Patrick 30/01/2019
O Teste do Tempo
Não há dúvidas de que, no ramo literário e cinematográfico, poucas são as obras do gênero terror mais influentes do que “O Exorcista”, de William Blatty. Escrita em 1971, a obra estimulou a criação de diversos outros livros e filmes, além de popularizar muitos elementos que se tornaram icônicos e, de certa forma, clichês nos anos vindouros.
A história é bastante famosa: Chris MacNeil é uma atriz de cinema divorciada que, no auge da carreira, vê sua filha, Regan, apresentar estranhos sintomas. Relatos de um amigo imaginário, chamado Howdy, mudanças no comportamento e na personalidade, alteração na voz e outros fatores fazem Chris procurar todas as ajudas possíveis. Porém, nem médicos nem psicólogos parecem chegar a alguma conclusão. Seria esse um caso de possessão demoníaca?
Um dos pontos altos do livro está na dicotomia: o que Regan tem é possessão ou um caso grave de distúrbio mental? Blatty faz um ótimo trabalho na hora de manipular as suspeitas do leitor em boa parte do livro. Destaca-se, também, os diálogos, que sempre demonstram a personalidade de cada personagem e parecem apropriados às situações no livro.
Outros personagens aparecem no decorrer da história: Burke Dennings, amigo e diretor de alguns filmes encenados por Chris; Sharon, auxiliar e professora particular de Regan; Karl, mordomo calado e misterioso da família; Kinderman, detetive sagaz que nunca vai direto ao ponto em suas entrevistas e, principalmente, Karras, personagem que tem sua importância cada vez maior à medida que a história avança e um conflito interno muito interessante de se acompanhar: a dúvida sobre sua própria fé.
Porém, o livro também comete alguns deslizes. Primeiramente, o leitor sabe com relativa precisão para onde a história vai se encaminhar, ou seja, há poucas reviravoltas ou mudanças impactantes na trama. Algumas cenas também parecem ter pouca ou nenhuma relevância para a continuidade da história. Além disso, o arco envolvendo Kinderman é pouco desenvolvido, pois suas aparições com outros personagens prometem alguma descoberta ou conclusão que possa abalar os ânimos dos leitores. Contudo, ao final da leitura, a sensação que fica é a de um leve desperdício em relação ao potencial do personagem.
O Exorcista é um livro icônico do terror. Apresenta excelente ritmo, além de não ser nem apressado nem arrastado, conter uma trama envolvente e temas abordados com profundidade – sem se tornarem entediantes. Apesar dos pormenores, a leitura flui bem e, no fim, a obra de Blatty se sustenta no teste do tempo como referência do terror, mesmo décadas após seu lançamento.