livro bem melhor.


Bárbara 01/01/2013

Carlos Orsi é jornalista e escreve sobre temas científicos. Talvez isso explique toda a parte científica que ele aborda no livro Guerra Justa, que não é seu romance de estreia. Ele também já publicou dois volumes de contos: Medo, Mistério e Morte e Tempos de Fúria, dentre outros romances.

Este livro pode ser considerado - e é - uma distopia. Misturando religião, tecnologia, ciência e um futuro distante, a história bem diferente que Orsi imaginou nos é apresentada.

Augusto denominou-se Pontífice. Ele se diz capaz, e prova a sua capacidade, de prever catástrofes e tragédias e utiliza esse poder para controlar a população mundial.

Todos seguem o que ele diz e o consideram seu novo deus. Mas há, claro, um grupo que não crê nesta história e que não acha certo controlar a população. Com a ajuda da cientista Rafaela e da freira Rebecca, gêmeas idênticas, eles vão lutar uma Guerra Justa com a intenção de acabar com esse culto ridículo e ajudar a população a reconquistar seu livre-arbítrio para escolher e fazer o que achar melhor.

Como eu disse, tudo isso é regado de tecnologia também. Com a descrição dos acontecimentos, no início da leitura você pode se sentir um pouco perdido porque o autor já considera o leitor como parte daquilo e você só começa a entender quando se deixa levar pela história e se vê imerso no conteúdo do livro.

Só não roí as unhas porque elas estavam bem feitas e bonitas. Mas Carlos Orsi utilizou o que sabia para criar uma história inovadora e, posso dizer, muito boa.

O único ponto negativo do livro foram os vários erros de digitação que encontrei logo nas primeiras páginas do livro, nada que atrapalhe no entendimento, mas que deixa um certo desconforto. Acredito que uma revisão mais minuciosa seria suficiente para corrigir tudo isso.
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Sci Fi Brasil 08/08/2012

Mais um fracasso para o sci-fi brasileiro...
Guerra Justa é fútil, demasiadamente infantil, com um futuro pouco crível, personagens rasos e narrativa tresloucada. Os temas que aborda - sobre controle de informação, religião e previsão do futuro - são muito bons. O problema é que ele desenvolve tudo isso de maneira tosca.

Não recomendo tê-lo, nem por curiosidade.
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Flauberth 02/03/2011

Só queria dizer uma coisa: "- Um bom livro de ficção científica não poderia ter apenas 152 páginas.... deveria ter no mínimo umas 500, ou 3 livros."
Guerra Justa deixa você querendo muito mais. A Relação Fé x Razão, Religião X Ciência foi muito bem explorada. Um futuro como descrito no livro seria um "Preço" até razoável para a humanidade dos dias de hoje.
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Marcelo Augusto 31/01/2011

Em um futuro não muito distante, após Meca, Roma e Jerusálem serem destruídas por uma catástrofe natural, uma nova religião surge, liderada por um homem capaz de prever novas tragédias. Mas existe algo de errado nesse culto – e cabe à uma cientista descobrir a verdade por trás das profecias tão certeiras.

Um dos mais talentosos escritores de ficção científica do Brasil, Carlos Orsi tece uma história empolgante, em ritmo de thriller, ao mostrar um culto religioso que usa a tecnologia para controlar seus fiéis e manipular o futuro. Se por um lado o cenário e o tema são atraentes, o mesmo não se pode dizer da personagem principal – a cientista Rafaela está longe de despertar algum tipo de empatia; na realidade, não existe exatamente um protagonista na história, fazendo que certos coadjuvantes – como o caso de Donato, o conspirador que usa da aleatoriedade para driblar o culto que tudo sabe – sejam mais interessantes.

Vendido no lançamento como romance cyberpunk, o livro pode decepcionar os fãs deste gênero, já que existe pouco do cyberpunk clássico nele. Rótulos à parte, é uma ficção científica de ótima qualidade.


