Fernando Lafaiete 18/07/2017GONE: Um bom livro de fantasia juvenil. Com problemas, mas que vale a pena!*******************Esta resenha NÃO possui spoiler********************
Um mundo sem adultos, com jovens desenvolvendo super poderes, vivendo aprisionados em uma redoma que surge do nada ao redor da cidade. Animais sofrendo mutações e ficando cada vez mais ferozes e novas regras surgindo. O que aconteceu que todos a partir dos 15 anos sumiram? O que fazer no meio deste caos? Quem são seus amigos e quem são seus inimigos? Quem deve liderar esta nova comunidade? É neste ambiente hostil e desesperador que irá se passar a estória de Gone: O MUNDO TERMINA AQUI.
Eu gostei muito deste livro, mas muitas coisas me incomodaram. Como eu acho que a vida é muito curta para perder tempo com livros que podem vir a ter características incomodas para muitos leitores, eu destrincharei este livro o melhor que eu puder, expondo os pontos positivos e os pontos negativos. Espero que a minha resenha possa ajudá-los a se decidirem se desejam ou não embarcarem nesta leitura. Afinal de contas, o fato de eu ter tido uma experiência positiva, não é garantia de que vocês também terão.
********************NARRATIVA, ESCRITA E CONSTRUÇÃO DE MUNDO********************
Michael Grant tem uma narrativa muito boa e fluida; que me envolveu e me instigou de maneira extremamente agradável. Eu não sentia vontade de parar de ler, devido a minha curiosidade infinita de saber o que iria acontecer. O mundo é muito bem construído, e os elementos que o compõe são muito bem inseridos. As situações são bem elaboradas e os parágrafos e capítulos são lineares, de maneira que a narrativa não fica confusa. Aliás, a narrativa é bem frenética e dinâmica.
Os capítulos são divididos entre os personagens e com isso temos uma visão bem ampla do que está acontecendo em todo o território em que a estória se passa. Os personagens possuem vozes próprias e nenhum soa como o outro.
Porém, o autor peca levemente na escrita. Ele faz em alguns momentos umas escolhas de vocabulários na minha opinião infelizes. Os protagonistas são adolescentes, mas muitas vezes os diálogos soam muito infantis. A narrativa intercala entre o juvenil e o infantil. Eu acredito que se o autor tivesse se focado mais em deixar tudo juvenil, a escrita teria me convencido mais. Algumas falas soam estranhas e deslocadas. Se sua bagagem de leitura é composta muito mais por livros de fantasia adulta, você provavelmente também irá se incomodar. Senão, leiam sem medo e sejam felizes.
Devido ao que o autor mostrou neste primeiro volume, acredito que o mundo tem muito ainda para ser expandido e explorado a fundo. Espero não me decepcionar.
********************PERSONAGENS********************
Em relação aos personagens que levam esta estória, devo dizer que me incomodei bastante com o comportamento de alguns. Mas devo frisar antes de tudo, que eles são bem construídos.
Os vilões realmente são vilões, e fica bem difícil não odiá-los muito, ao ponto de ficar imaginando várias maneiras que o autor poderia assassiná-los. Eles são inescrupulosos, mal -caracteres, assassinos, invejosos, mentirosos e inteligentes. Eles planejam, agem, torturam e sempre estão um passo a frente. Isso me agradou e me irritou na mesma proporção. Me agradou, porque eu adoro odiar vilões e acho que vilões precisam ser assim mesmo; sanguinários. Pra ficarem chorando e se lamentando feito um bando de idiotas, já temos os mocinhos. E me irritou porque na minha opinião, os supostos heróis do livro (destaque máximo para o pamonha do protagonista), passam 90% da estória, se acovardando, fugindo e exitando.
