Lola444 12/09/2020Aterrorizante e profundoDiferente da obra cinematográfica inspirada nele, o livro "O Exorcista" é muito mais sobre a natureza humana e a fé do que sobre qualquer fenômeno sobrenatural, e acho que foi isso que me cativou mais.
Inicialmente, temos um padre (e psiquiatra) Karras cuja fé se encontra balançada, após a perda da mãe de forma traumática o padre não sente mais a mesma conexão que antes sentia com Deus, e carrega com ele esse pesar no coração, a cada missa ele se sente mais vazio e sem propósito. Karras definitivamente rouba a cena, é o personagem mais memorável e, ao contrário do que parece no filme, ele é o protagonista da história e não a Chris e a Regan (pelo menos na minha percepção).
A vida de Karras e da família McNeil se cruza após a garotinha Regan apresentar sinais de possessão (e sua mãe, Chris, esgotar todos os recursos humanos possíveis para curá-la de uma possível doença), daí então o livro vai por um caminho que eu me surpreendi imensamente, pois é muito mais que uma literatura de terror, embora o leitor sinta o frio na espinha e o desconforto característico de uma leitura do gênero, mas ele nos leva a uma viagem na mente humana, o quanto temos capacidade de ir longe quando acreditamos em algo e, afinal, o que difere o que é real ou não quando nossa mente decide por ela própria sua verdade?
A dualidade levantada sobre a interpretação do que de fato estava acontecendo com Regan pra mim é a magia do livro, que diferença faz se ela estava possuída ou não, já que ela acreditava estar e agia como tal? Assim como que diferença faz se existe um Deus ou não, quando uma pessoa crê e sente seu coração acalentado ao orar a Ele, ou quando está sofrendo e se sente consolada pela existência de uma entidade com poder maior que pode lhe tirar aquela dor? Pois bem, o real e o imaginário é uma questão de perspectiva.
O livro inteiro nos entrega divergentes pontos de vista, explicações, possibilidades, deixando na mão do leitor escolher o que melhor se encaixa com sua ideia de realidade, porém, a maior mensagem que o livro passa, na minha opinião, é sobre a habilidade humana de ter fé, seja no que for, e a fé tem muito pouco a ver com verdades ou mentiras e muito mais com a perspectiva de cada um, pois a mente humana é quase ilimitada em sua capacidade quando esta acredita em algo, portanto, a fé, literalmente, pode mover montanhas. Se quem move é a crença ou o objeto dela? Não importa. O que importa é que move.
"O Exorcista" é uma obra prima e merece ser lido mesmo para aqueles que já assistiram inúmeras vezes ao filme, pois apesar de ser relativamente fiel, a profundidade da discussão abordada nas páginas não foi levado para tela, que decidiu focar no terror sobrenatural puramente. Ainda que ambas obras sejam ótimas, a dinâmica é diferente e se eu tivesse que escolher eu diria que o livro é melhor.