(resenha originalmente publicada no blog Galvanizado em 23/12/2010)
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JotaFF 12/08/2010

Carlos Orsi não é nenhum estreante na literatura fantástica nacional. Já publicou os volumes de contos "Medo, Mistério e Morte" em 96, e "Tempos de Fúria" em 2005, entre outros trabalhos. É colunista no caderno de ciências do jornal "Estadão".

"Guerra Justa" é uma ficção científica situada em um futuro não muito distante, quando um meteoro colide com a Terra. Na destruição causada, as cidades-sede das principais religiões do planeta são dizimadas. Do caos instaurado, ergue-se a Quinta Revelação, tornando-se a nova Ordem Mundial, capaz de antever acontecimentos catastróficos com a liderança do Pontífice, a quem Deus revela o futuro. A trama acompanha os "hereges" que lutam contra o absolutismo da Quinta Revelação, que rapidamente apropriou-se dos fiéis e ritos das antigas religiões.

A narrativa é rápida e elegante. A cada capítulo muda o foco entre as personagens. Infelizmente, com capítulos curtos, o autor não se aprofunda nas personagens, o que acaba tirando parte da graça, mas não compromete o desenvolvimento da trama. A formula narrativa, com saltos no tempo entre um acontecimento e outro, lembrou-me algumas obras de Arthur C. Clarke como "O fim da Infância".

Longe de trabalhar as motivações das personagens, o autor estava mais preocupado em nos apresentar o mundo em que se passa a trama. Viajamos do espaço até São Paulo, passamos pelos Estados Unidos, chegamos a Coreia do Norte, voltamos até o México e seguimos até Brunei na Malásia, antes de voltarmos a São Paulo e ao espaço, sempre descrevendo como a Quinta Revelação, e os eventos que antecederam seu surgimento, moldaram a política e a sociedade. Ressalto aqui que o autor poderia ter ido mais fundo em explicar as mudanças climáticas que anuncia com a chegada, e consequente impacto, do meteoro. Fica a sensação de que faltou um pouco.

Como toda ficção científica, a obra comete alguns deslizes ao ser incapaz de antever certos saltos tecnológicos, mas nada que diminua a qualidade do texto.

A trama nos remete a Issac Asimov em a "Fundação" e a psico-história. Outra influência forte é a de George Owell e o totalitarismo de "1984". Ele descreve com segurança o desenvolvimento da neuro-tecnologia, o uso dos "mediadores" e as "coroas de espinho". Não entrarei em maiores detalhes sobre a importância da neuro-tecnologia na trama, para não estragar a surpresa. As vezes a obra tange com o Cyberpunk. O desfecho cumpre bem com a proposta do autor.

O livro funciona como reflexão sobre temas sérios, ao invés de servir apenas como mero entretenimento.

Mesmo com uma visão ingênua sobre o papel da religião como instrumento de controle da sociedade, e alguns deslizes de revisão evitáveis, "Guerra Justa" é livro obrigatório para amantes de Ficção Científica, recomendado para qualquer um. Mais um ótimo livro do catálogo da Editora Draco.

(resenha postada também em http://tocajota.blogspot.com)
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AndyinhA 14/07/2010

Lembra no vídeo que eu disse que lembrava o filme Minority Report? Se não se lembra deste filmezinho de 2002 clique aqui, e a grande sensação dele foi o “poder” que alguns seres possuíam de prever o futuro. Neste romance além deste tema temos também o envolvimento um tanto ‘sinistro’ da religião. Ou seja, junte num mesmo livro religião (que sempre gera controvérsias) e poder prever o futuro e se prepare para algo além da imaginação.

O livro é divido em 3 partes, e nelas vamos acompanhando a personagem de Rafaela que começa a entender o ‘poder adivinhatório’ que quase foi submetida e como suas pesquisas no campo das coroas-mestras eram para algo completamente diferente do que ela acreditava.

