Italo Bernardo | @wesleyliterario 11/03/2020Não é tão suspense, mas vale muito a pena"Há pessoas que esperam pelo amor, o AMOR em letras maiúsculas, e não se dão por satisfeitas até encontrá-lo. Há os que desistem, porque não o encontram. Oito ou oitenta ? tudo ou nada. Por fim, há aqueles que se conformam, provavelmente a maioria. E acho que nós é que somos os sensatos. Porque amor nem sempre significa longevidade."
Todos os anos um antigo grupo de amigos se reúne no réveillon para comemorarem juntos e celebrarem a amizade tão duradoura. Curtindo um luxuoso chalé extremamente aconchegante nas altas terras escocesas os amigos se veem presos uns aos outros e talvez o sentimento que os mantém unidos por tanto tempo não seja mais o mesmo. Aquele encontro tinha tudo para ser inesquecível, mas eles não esperavam que fosse inesquecivelmente brutal quando um deles é assassinado.
Vendido, anunciado, divulgado como um suspense no melhor estilo Agatha Christie, me contento em ter lido sem essa expectativa, pois senão minha leitura teria sido decepcionante. A obra se detém mais no desenvolvimento psicológico dos personagens, revelando que eles presam muito mais por aparências para manter uma relação que já acabou do que se mostrarem verdadeiramente. Narrado entre passado e presente, podemos acompanhar a história nos dois planos e sob perspectivas alternadas o que é bastante positivo.
O suspense se desenvolve no segundo plano (presente) sob o olhar de Heather e Doug, pessoas responsáveis pelo chalé. No início a história é um pouco lenta, mas a narrativa melhora de ritmo quando o assassinato é descoberto, e o leitor inicia uma busca insana por respostas, já que Foley foi bem inteligente em não revelar sequer o gênero da vítima, nos fazendo ansiar por descobri o quanto antes quem foi e o que causou sua morte. A partir de algumas revelações já no final do livro o desfecho criminal se torna previsível, porém não achei que isso tirou toda a boa construção do enredo.
Por mais que achemos conhecer bem alguém, cada pessoa só revela o que acha necessário o outro saber e confiar cegamente pode acabar conosco. Não vale a pena manter um relacionamento (seja qualquer tipo) apenas pelos momentos bons ficados para trás, se não se identifica mais e o laço que unia já não serve, é melhor seguir em frente por caminhos diferentes do que manter uma ligação por aparência e conveniência. Bom mesmo é ter maturidade para notar que a relação chegou ao fim para não desgastar ainda mais a mente e o emocional, esse grupo de amigos mostrará quando bons sentimentos são transformados em uma convivência tóxica, que adoece.
"A Última Festa" é uma obra dinâmica, com um desenvolvimento satisfatório, cujo personagens revelam o que existe por trás das máscaras que moldaram ao longo dos anos. Não espere encontrar um suspense arrebatador ou uma obsessiva investigação, porém se permitir conhecer essa obra trará um ótimo entretenimento e uma relevante discussão a cerca dos relacionamentos afetivos que desenvolvemos.
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"Mesmo quando riam, se cutucavam e se provocavam, eu sentia que havia algo nas entrelinhas ? algo estranho. Às vezes eles pareciam atores num grande show, encenando que estavam se divertindo muito."