Verão

Verão J. M. Coetzee




Resenhas - Verão


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Mag 21/05/2010

O primeiro Coetzee a gente nunca esquece!!
Este é o terceiro livro de uma série autobiográfica intitulada "Cenas da vida na província".

Para mim não foi necessária a leitura dos livros anteriores para que eu tivesse uma plena compreensão deste.

Me chamou a atenção o fato de ser uma ficção autobiográfica escrita em terceira pessoa. (Depois me chegou a informação de que esta é uma marca do escritor).

A narração é feita a partir de entrevistas realizadas por um jornalista em busca de informações para escrever uma biografia do escritor J.M.Coetzee logo após sua morte.

A partir dos relatos de uma prima, uma ex-amante, um colega de trabalho, entre outros, passamos a conhecer um homem nada familiarizado com questões sentimentais, descrito muitas vezes como um sujeito frio, passivo e desprovido de masculinidade.

As opiniões dos entrevistados vão esboçando o que na verdade é uma auto-crítica detalhada, já que o autor se utiliza destas vozes para construir uma autoficção. E Coetzee faz isso com maestria!!!

Com uma escrita muito fluente e passagens que oscilam entre o trágico e o cômico, "Verão" também expõe na medida certa o contexto político-cultural da Africa do Sul na década de 70.





"Como pode alguém ser um grande escritor se é apenas um homem comum? Sem dúvida é preciso ter uma chama interna que nos diferencie das pessoas que andam na rua. Talvez nos livros dele, quando se lê, dê para ver essa chama. Mas para mim, nas vezes que estive com ele nunca senti fogo nenhum. Ao contrário, ele me pareceu - como posso exprimir isso?- morno."
Paula 21/05/2010minha estante
Ótima resenha, Mag! Coetzee é tudo de bom mesmo! bjs


Margot 22/05/2010minha estante
Quero ler!


Julyana. 14/07/2010minha estante
Mesmo tendo entendido não deixe de ler Infância e Juventude não...




Alexandre Kovacs / Mundo de K 29/08/2010

J.M. Coetzee - Verão
Editora Companhia das Letras - 275 páginas - Publicação 2010 - Tradução de José Rubens Siqueira.

Muitos autores contemporâneos já lançaram autobiografias onde não conseguimos discernir realidade e ficção, incluindo o português António Lobo Antunes e a brasileira Tatiana Salem Levy para citar apenas dois exemplos, até aí nada de novo no ramo da literatura, existe até um termo cunhado para isto: autoficção. No entanto, John Maxwell Coetzee, original como sempre, está um passo além neste livro, última parte da trilogia iniciada com Infância e Juventude, não apenas escrevendo na terceira pessoa, mas também abordando a sua própria biografia do ponto de vista existencial e não de suas obras, sendo que desta narrativa emerge não o grande escritor, premiado com o Nobel de literatura, mas sim um ser humano com muitas limitações e dificuldades de relacionamento, seja com a própria família ou na área afetiva.

Coetzee utiliza o recurso de entrevistas feitas pelo personagem-biógrafo Vincent e trechos autobiográficos, que abrem e encerram o livro, pretensamente extraídos de cadernos do próprio autor, colocado como "falecido" em 2006, cobrindo o período de repressão política do apartheid na África do Sul dos anos 70 e que marca o retorno de Coetzee dos Estados Unidos, anterior à sua consagração como escritor. As entrevistas são feitas com cinco pessoas que tiveram um relacionamento próximo com o autor: Julia, sua vizinha na Cidade do Cabo, Margot sua prima com quem conviveu desde a infância, a brasileira Adriana, dançarina e mãe de uma de suas alunas e dois colegas professores, Martin e Sophie.

Apesar da oportunidade de uma abordagem múltipla que esta escolha narrativa permite, Coetzee se define através de todos os seus personagens, como um ser humano sem interesse, assexuado e de difícil convivência. Segundo Julia, com quem ele teve um caso: "John não era feito para o amor, não era constituído assim, não era constituído para se encaixar ou ser encaixado. Era como uma esfera. Como uma bola de vidro. Não havia como se conectar com ele." ou ainda nas palavras da brasileira Adriana: "Ele é um homem fraco e un homem fraco é pior do que um homem ruim. Um homem fraco não sabe onde parar. Um homem fraco é incapaz diante dos próprios impulsos, vai onde eles mandarem.".