Mais em: http://andyinha.blogspot.com/2010/07/poison-books-guerra-justa-carlos-orsi.html
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Allana 12/07/2010

Impressões pessoais - Guerra Justa
Esse post não é bem uma resenha – a resenha propriamente dita você pode conferir no Paragons. Aqui é mais um texto em que eu posso fazer comentários mais pessoais e, talvez, fazer alguns spoilers. Então, estejam preparados. ;D

Guerra Justa é um romance de ficção científica de um autor brasileiro. Esse foi um dos (se não o) principais motivos que me levaram a escolhê-lo para ser o primeiro livro da Editora Draco que eu compraria. Não é novidade para ninguém que eu gosto de ficção científica, apesar de, nem de longe, ser uma especialista no assunto. Sei que seria uma péssima escritora de FC, principalmente porque não gosto nada de ciências exatas ou da natureza. Mas o gênero me interessa e, bem, quando vi o release do livro, o que consegui pensar foi: “Cara, eu tenho que ler isso”.

O romance é assinado por Carlos Orsi, colunista (de, advinhem, Ciência) do Estadão. Na minha humilde opinião, isso dá um pouco mais de “propriedade” ao autor. Não que uma pessoa que não saiba nada de ciência (como eu) não possa escrever FC, mas convenhamos, poder se basear em conhecimento científico real ajuda a dar alguma verossimilhança à estória. Prova disso é a menção, no romance, a um estudo que fala sobre cometas escuros, sem luz. Orsi usa o nome do cientista no livro – eu curiosa, dei um google-fu. E advinhem, o tal estudo existe. O cientista também.

Mas voltando ao romance, o livro é surpreendetemente bom. Sim, as pessoas (eu inclusa) têm preconceito com o que é nacional. Um preconceito, de certa forma, justificado. Sim, temos muitos autores nacionais ruins (como… eu? =D), mas também temos excelentes autores. Não precisamos recorrer aos clássicos da literatura para isso (até porque entre eles, nem todos são bons). Basta saber procurar e dar um voto de confiança.

E voltando (de novo) ao livro, a história se passa em uma Terra em que os grandes centros religiosos foram destruídos por um cometa sem luz. E todo mundo sabe que, após uma grande tragédia, muita gente recorre à fé. E como recorrer, se todas as grandes religiões foram abaladas? Nessa situação delicada, surge a Quinta Revelação, uma nova religião, baseada em preceitos cristãos, que vem com a solução miraculosa: um homem, dotado de centelha divina, se prova capaz de prever o futuro de maneira precisa. Quando e onde alguma tragédia natural – furacões, terremotos, tsunamis – vai ocorrer e, sendo assim, capaz de evitar inúmeras mortes.

Liderada por Augusto, a Quinta Revelação se espalha pelo mundo. Alguns países mais extremistas não se convertem à nova religião, mas a aceitam. Cabe aqui um parêntese para a escolha do nome do personagem (que quase não aparece no livro, mas sua influência fica bem óbvia). Augusto é um dos nomes pelos quais Otávio, imperador de Roma, era conhecido, e entre os significados do adjetivo augusto está… divino. Se isso foi intencional eu não sei, mas que está lá, está. E, sinceramente, não acho que isso tenha sido gratuito.

E todo grande grupo de poder acaba criando inimigos. Surge também um grupo de resistência, liderado por Donato, um personagem muito inusitado. Oras, ele usa um d20 para determinar quanto tempo fica esperando numa lanchonete. Um d20! Quer coisa mais cool que isso, principalmente para RPGistas? =D Claro que tem um motivo coerente na história para isso, mas é legal do mesmo jeito. Donato, junto com outros personagens (que vocês vão ter que ler pra saber quem são, se não perde a graça), articula um plano enorme e de proporções mundiais para desbancar a Quinta Revelação.

E uma dessas peças-chave é Rafaela, cientista especialista em neurociência e adepta da nova religião. Rafaela é irmã de Rebeca, uma freira, que morre em circunstâncias estranhas. Depois que é recrutada por Donato, passa a repensar seus próprios conceitos, o que é bastante enriquecedor ao livro e à personagem, que é uma das mais interessantes.

