Djeison.Hoerlle 28/03/2021
Enfim, me despeço de Cavalo Ruim, Corvo Vermelho, Shunka, Dino, Vovó Ursa Pobre, Apanhador e tantos outros nomes que dificilmente serão esquecidos. Não apenas por soarem tão excêntricos para este jovem caraíba, mas por designarem personagens marcantes, tridimensionais e até carismáticos.
Escalpo me apresentou a um mundo novo, um mundo que a maioria de nós até pensa de vez em quando, ao avistar aquele menino indígena vendendo balas na sinaleira, ou vendo uma notícia sobre as queimadas da Amazônia, o que sempre causa um desconforto culposo. Pelo menos em nós, americanos com o mínimo de empatia. Mas no geral, não passa disso. Logo tratamos de sufocar o tema em algum canto escuro da nossa mente, e seguir com a nossa vida mesquinha e materialista. E é isso.
E o mérito de Escalpo não consiste apenas na inevitável cutucada nessa ferida social aberta há 500 anos, mas sim em um confronto direto com todo esse lado perverso da história. A crítica aqui não consiste apenas no imperialismo e colonialismo. A ideia não é tratar os indígenas como heróis trágicos e oprimidos pelos invasores, embora seja um tópico indissociável, mas também mostrar os impactos da marginalização em comunidades, além de claro, abordar aspectos essenciais de antropologia, racismo e acima de tudo, da psique humana.
Eu não tenho palavras para expressar o quão assertivo, inteligente e responsável Jason Aaron foi em seus roteiros. Não precisou de saídas óbvias, ofensas gratuitas e nem filosofias de boteco. Tudo aqui está em seu devido lugar. Personagens, plot twists, ação, recordatórios... inclusive, que recordatórios! Não raramente o estilo de prosa de Aaron me causava agradáveis surpresas, digno de Sandman ou de qualquer romance de época. R.M. Guéra faz também um excelente trabalho, assim como toda a equipe criativa.
Escalpo é um exemplo de excelência que se pode atingir com estudo, dedicação, e a sorte de encontrar as pessoas certas para colaborar. Uma excelente história, a qual nunca irei me esquecer.