Renata CCS 03/05/2018Colo de avó e cheiro de mato..
“Hei mulher, o grito, a força, união, perseverança, lutar, vencer, saber, viver, fé, compaixão, amor no coração!”
- Negra Li
Jeannette Walls tem o dom de nos transportar para dentro de suas histórias em um abrir de páginas e nos apresentar às pessoas retratadas em seus livros, fazendo-nos sentir como parte da vida delas. Foi o que aconteceu comigo: um prazer imenso conhecer Lily Casey Smith, a avó materna de Jeannette e peça central de seu segundo livro, CAVALOS PARTIDOS.
Assim como em seu primeiro livro, a autora nos presenteia com um texto simples, preciso e envolvente, com o humor e carisma costumeiros. O livro é uma biografia que teve como base as lembranças de familiares e da própria autora. Por não ter sido narrado pela própria Lily e ter diversos pontos da história criados pela autora, ela decidiu que o mais honesto seria caracterizá-lo de romance.
Na obra, narrada em primeira pessoa, Lily nos conta a sua história, porque, conforme relatado pela própria autora, “queria captar a voz peculiar dela”, da qual tão bem se lembrava. Originalmente, Walls iria escrever sobre a infância de sua mãe, Rose Mary Smith Walls, mas foi convencida por ela de que sua avó havia tido uma vida bem mais interessante, e que o livro deveria ser sobre ela.
A vida de Lily é muito rica e tocante, sua história de vida realmente rendeu um ótimo e envolvente livro. Ela era a filha mais velha de uma família de fazendeiros originários do Arizona e residente ao oeste do Texas. O pai de Lily tinha problemas de locomoção e precisava de toda ajuda possível em suas terras. Desde cedo, ela aprendeu o duro trabalho de cuidar da propriedade e de doma de cavalos, já que o irmão não tinha o menor jeito (ou vontade) de ajudar nas tarefas. Nos planos de sua mãe, Lily deveria ter uma educação formal e se casar, mas Lily queria muito mais que isso e, embora não tenha conseguido concluir os estudos, com seu bom desempenho escolar, torna-se professora com apenas 15 anos, já que em período de escassez de profissionais qualificados durante a 1ª Guerra Mundial, eram admitidos professores sem formação. Mas em seu trajeto, ela não foi apenas professora: também foi amazona, aprendeu a dirigir e a pilotar aviões, vendeu bebida ilegal durante a Lei Seca e foi uma exímia jogadora de pôquer, chegando a tirar o salário de vários homens com quem jogou. Mas não pense que foi fácil para uma mulher conquistar isso tudo naquela época: muito suportou de pessoas que não aceitavam essa conduta de uma mulher. Lily passou por dificuldades, preconceitos, enfrentou decepções, secas e inundações e perdeu pessoas que amava, mas nem por isso desistiu de viver a vida como queria.
O livro é fascinante e traz uma protagonista com garra, coragem e espírito desbravador, e com ousadia de sobra para lutar pelos seus sonhos e dar uma vida digna para sua família.
Rose Mary tinha razão: a vida de Lily rendeu um livro e tanto!