E por falar em personagens, nem tudo são flores. As personagens do livro são, no geral, fraquinhas. A variedade de pontos de vista é enriquecedora, mas me passou a impressão que, com tanta coisa a se contar, não houve espaço para o aprofundamento de cada um. A história é boa, intrigante e instigante, mas eu não senti empatia real por nenhuma das personagens.

A narrativa, em compensação, é muito rápida, quase vertiginosa. Os cortes de cena fluem naturais, embora os avanços no tempo às vezes aconteçam de maneira muito rápida. E isso dá um ar cinematográfico ao livro, o que é muito legal. Além disso, ele é todo narrado no presente – o que, além de ser incomum, dá um efeito bem diferente.

E claro, tem o trabalho gráfico, que eu penso ser mais mérito da editora. A capa é bem trabalhada, a parte interna também, e isso realmente agrega valor ao livro. Afinal, você não está levando só um monte de páginas com texto para casa, mas sim um livro bonitinho e bem trabalhado. E o papel é amarelo, então nada de dor nas suas vistas. ;D

Em resumo, é um livro que certamente vale a pena ser lido. E de ter na estante. ;]
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Antonio Luiz 03/07/2010

Ficção política e científica
Na literatura brasileira de ficção científica recente, a reflexão sobre o poder político e religioso frequentemente está presente, mas raramente tem um papel tão central quanto no romance "Guerra Justa", de Carlos Orsi, escritor e jornalista.

A trama alterna movimentadas cenas cinematográficas com diálogos e explicações que servem principalmente a dar informação sobre a realidade do século 22, quando uma nova religião, a “Quinta Revelação”, manipula a humanidade por meio de um uso sofisticado de softwares e programação neural. O equilíbrio entre ação e reflexão é bom e o ator soube resistir tanto à tentação de despejar informação desnecessária ao entendimento da trama quanto à de complicar a história com acontecimentos que não fazem avançar o argumento. O leitor não ficará confuso com movimentos que não levam a nada, nem entediado por excesso de informação.

Um ponto fraco é o caráter esquemático dos personagens. Há muitos e o ponto de vista salta muito rapidamente de um para outro, sem dar oportunidade para que mostrem diferentes facetas. A cientista Rafaela dá a impressão de ser uma protagonista nos primeiros capítulos, mas a narrativa logo se afasta dela para só retornar perto do final, depois que ela sofreu uma transformação radical que não acompanhamos. Os personagens não são tratados como individualidades únicas, mas como tipos sociais ou ferramentas para avançar a história e expor ideias. Nada sabemos sobre eles além do essencial para sua função.

É ruim para o leitor interessado na interioridade dos personagens ou em busca de heróis para os quais torcer e desperdiça a oportunidade de explorar o mundo ficcional de um ponto de vista mais subjetivo. Mas não é um pecado mortal na literatura especulativa. Muitas obras de fantasia e ficção científica – as de H. G. Wells, por exemplo – se sustentam bem como romances de ideias e este é claramente deve ser julgado por este viés e não o do desenvolvimento dos personagens. Mas de que ideias se trata aqui?

Tentarei resumir o argumento sem revelar mais que o indispensável para a discussão. O poder da Quinta Revelação baseia-se na capacidade do Pontífice, instalado em uma estação orbital com seus acólitos mais próximos, de prever o futuro com detalhes, que ocupou o espaço vago deixado pela “orfandade espiritual” da humanidade ao ver Meca, Jerusalém e Roma destruídas pela queda de um cometa escuro em certo momento do século 21, a primeira previsão bem-sucedida do novo profeta.A trama gira em torno de uma conspiração contra o poder excessivo da nova Igreja, que permite ou recusa tratamentos médicos segundo sua interpretação da vontade divina, monitora todos os indivíduos por meio de “mediadores”, uma combinação de celular e computador que todos carregam na forma de implantes na cabeça.
Para driblar tanto a vigilância da Igreja quanto sua capacidade de prever o futuro, os conspiradores se baseiam na aleatoriedade. Suas decisões sobre o que vestir, que rota seguir e que ações priorizar são tomadas com lances de dados, para que o poder profético da Igreja não seja capaz de identificar seus padrões de comportamento. Como logo fica claro, o capacidade da Igreja de prever o futuro com precisão – incluindo, por exemplo, o número exato de vítimas de um furacão no Texas – não vem de inspiração divina, mas de um complexo programa de simulação que os conspiradores se esforçam por reproduzir e superar.