Mas é de fato surpreendente quando o próprio Coetzee, apenas um coadjuvante nesta narrativa, faz coro com os seus personagens no seguinte trecho de seus cadernos onde comenta em terceira pessoa a relação com o pai: "No departamento risadas, ele é o último da classe. Um sujeito melancólico: deve ser assim que o mundo o vê, se é que já o tenha visto alguma vez. Um sujeito melancólico, um desmancha-prazeres; um chato de galochas.". É impossível saber o que temos de real ou de ficção neste romance, mas isso realmente não é importante quando temos um texto de Coetzee em mãos.
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jota 15/08/2012

Biografia pelo avesso
Não tem jeito: J. M. Coetzee vicia - li as 50 páginas iniciais de Verão de uma tacada só. Se Infância e Juventude prendem demais a atenção, claro que não podia ser diferente com o último volume da trilogia.

Mas este livro tem algo a mais: John (J. M. Coetzee), Prêmio Nobel de Literatura de 2003, está morto e um jovem biógrafo inglês (Vincent) trabalha num livro sobre ele, exatamente como está na sinopse. É uma biografia ao contrário, se me entendem. Recheada de metalinguagem – prato saboroso demais para quem gosta de se alimentar com literatura de qualidade.

Através de cadernos de anotações e entrevistas com pessoas que conviveram com Coetzee, o biógrafo tenta reconstituir a vida do autor sul-africano, mesmo sem tê-lo conhecido. E temos uma ficção autobiográfica bastante divertida (mas também amarga às vezes), com Coetzee em papel duplo, de autor e personagem.

As anotações dos cadernos, as iniciais, que envolvem o período de 1972-1975 tratam, a maior parte do tempo de sua vida junto ao pai viúvo (Jack Coetzee) logo depois de seu retorno (dele, John) dos EUA. Prendem-se a coisas rotineiras e até mesmo a sua dificuldade de se relacionar com um casal que se muda para as proximidades. John revela-se apolítico, mas não deixa de mencionar a violência na África do Sul, o apartheid.

As anotações finais, mais curtas, chamadas de “fragmentos sem data” dizem respeito quase que especialmente ao pai, antes debilitado pela bebida e pelo fumo e agora por um câncer de laringe. E os cuidados de John para com ele.

As entrevistas realizadas por Vincent, o biógrafo, envolvem Julia (uma amante de Coetzee por algum tempo), Margot (uma prima sua), Adriana (uma brasileira vivendo na África do Sul na década de 1970, por quem ele teria se apaixonado), Martin (um colega acadêmico para quem John perdeu uma cátedra universitária) e Sophie (professora universitária francesa com quem lecionou e teve um caso).

Todos eles relatam a Vincent suas experiências com John. Disso sai um retrato que me pareceu bastante desfavorável ao homem e ao amante (ele ainda não era um escritor tão conhecido e premiado). E como se trata de ficção autobiográfica não importa que tudo seja verdade ou mentira ou uma mistura de ambas. Importa que o texto nos prende a atenção, nos interessa. É isso que se dá.

Embora uma certa estranheza de comportamento de John (certa dificuldade de conviver e se relacionar com outras pessoas) esteja presente em todos os relatos e pela insistência do próprio autor nesse ponto, somos levados a crer que seja mesmo verdadeira. Daí não estranhamos que sempre tem alguém perguntando se John é homossexual ("moffie", em africânder), - as mulheres especialmente - mas isso não parece proceder nem incomodá-lo, claro. Senão não teria colocado isso no livro, obviamente.

Desse modo, as confissões parecem sinceras, nem tudo parece inventado pelo talentoso escritor de ficção que Coetzee efetivamente é. E de tudo que li em Verão, a entrevista com a brasileira Adriana me pareceu a melhor parte, a mais engraçada (Coetzee se dá muito bem no papel das mulheres todas, não apenas de Adriana ou Julia). Senso de humor é o que não falta no livro. Não humor para rir, que ele é contido, mas para refletir.

Por fim, as últimas páginas estão repletas de amargura. Como a vida de certas pessoas – de verdade ou de papel.

Lido entre 13 e 15.08.2012.
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Menezes 21/07/2010

Depressivamente Fantástico!!!!!!!!!!!!!!
"Não senti nenhum prazer em ver aquela perplexidade, aquele desamparo. Eu não gostava da presença dele no salão. Era como se estivesse nu: um homem dançando nu, que não sabia dançar. Eu queria gritar com ele. Queria bater nele. Queria chorar.

[Silêncio]

Não era essa a história que o senhor queria ouvir, não é?(…)Bom não estou dando o seu romance, estou dando a verdade. Talvez verdade demais. Talvez tanta verdade que não haja espaço para isso em seu livro. Não sei. Não me interessa."



