Sheila 24/05/2012Resenha "Chaplin - Uma Vida" (Stephen Weissman)Chaplin, Uma Vida, é uma biografia autorizada escrita pelo psicanalista Stephen Weissman. Realizando uma pesquisa metódica e detalhada, Weissman falará das origens de Chaplin, desde o conturbado encontro de seus pais, passando por sua difícil infância e adolescência, para sua posterior carreira como ator de variedades, ator de curtas pastelão e cineasta de sucesso. Com Introdução escrita por Geraldine Chaplin, filha de Charlie Chaplin vemos, logo no início, seu reconhecimento pela obra, mas também sua estranheza e desconforto por algumas das revelações contidas neste livro. Segundo suas palavras
“Este livro, sempre provocador e algumas vezes doloroso, é uma leitura reveladora, um importante elemento para compreensão da genialidade e da arte de meu pai, e uma reflexão única sobre o mistério da criatividade”.
Nascido em Londres em 1889, Charles Chaplin teve que passar por diversas instituições, e às vezes até mesmo freqüentando as ruas juntamente com seu meio-irmão Sydney. Chaplin era filho de dois artistas do teatro de variedades – um tipo de apresentações feito por atores saídos das camadas mais populares da Londres da virada do século, atores até bem conhecidos e remunerados. No entanto, a mãe de Charlie, apesar de ter-se apaixonado perdidamente por Charles Sr, acabou por abandoná-lo por duas vezes, uma para ir atrás de uma aventura na África, outra por ter se apaixonado novamente, agora por um produtor. Linda, talentosa e muito ambiciosa, Hannah Hill Chaplin acabou por contrair sífilis, muito provavelmente em sua viagem à África, o que lhe causou degeneração dos tecidos cerebrais e a fazia passar por períodos de internação em instituições assistenciais.
O pai de Charles, a esta altura casado novamente e nem um pouco disposto a ter de criar o filho de outro homem – seu meio-irmão Sydney – tinha também propensão ao alcoolismo, tendo morrido justamente em decorrência de sua vida libertina. Motivo pelo qual os irmãos muitas vezes tiveram de enfrentar vidas paupérrimas, e viver em instituições para menores, das quais Charles guardou, ainda na vida adulta, funda impressão, principalmente das técnicas disciplinares
“Às 10 horas nós marchávamos ordeiramente para o enorme e lúgubre arsenal com paredes cinzentas monótonas. Ficávamos de pé em silêncio contemplando os instrumentos de tortura – um cavalo com alças, um cavalete com correias no qual ficavam pendurado o bastão, a vara de vidoeiro e a correia com nós. Após meia hora de suspense e ansiedade pelo terror que se seguiria, entravam solenemente o médico, um mestre, dois assistentes e o terrível capitão Hindrum, o disciplinador”.
Mesmo com todas estas dificuldades, sempre que Hannah recobrava-se e conseguia ficar com os filhos, era mãe exemplar, e professora de teatro excelente. Tanto que Charlie extremava-se em fazer imitações para alegrar os outros moleques de rua com quem andava com suas imitações e interpretações.
Dos subúrbios de Londres, o jovem Charlie consegue passar a artista do teatro de variedades, sempre com brilhantismo, até ser descoberto pelos cineastas de Hollywood e ficar consagrado como ator pela invenção de seu mais memorável personagem, o Adorável Vagabundo das telas de cinema. “Seria este personagem inventado por Chaplin uma Paródia e uma memoração ao pai alcoólatra? Seriam as heroínas de seus filmes memórias sublimadas, parte recordadas, parte reprimidas, da mãe adorada e de vida trágica?” São estas as perguntas que Weissman se faz, e tenta responder – a si mesmo e ao leitor – nesta obra.
Além de realizar resgate da vida e obra de Chaplin desde a infância, o autor ainda retrata a historica Londres da virada do século, passando depois a Hollywood, com profusão de detalhes e grande precisão. É um livro interessante, tocante, porém um pouco denso, mas que vale a pena ser lido.