À primeira vista, trata-se de um romance cyberpunk: softwares, computadores, programadores, inteligências artificiais e hackers são os instrumentos do poder e dos que o combatem. Mas não se vê, aqui, o tratamento característico da política na versão anglo-saxônica do gênero inaugurado por William Gibson e Bruce Sterling. O cyberpunk clássico envolve fragmentação política, hegemonia do dinheiro e de grandes empresas transnacionais, esvaziamento do Estado e personagens politicamente alienados, sem nenhuma visão crítica ou global das questões que os envolvem e das forças que os usam, preocupados apenas com seus projetos pessoais, se não apenas com sua sobrevivência imediata.

Pelo contrário, vê-se aqui uma teocracia mundial em relação à qual os governos nacionais se portam como agências policiais e executivas locais. Os personagens principais são ativistas politicamente conscientes que são obrigados pela própria natureza da situação a pensar a totalidade: tanto manter quanto tomar o poder dependem de programas capazes de processar e interpretar a realidade social nos mínimos detalhes.

Mais visível é a influência da concepção do totalitarismo em George Orwell. Trata-se, também neste romance, de falsificação da realidade e controle das consciências por um poder absoluto e um personagem-chave é uma cientista que, como o Winston Smith de 1984, acredita no sistema e participa do trabalho de manipulação até ser cooptada por uma organização que combate o poder da versão cibernética e espacial do Grande Irmão. Mas a sofisticação tecnológica é muito superior: enquanto Winston se limitava a eliminar e reescrever documentos oficiais, Rafaela estuda a manipulação do cérebro humano por meio de softwares. E o poder não reside, desta vez, em um Partido todo-poderoso e sim numa Igreja. Mostra ser uma obra posterior ao 11 de setembro, quando o espectro do fundamentalismo teocrático – muçulmano ou evangélico neoconservador – fez esquecer o do totalitarismo político.

Uma influência menos óbvia, mas ainda mais importante é a de Isaac Asimov, que na série Fundação imaginou a psico-história, ciência por meio da qual seria possível prever com exatidão o desenvolvimento da história da humanidade e manipular seus rumos e em muitas histórias escreveu sobre inteligências artificiais que eventualmente superariam as humanas e acabariam por governá-las para seu próprio bem. Também estes temas estão presentes.

Combina-se um cenário tecnológico cyberpunk, típico da ficção científica dos anos 80 e 90, com especulações políticas mais típicas dos anos 50, embora reanimadas pelo contexto do ressurgimento do fundamentalismo dos anos 2000. A combinação funciona, do ponto de vista da coerência interna do romance, mas deixa uma certa sensação de anacronismo.

A ideologia da moda da idade de ouro do cyberpunk era o neoliberalismo, que o gênero frequentemente radicalizava em um anarco-capitalismo libertarian. O clima era de extremo caos informatizado dos mercados, das empresas e dos egoísmos individualistas, não de ordem extrema. Mas não é só questão de infidelidade às raízes do gênero: é que o romance e suas ideias sobre controle, governo e conhecimento parecem desprezar a teoria do caos, apesar de tudo de tantos livros de ficção e popularização científica a terem discutido desde 1972, quando Philip Merilees perguntou se o bater das asas de uma borboleta no Brasil pode desencadear um tornado no Texas.

Desde o alvorecer da ciência moderna, teorias e máquinas nos acostumaram a pensar que prever (e controlar) o futuro é possível se tivermos informação suficiente, teorias adequadas e tempo suficiente (ou computadores suficientes) para processá-la, mas a matemática tem demonstrado que não é bem assim.

