Marafa 12/02/2022
Cada página desse livro é um tapa na tua cara
Ao ler esse livro, eu senti que levei 496 tapas na cara, um por página. É tão interessante ver o quanto o pensamento de Platão e seus asseclas já estava avançado, considerando que o livro foi escrito há aproximadamente 2.300 anos atrás.
De fato, essa não é uma leitura fácil nem esportiva, mas que demanda muita atenção às palavras e muita reflexão sobre algumas passagens.
Inicialmente, considero as traduções da Edipro muito boas (não à toa, o nome da editora vem de "Edições Profissionais"). Todas os livros da editora são bem traduzidos e trazem muitas notas de rodapé, que auxiliam a leitura e a contextualizam da obra.
Quanto ao conteúdo, Platão (ou Sócrates, que é o narrador da obra) dispõe-se a várias coisas, mas, dentre elas, a encontrar o conceito de justiça por meio da maiêutica, a definir se é melhor levar uma vida justa ou injusta, qual delas é mais virtuosa, e, dessa forma, abrangendo também as formas de governo existentes na época, pensando também em como construir uma sociedade ideal.
São tantos conceitos levantados durante a obra, tantas discussões, que em alguns momentos é difícil acompanhar o pensamento. Mas, com calma, tudo é possível.
A forma escolhida por Sócrates para chegar a conclusões, discutindo com o interlocutor e fazendo perguntas, para chegar a soluções em comum é muito interessante. Por meio disso, vemos a refutação de algumas ideias levantadas sobre o que seria a justiça, a forte ironia de Sócrates, e a construção do conceito de justiça, do bem e das virtudes em si.
Já havia lido outras obras de Platão, mas sinto que terei que reler, pois foi com essa obra que entendi algumas coisas, como a diferenciação que Platão faz entre o mundo real e o mundo Ideal. Além disso, entendi a importância da racionalidade em sua obra, da reflexão, do afastamento dos prazeres, dos sofistas e tudo o mais. Esta obra contém o famoso mito da Caverna e diversas outras explicações importantíssimas para entender o pensamento de Platão.
É importante dizer que Platão passa pelo conceito de justiça, discute com os amigos e interlocutores, fala sobre a educação ideal do Estado ideal, sobre poesia, música, ginástica, filosofia, esclarece como seria a divisão de classes dentro deste Estado, a relação entre homens e mulheres, entre jovens e velhos, fala sobre o desenvolvimento das almas, de tiranos, democratas, oligarcas, etc, e ainda sobra espaço para algumas elucubrações de teor místico e de difícil entendimento.
Essa é uma obra clássica e deveria ser lida por todos aqueles que gostam de se sentir desafiados. Se a cada página levamos um tapa na cara, é certo também que o prazer ao chegar ao final da obra tendo captado pelo menos boa parte de suas ideias é indescritível.