A verdade é a busca que o narrador Vincent (? seria um narrador?) faz ao entrevistar 5 pessoas distintas para compreender um pouco da vida John Coetzee na década de 70, antes de se tornar um escritor famoso. Vincent nunca encontrou Coetzee pessoalmente e agora que está morto os relatos que transcreve são seu único om o enigmático escritor. Sim meu caro leitor, você não leu errado ou este crítico de blog tomou substâncias alucinógenas hoje, John Coetzee… no novo livro escrito por John Coetzee. Para quem é marinheiro de primeira viagem pode estranhar, mas quem conhece a obra desse escritor fantástico sabe que essa é ponta iceberg.

Fiquei em dúvida de colocar uma outra citação do livro em que Vicent compara a dificuldade de se distingui nos cadernos de Coetzee o que é realidade e o que é ficção, pois com mais um transcrição literal e a Cia. das Letras pode me processar.Contudo eu acho que essa análise auto referência é a chave do enigma para se compreender a obra deste escritor. Seu livro mais extraordinário traz pouco das inovações estéticas usuais, Desonra, pode ser visto como a narrativa mais tradicional de Coetzee ao mesmo tempo que opera sutilmente nas feridas do Apartheid e questiona a moral de certas convençoes sociais, ainda é seu trabalho mais primoroso. Entretanto ele é conhecido ainda mais por mesclar pensamentos sociais a narrativas de romance como em Elizabeth Costello, Vida dos Animais, Terra de Sombras, etc. ou por fazer experiências estéticas radicais como mesclar três histórias diferentes na mesma página durante um livro inteiro em Diário de um Ano Ruim, ou por essa auto referência que está longe de ser falta de originalidade nos livros Infância, Juventude e nesse recente, que fecha a trilogia, Verão em que ele simplesmente se mata e faz um retrato de si por meio de outros onde acaba a realidade e começa a ficção é difícil dizer.

Vicent entrevista cinco pessoas e tem cinco retratos mais alguns fragmentos de uma caderno de Coetzee. Julia a primeira entrevistada narrada um caso de amor adúltero com Coetzee, Margot sua prima se centra no relacionamento de amor platônico desenvolvido por eles e mais especificamente na reunião da família em que tudo deu errado, Adriana ( a voz do fragmento acima) narra como o desprezava por ele perseguir tanto ela como a filha na opinião dela, Martin um colega de profissão e Sophie narram as visões políticas e críticas que John tinha pouco antes da publicação de Terra de Sombras. Os Fragmentos se centram na relação dele com o pai.

O incrível deste romance é como o autor gosta de bater em si mesmo. Tantas visões diferentes que são mostradas mais algumas imagens são recorrentes como a imagem de um homem desprovido de virilidade, da solidão que ele enfrenta, do simulacro de um homem oco em que todos os personagens são mais fortes que ele. Todos os entrevistados se perguntam como ele pode ter sido um grande escritor se era tão decaído? Talvez a resposta para pergunta esteja nas nossas mãos ao ver como ele consegue mudar tantas vezes o estilo da narrativa na voz de cada personagem. A veia mais forte do romance é a autocrítica da obra de Coetzee mas muitos fragmentos de relações amorosas (desastrosas) e fraternas, sendo o pai que mora com John o personagem secundário mais forte para se compreender a solidão a qual ele estava mergulhado na década de 70.

O livro é uma autobiografia, uma autocrítica tanto no nível pessoal quanto no estético, uma auto referência a obra inteira e depois de Diário de um Ano Ruim não imaginava que ele fosse fazer algo mais louco, mas é bem mais pois necessita de um nível de afastamento muito grande. Poderíamos dizer que também é bem pretencioso, mas vindo deste autor sempre será e ele sempre consegue fazer direito.
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Aguinaldo 09/02/2011