Alguns sistemas são de fato deterministas: dada informação correta e suficiente sobre seu estado, é possível prever sua evolução. Pequenos erros ou incertezas sobre a informação resultam apenas em pequenos desvios da predição, que podem ser facilmente corrigidos e calibrados. Naturalmente, a maior parte dos esforços da ciência, da engenharia e da teoria clássica da organização são dirigidos a descobrir e criar sistemas que sejam de fato deterministas, passíveis de predição e controle.

Mas muitos fenômenos decisivos para a natureza e a sociedade dependem irremediavelmente de sistemas caóticos, nos quais o desenvolvimento dos acontecimentos é radicalmente alterado por pequenas diferenças nas condições iniciais, como a borboleta brasileira da metáfora. A margem de incerteza quanto aos dados iniciais – inevitável, até porque as medições, em última análise, estarão sujeitas à indeterminação quântica – basta para garantir que os acontecimentos rapidamente divergirão das predições teóricas. Não importa quão rica seja a informação, quão exatas sejam as teorias e quão sofisticados sejam os computadores: tudo isso, no máximo, amplia um pouco o âmbito das previsões confiáveis, com retornos rapidamente decrescentes em relação ao investimento. E o tamanho do sistema ou da sociedade não a torna mais previsível, ao contrário do que Asimov pensava. Assim como a meteorologia mundial é mais caótica e imprevisível que a de um quarto fechado, os mercados mundiais abertos provaram-se mais caóticos e incontroláveis que mercados nacionais relativamente isolados.

O romance Guerra Justa tem por epígrafe uma citação do Marquês de Laplace, de 1796: “Afastemo-nos da perigosa máxima de que às vezes é útil enganar, fraudar e escravizar a humanidade, para fazê-la feliz”.
Mas há outra passagem de Laplace que, sem ter sido lembrada, é igualmente importante para o livro: “Um intelecto que, em dado momento, conhecesse todas as forças que dirigem a natureza e todas as posições de todos os itens dos quais a natureza é composta, se este intelecto também fosse vasto o suficiente para analisar essas informações, compreenderia numa única fórmula os movimentos dos maiores corpos do universo e os do menor átomo; para tal intelecto nada seria incerto e o futuro, assim como o passado, seria presente perante seus olhos” – é a negação do livre arbítrio e da indeterminação e talvez não seja apenas por acaso que tenha sido escrita em 1814, depois que o caos e as possibilidades aparentemente ilimitadas abertas pela Revolução Francesa de 1789 haviam sido recapturadas pelo autoritarismo napoleônico e, logo em seguida, pela restauração da monarquia.

Tanto o vilão quanto os heróis de Guerra Justa querem ser demônios de Laplace, esses impossíveis intelectos teoricamente oniscientes. O curioso é que Orsi, sendo um jornalista especializado em temas científicos, não pode ignorar as descobertas que desde 1814 refutaram as suposições do Marquês – não só a entropia, a teoria do Caos e a mecânica quântica, como também as demonstrações teóricas dos limites da computação.

Daí a sensação de anacronismo: é como se o romance quisesse esquecer tudo isso. Voltar a um tempo no qual a vida e a história pareciam mais previsíveis e o progresso parecia suficientemente determinístico e regular para que nos fosse possível prever para onde nos levava. Expressa nostalgia, se não do positivismo vitoriano, ao menos do clima da Golden Age da ficção científica dos anos 30 aos 50 (anglo-saxônica ou soviética: nesse aspecto tinham muito em comum) que, em geral, apontava para um futuro ideal de crescente conhecimento e controle da natureza, educação científica e racional, prosperidade crescente, conquista do espaço e tecnocracias sábias e benevolentes, livres de conflitos e de movimentos políticos imprevisíveis.

Por sinal, quando a cientista sugere paralisar o sistema da Igreja e dizer a verdade às massas, a liderança da conspiração recusa: “rodamos essa simulação e o resultado é aterrador. Algumas pessoas perderiam totalmente a confiança em leis e governos, outras abraçariam fanaticamente o dever de morrer e matar pela fé. Seria o início de uma onda incontrolável de revoluções e contra-revoluções, guerras santas e progroms”. A conspiração concorda com a Igreja no essencial: esses primatas não são capazes de se governar, o despotismo é necessário. Apenas pretendem que seja benévolo e esclarecido, que não inflija sofrimentos inúteis, que seja compassivo e não mesquinho e ciumento. Querem mudar o sistema “devagar e com cautela” – quase literalmente repetindo o “lenta, segura e gradual” de Golbery do Couto e Silva.

