Lorena.Mireia 29/06/2022
Páginas de prosa poética
Cá estava eu de férias, numa manhã de quarta-feira limpando minha estante e espanando os livros, quando me deparo com este livro lido há pouco mais de um ano. Vejo dezenas de páginas marcadas com post it, vou relendo as citações, e resolvo ir além explorando algumas páginas não marcadas, e me deparo com excertos ainda mais formidáveis, de modo que fico ruminando o motivo de não os ter destacado. Em um desses trechos, Bernardo Soares (uma das vozes do exímio poeta Fernando Pessoa), devaneia sobre suas gavetas literárias nas quais afirma não reconhecer seu eu de dez anos atrás. Identifico-me com ele no mesmo instante, pois eu mesma hoje não reconheci a leitora de um ano atrás que atribuiu apenas duas estrelas a uma obra em que praticamente toda a sua extensão traz consigo reflexões demasiado interessantes sobre a vida, acrescidas de uma sensibilidade ímpar.
Minha única ressalva reside no fato do eu lírico apresentar um viés niilista, do qual discordo plenamente. Contudo, para me redimir da avaliação precipitada e injusta, venho reclassificar a leitura e fazer menção às linhas de desassossego cuja beleza outrora não descobrira e que hoje (29/06/22) reluziram diante de meus olhos. Eis abaixo:
?Se penso, é porque divago; se sonho é porque estou desperto. Tudo em mim se embrulha comigo, e não tem forma de saber de ser.?
?A arte tem valia porque nos tira de aqui.?
?A vida com todas as suas dores e receios e solavancos deve ser boa e alegre, como uma viagem em velha diligência para quem vai acompanhado (e a pode ver).?