verão
Lembro-me bem da forte impressão que tive ao terminar a leitura de "Boyhood" (1975) e "Youth" (2002). O primeiro li logo que soube da existência de J.M. Coetzee, ganhador do Nobel de 2003, era uma edição já antiga da Best Seller. Já o segundo li assim que publicado pela Companhia das Letras em 2005. Lembro-me que dei ele de presente para a Cristina Polo, mas ela ficou preocupada com o ar sombrio do livro. Não são exatamente livros fáceis. Eles se inserem no que usualmente se chama "romances de formação". Neles Coetzee descreve o que ele chamou de "cenas da vida provinciana" de um garoto de ascendência boer na Africa do Sul que emigra posteriormente para a Inglaterra. Os paralelos com a vida do próprio Coetzee são óbvios, mas ele escreve sem se trair e sem deixar o leitor se interessar mais pelo escritor Coetzee que pelo personagem John. "Boyhood" lembra o "Retrato do artista quando jovem", claro, com descrições de sofrimento e ritos de passagem juvenis (portanto algo cerebrais demais) de um narrador que vive em uma terra inóspita, que conta suas preocupações com a mãe, o pai, a literatura, o desejo sexual, a presença incômoda e visível do apartheid. No final ele mostra seu caminho: "se ele não lembrar os livros e a existência de sua tia Anne, grande leitora, quem lembrará?" Já em "Youth" o narrador termina o nível superior ainda na Africa do Sul e emigra para a Inglaterra para trabalhar. Ele é matemático, mas como gostava das aulas de literatura e línguas, pretende ser afinal um poeta. Começa um mestrado em literatura. Os anos 1960 na Inglaterra são um parque de diversão para os sentidos, mas ele tem uma vida de imigrante dura e limitada, trabalha como programador para a IBM, um destino impessoal e inglorioso demais para quem se pretendia um poeta inovador. Seus relacionamentos afetivos são conturbados e insatisfatórios. "Summertime" é uma continuação óbvia destes dois romances. Lançado em 2009 foi finalista do prestigioso Booker Prize. Aquele que nós leitores podemos imaginar como o sujeito "John" dos romances anteriores alcançou alguma fama como escritor, mas já é morto. Um escritor pretende fazer uma biografia deste "John" e organiza entrevistas com pessoas que estiveram próximas a ele no período de cinco ou seis anos posteriores a emigração de volta à Africa do Sul após sua temporada londrina: uma amante de sua Africa do Sul natal, uma vizinha na verdade; uma prima africanner, sua amiga de infância; uma brasileira, forçada pelas filhas para contratá-lo a dar aulas de inglês a elas; um professor de inglês da Universidade do Cabo, com quem John disputou uma posição acadêmica; uma outra colega acadêmica, professora de francês na universidade, que também foi amante de John. Cada uma das entrevistas é escrita em um estilo diferente. Ora são quase transcrições literais das conversas, ora são textos já algo ficcionalizados para comporem um livro. Algumas são mais intelecutalizadas, outras mais diretas e objetivas. São quase exercícios literários. Os entrevistados e o entrevistador falam dos livros que John publica (onde parte do material ficcional é baseado na vida e no relacionamento dos entrevistados). São os livros que J.M. Coetzee publicou nos anos 1970 e 1980 (Dusklands, In the Heart of the Country, Waiting for the Barbarians, Foe). É um livro curioso, denso, mas bastante bem humorado (comparado com os dois primeiros). Aprendemos que Coetzee é um bom crítico de sua produção (afinal ele nunca deixou de ser um professor universitário). Os paralelos com sua vida são evidentes, mas o personagem John é apenas o veículo para o autor refletir sobre a vida, sobre as transformações por que passa, sobre as distintas percepções que cada um faz de si mesmo e dos outros com quem convive. No final o biógrafo nos mostra os últimos apontamentos de seu biografado, trechos fragmentários de romances que ele tensionava escrever, material para uso posterior em suas experiências ficcionais. A personagem brasileira é curiosa. Ela fugiu do Brasil por conta do golpe militar de 1960, emigrou para Angola e tentou a sorte posteriormente na Africa do Sul com o marido e duas filhas. O marido é morto em um assalto banal e ela tem grandes dificuldades em manter-se no país para onde emigrou. As dificuldades desta personagem lembram um tanto as dificuldades dos emigrantes africanos e latino-americanos na Europa deste cruel século XXI. Ao mesmo tempo a personagem brasileira é a única que incisivamente manifesta pouco apreço pelo personagem que está sendo biografado (pois ele acreditava que ele poderia assediar sexualmente suas filhas). Apesar desta personagem fazer o papel de vilã me parece que Coetzee a retrata como uma heroína a seu modo, uma mulher que consegue resistir às vicissitudes com determinação e força moral. Haverá espaço para uma continuação? Coetzee poderia inventar que alguém encontra por acaso romances não publicados daquele "John" morto precocemente, romances que seriam os do Coetzee nos anos 1990 e 2000. Já veremos o que este instigante escritor nos reserva para o futuro. [início 06/10/2009 - fim 19/10/2009]
"Summertime", J.M. Coetzee, editora Harvill Secker (1a. edição) 2009, capa-dura 14,5x22, 266 págs., ISBN: 978-1-846-55318-9
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wolfbraga 13/03/2013