A sugestão de distopia da maior parte do romance é enganosa: no fim das contas, o assunto é a utopia. Não é uma advertência contra os riscos de possíveis desenvolvimentos políticos ou tecnológicos, como o Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley ou Fahrenheit 451 de Ray Bradbury, mas uma história na qual a Ordem e o Progresso escrevem direito por linhas tortas. Uma utopia conservadora, pois não esconde a desconfiança em relação à democracia e seus inevitáveis conflitos de interesses, depende do despotismo esclarecido de inteligências naturais ou artificiais e acredita na capacidade destas de definir o bem comum para todos, mas ainda assim é uma utopia.

É uma obra interessante ao menos por repor essa discussão, mesmo se a proposta implícita é bastante questionável. Como gostava de escrever o jornalista estadunidense H. L. Mencken, para todo problema complexo há uma solução simples, clara e errada. Em um tema no qual a complexidade está no próprio cerne, o romance desemboca em uma saída, no fim das contas, nostálgica e impossivelmente simplista. Não há como prever o futuro de um sistema intrinsecamente não-determinista, nem uma medida objetiva do bem.

O romance também se mostra simplista no tratamento da religião. Assim como certos fundamentalistas religiosos, veem na teoria da evolução uma conspiração diabólica para ocultar a criação e a verdade literal da Bíblia, o livro parece ver a religião como uma invenção arbitrária de líderes cínicos para explorar as massas e fazê-las sofrer. Subestima a amplitude e profundidade das raízes do fenômeno, como se vê na própria premissa da história, na qual as religiões atuais são facilmente varridas por um desastre natural. É como se vivesse do arbítrio das lideranças e não da capacidade de tornar suportáveis as ansiedades e os sofrimentos inevitáveis (seja com compensações imaginárias ou metafísicas, seja com assistência social real), fossem todas rigidamente centralizadas (quase só a Igreja Católica segue esse modelo) e o mundo inteiro girasse em torno de Meca, Jerusalém e Roma, quando bilhões de hindus, budistas e outros seguem tradições independentes. No romance, até a China, onde as chamadas religiões abraâmicas nunca tiveram importância, se submete à “Revelação” do suposto sucessor de Moisés, Jesus e Maomé.

A ecologia também tem um tratamento um tanto superficial. Diz-se que o mundo atingiu uma população de dez bilhões e o clima foi alterado, mas não se veem efeitos disso. Pelo contrário, cenas importantes se dão em cenários de natureza aparentemente intocada – inclusive em um atol do Pacífico que deveria ter sido um dos primeiros a ser submerso pelo aquecimento global.

Insista-se, porém, em que a obra tem o mérito de ter compreendido que a ficção não é apenas fuga da realidade ou passatempo, mas também uma maneira de especular com todos os aspectos da vida e principalmente os mais sérios, como o amor, a morte, a religião e a política. Hollywood nunca hesitou em, bem ou mal, tratar de questões políticas até nas produções mais comerciais – Avatar é um manifesto ecologista, Distrito 9 fala de racismo e migração, Star Trek defendeu valores da esquerda liberal e Star Wars os de um conservadorismo messiânico. Só autores muito ingênuos acreditam em produzir “puro entretenimento”. Carlos Orsi, com certeza, não é um deles.
FrankCastle 06/06/2013minha estante
Parabéns pelas suas resenhas, vários livros de Ficção Científica que busco tem resenhas suas. Este livro está em promoção na Amazon, já conhecia alguns contos do Carlos Orsi, mas não sabia nada desta obra. Acabei de comprá-lo. Um grande abraço!


JCarlos 24/07/2017minha estante
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