Raphael 29/06/2020
Resenha O Exorcista (livro)
Durante muitos anos não tinha ideia de que o filme, mesmo sendo um dos favoritos da minha vida, havia sido baseado em um livro, de mesmo nome, lançado em 1971 por William Peter Blatty. A história é exatamente a mesma, e concentra-se na vida de Chris MacNeil, uma famosa atriz de Hollywood que está vivendo temporariamente em Washington DC com sua filha Regan, de 12 anos, para a gravação de um filme. A vida das duas vai muito bem até que Regan inicia uma mudança brusca de comportamento que escala até o ponto de considerar que a garota esteja possuída por um demônio.
Diferentemente do filme que possui uma ideia mais direta, o livro não assume logo de início que Regan esteja possuída por um espírito maligno, e inclusive, a questão do que realmente está ocorrendo pode ter mais de uma interpretação. É interessante que durante a investigação médica e ao longo de todo o desenrolar da trama, são apresentadas quais são as possíveis interpretações do ponto de vista da medicina e da psicologia que expliquem uma possessão demoníaca.
No meu ponto de vista, fica um pouco difícil analisar o livro sem compará-lo ao filme, devido ao seu enorme impacto que é relevante até hoje. Obviamente são obras distintas, mas que a meu ver se complementam em muitos aspectos. Enquanto o filme foca no horror, no sobrenatural e no exorcismo em si, o centro do livro são seus personagens, e principalmente o padre Damien Karras. O livro é dele e sobre ele. O autor nos leva a sentir toda a carga de sofrimento que Damien carrega consigo, seja em relação aos seus próprios conflitos internos, sua falta de fé e o peso da responsabilidade e do dever que toma para si de ajudar a salvar uma garota que sofre de um mal que muitas vezes vai além de sua compreensão. Damien é um personagem intenso, atraente e é maravilhoso poder conhecer um pouco mais de suas nuances através do livro, algo que no filme não é possível por motivos de tempo. Outros personagens também merecem destaque, como o casal de idosos que trabalham na casa de Chris, Karl e Willie, que no livro possuem um destaque muito maior, e é claro, o tenente Kinderman, que assim como no filme, é o alívio cômico para uma história tensa e proporciona momentos mais leves com suas divagações sobre a vida.
A pergunta que muitos devem fazer ao cogitar ler O Exorcista é: será que assusta tanto quanto o filme? Minha resposta é que definitivamente sim, assusta, ou melhor, perturba, e muito. O livro segue durante todo o desenvolvimento a atmosfera tensa e pesada que causa um certo incômodo e a sensação de que há alguma presença estranha pairando ao redor. Há algumas passagens que não estão presentes no filme e que causam arrepios, demandando pausas para a retomada de fôlego. Muitos dos que assistiram ao filme antes da leitura já possuem várias referências gráficas para algumas passagens, e inclusive todas as partes mais perturbadoras, violentas e chocantes vistas no filme estão presentes no livro, no entanto, com um nível de descrição muito maior. Referências gráficas reais, somadas a escrita detalhista de William Peter Blatty e a imaginação de cada leitor deve produzir resultados interessantes para quem gosta de sentir medo. Por mais que o enredo de O Exorcista seja amplamente conhecido por aqueles que já assistiram ao filme, ou por aqueles que não simpatizam com filmes de terror e nunca conferiram nada da história, a leitura do livro sem dúvidas é uma experiência única e que vale muito a pena.