Primeiro contato.
Foi meu primeiro contato com a obra do sul-africano. E de fato a impressão foi ótima. Um enredo diferenciado, uma perspectiva diferente de romance, um desprendimento total do autor para autocritica e projeção da própria personalidade. to loco pra ler desonra agora.
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Gláucia 23/03/2014

Verão - J. M. Coetzee
Vincent está colhendo entrevistas para escrever uma biografia do premiado John Coetzee. O livro é dividido em seis partes, cada uma traz, através das entrevistas feitas pelo escritor, a opinião que cada uma dessas pessoas tem do autor: Julia, uma vizinha casada com quem ele acaba tendo um caso; Margot, uma prima e amiga de infância; Adriana, uma brasileira refugiada na África do Sul para escapar da ditadura militar; Martin, um colega professor; Sophie, também colega e amante. A última parte traz fragmentos recolhidos de anotações do próprio Coetzee.
Faz parte de uma trilogia composta por Infância e Juventude. Em Verão, retrata-se o período logo após dele ter retornado de um período nos EUA, no início dos anos 70. É um livro muito interessante, escrito como se fosse uma autobiografia do autor que traz uma visão um tanto quanto depreciativa de sua imagem e também analisa vagamente alguns de seus livros. Pode ser encarado de várias formas, eu interpretei como uma espécie de jogo ou brincadeira nde o autor desafia o leitor a tentar descobrir onde está a verdade dentro de cada situação narrada.
Não é meu livro preferido do autor mas seu estilo narrativo rápido e fluido pode ser notado aqui também.
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wesley.moreiradeandrade 11/01/2017

Ok, podem reclamar. J. M. Coetzee de novo. Mas o que eu posso fazer? O cara é bom. Então vamos a “Verão”, que encerra a trilogia “Cenas da Vida na Província”, precedida por “Infância” e “Juventude”.
Neste terceiro livro, J. M. Coetzee quebra toda a narrativa iniciada nas obras anteriores e desta vez o protagonista é já um autor consagrado e morto. Um jovem chamado Vincent decide escrever a sua biografia e o livro é composto também por entrevistas em que conhecemos um pouco das facetas de Coetzee pelo olhar de outras pessoas que tiveram contato com ele após o seu retorno à África do Sul para cuidar do pai: Margot, uma prima que também foi amiga de infância dele; Julia, uma vizinha casada com quem Coetzee teve um relacionamento; Adriana, dançarina brasileira de quem Coetzee é professor de língua inglesa de uma de suas filhas; Martin, um senhor com quem o protagonista teve discreta amizade, após concorrerem ambos a uma vaga de professor numa universidade; Sophie, professora universitária com quem Coetzee dividiu algumas aulas e com quem também teve um caso.
Assim o leitor entende (ou tenta ao menos) compreender a personalidade difícil de Coetzee já adulto e sua pouca afeição ao convívio social (alheio quase ao ambiente de apartheid em seu país) e até mesmo amoroso. Coetzee não poupa a si próprio, como personagem, de críticas e ironia, claro, lembrando que, antes de tudo, o romance não passa de uma obra ficcional e não uma autobiografia tradicional. Não devemos confiar no narrador (quando este aparece esparsamente na forma de diário no início e final do livro) ou no colóquio das outras personagens ao fazerem seus depoimentos.
Comparando os dois primeiros livros com este “Verão”, considero este último inferior. Como foi escrito antes, a narrativa é quebrada por entrevistas, porém se elas trazem um “olhar de fora” e lançam luz sobre o protagonista, deixam a estória mais fragmentada e frágil, de menor unidade do que, por exemplo, com o uso da narração em terceira pessoa dos romances anteriores (quiçá Coetzee quisesse evitar ter feito uma convencional trilogia como tantas que existem na literatura atual). Há um certo estranhamento na escolha estilística quanto ao formato deste terceiro livro, mas não tira o interesse do leitor que, como Vincent a recolher as impressões sobre o seu biografado, monta um quebra-cabeças a respeito do personagem que acompanhou por três livros e, ainda assim, este permanece um enigma aos nossos olhos.

site: https://escritoswesleymoreira.blogspot.com.br/2016/01/na-estante-53-verao-j-m-coetzee.html
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Rub.88 09/08/2017