O ambiente o qual eles se encontram é extremamente perigoso, onde só sobrevivem os mais fortes. Ou seja; ou você vira o caçador ou se torna a caça. Na minha opinião, é muito melhor ser o caçador e agir com o intuito de sobreviver; do que ficar fugindo das minhas responsabilidades, se tornando consequentemente a caça. Se for pra alguém morrer, que seja o meu inimigo e não eu. Não existe espaço para covardia ou para comportamentos morais. É como um jogo, só um sairá vencedor.
Sam (o protagonista) me tirou muito do sério e eu o considerei boa parte da narrativa um personagem chato, inativo, chorão, bunda mole e um péssimo líder. O Quinn (o suposto melhor amigo do protagonista) é um personagem insuportável, invejoso, fraco, que eu desejei muito que morresse o quanto antes. O Edilio (amigo do protagonista) é um dos melhores personagens do livro. Bom caráter, corajoso, amigo verdadeiro e proativo. A Astrid (a namoradinha de Sam) é uma personagem interessante, inteligente e que espero que seja mais desenvolvida nos próximos livros. A Lana e seu cachorro são muito legais, bem aproveitados e suas partes do livro são bem exploradas e essenciais para todo o desenrolar da trama.
O Caine (o grande vilão deste primeiro livro) é muito bom e funcional. Seus capangas, Diana, Drake e Jack são excelentes e muito bem desenvolvidos por Michael Grant. Eles realmente são muito bons como vilões e são os destaques deste livro. Foi bem difícil não torcer para que Caine e Drake tivessem a pior morte possível. Que personagens desgraçados!!
E sempre fica a curiosidade... Qual deles possui poderes? e que poderes são esses?
********************CENAS DE AÇÃO********************
As cenas de lutas são muito boas e bem descritivas. É tudo muito visual, de maneira que parecia que eu estava no campo de batalha junto com os personagens. Mas elas não são excelentes como as cenas de ação de "As crônicas de gelo e fogo" por exemplo. Embarque na leitura com calma. Elas são muito boas para um livro de fantasia juvenil.
E não se engane; o autor peca sim as vezes na escolha de palavras, deixando alguns momentos infantilizados. Mas a estória não é infantil. O livro é protagonizado por adolescentes e crianças, mas a carga da narrativa é muito mais juvenil e isso fica evidente nas cenas de tortura e ação.
********************ANÁLISE COMPARATIVA********************
Se formos comparar este livro com outros livros que possuem características semelhantes (como adolescentes que possuem super-poderes) eu acredito que ele fica um pouco acima da média. Como primeiro livro de uma série ele é muito bom e cumpre seu papel. Ele é bem melhor do que "O Orfanato da senhorita Peregrine para crianças peculiares" por exemplo. Mas não acho que ele seja tão superior assim se comparado com os outros dois livros da série de Rason Riggs.
Acredito que se você leu e não gostou da série de Riggs, não sei se te indico este livro. Na minha opinião, eles possuem estilos narrativos bem parecidos. Mas também tem coisas bem diferentes. Fico na dúvida se indico pra você que detestou a série supra citada.
Agora se você leu e detestou (como eu) outro livro meramente parecido como Mentes Sombrias da Alexandra Bracken, eu só digo uma coisa: leia Gone, ele é muito melhor e bem mais dinâmico.
O livro possui problemas, como os citados acima. Mocinhos menos interessantes do que os vilões e boa parte da estória inativos. Além da narrativa muitas vezes infantil. Mas discordo de quem diz que o autor insere elementos preconceituosos e machistas. Não me deparei com nenhum elemento desse tipo e olha que sou um leitor bem atento. E é sempre bom reforçar que apesar dos problemas, a leitura valeu a pena e com certeza darei continuidade com a série.
Eu espero que a minha resenha não seja vista como sendo descartável. Espero que ela seja útil e possa ajudá-los a se decidirem se darão ou não uma chance para Michael Grant e sua série.
De qualquer maneira, se você teve paciência e leu até aqui, deixo os meus mais sinceros agradecimentos e te desejo uma excelente leitura, estando você lendo ou não este livro! :)