Fragmentos
Não se deve confiar na total veracidade das lembranças de quem escreve ficção. E no mais, ninguém joga limpo quando fala do próprio passado. Embelezar fatos, ter esquecimentos seletivos, menosprezar detalhes ou simplesmente inventar causos. Isso é da natureza humana. Ninguém quer ficar feio na foto, mesmo sabendo ou não, que isso é só uma extração do que se viveu. Uma imagem ou um livro não comporta uma vida inteira. Em Verão do escritor sul-africano e ganhador do Nobel de literatura de 2003 J. M. Coetzee, conta-se de modo ficcional, a época em que ele voltou ao seu país natal nos primeiro ano de 1970.
O formato narrativo é construído com enxertos de uns cadernos pretensamente pertencente ao autor e a uma serie de entrevistas que um biógrafo faz a cinco pessoas.
Vincent é o pesquisador que só conhece a obra do escritor tema do seu estudo. Ele vai atrás de informações pessoais sobre um período da vida de John Coetzee. A imediata volta dele a África do Sul para morar com o pai, depois de tanto tempo no estrangeiro.
Julia, a primeira entrevistada, teve um caso rápido e trôpego com o escritor quando ela própria tinha duvidas dos rumos da vida que levava. Casada, a infidelidade lhe mostrou que existem homens frágeis e com convicções e atitudes covardes.
Margot, a segunda entrevistada, é prima de Coetzee. Quando crianças passavam férias na isolada fazenda da família e lá tiveram uma paixonite infantil. Adulta, ela vê no escritor ainda desconhecido do grande publico uma criatura indecisa e atrapalhada.
Adriana, uma brasileira refugiada da ditadura, tenta barra a influencia de Coetzee, que arranjou um trabalho como professor não especializado, sobre suas filhas que estão florescendo. Ela, que ainda sofreu com o assedio nada bem vindo do escritor, o acha fraco e sem qualidades masculinas.
Martin e Sophie, os últimos entrevistados, descrevem o período que Coetzee foi colega de ensino universitário. Ambos o classificaram como raso, quase inepto e excêntrico.
Nos escritos produzidos pelo autor falsamente biografado há um vislumbre, que a sociedade Africânder baseada no Apartheid esta chegando ao fim e passagens do relacionamento funcional e frio que manteve com o pai.
Nada em Verão, nenhuma linha, fala bem do personagem Coetzee. Essas paginas são de autocriticas e da inabilidade em lidar com sentimentos próprios e de terceiros. Não sei o quanto disso bate com a real personalidade do escritor. Mas me fez pensa na maneira como eu me vejo, e como os outros me veem...
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Mario Miranda 08/07/2019

Verão (2009) é o último livro da Trilogia que reconta a história de Coetzee. Tendo sido publicado 7 anos após o segundo livro, Juventude, Verão aborda a história de Coetzee quando este já retornou dos seus projetos fracassados, primeiro na Inglaterra, posteriormente nos Estados Unidos.

Coetzee é uma pessoa que, apesar do seu avançado nível educacional - um Doutorado em Línguas concluídos - não consegue passar de um professor auxiliar de Inglês, bem como de outros empregos semelhantes. Coetzee não é uma pessoa concreta, mas muito mais alguém que divaga sobre valores e princípios (Como a necessidade do homem branco realizar trabalhos braçais, algo que era exclusividade dos Negros na África do Sul no período do Apartheid), mas que não consegue concretiza-los em prol de uma carreira ou de uma literatura que, ao longo das páginas, não parece ser o foco do autor.

Escrito de uma maneira completamente divergente da literatura tradicional, onde o livro é composto por 5 relatos de conhecidos de Coetzee (ou seriam supostos relatos?), que sequer eram necessariamente pessoas próximas a ele, bem como extratos de escritos realizados pelo autor. Longo nas primeiras páginas nos deparamos com outra inovação do autor: ele trata como se ele já tivesse morrido, e na verdade a obra inteira é escrita por um estudioso da vida de Coetzee que deseja desenvolver uma biografia do autor.

Verão, ao contrário dos dois livros precedentes, traz um panorama político-social interessantíssimo sobre a África do Sul nos anos de 1970. Não apenas por ser um período marcante naquele país, mas também pelo próprio Coetzee não ser mais um jovem, ele acrescenta a sua própria biografia questionamentos sobre a segregação racial, preconceito, exclusão e miséria que estava submetida a população negra sul-africana.

site: https://www.instagram.com/marioacmiranda/?hl=pt-br
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