Zanteo 09/01/2024
Uma escrita poética, intensa e delirante
Trata-se de uma pequena coletânea de 11 contos de Caio Fernando Abreu, selecionados por Luciano Alabarse para compor essa edição de bolso da L&PM Pocket.
Com esse livro, tive meu primeiro contato com Caio F. e, nossa, como eu gostaria de ter conhecido sua obra antes. Acredito que com esses contos que compõem "Fragmentos" seja possível ter um vislumbre de como é a vasta produção literária do autor gaúcho.
Percebe-se que há muito da vida de Caio nos seus escritos que, a propósito, são carregados por uma potência criativa e emocional, intensa e, dependendo do ponto de vista, "confusa".
Conforme eu lia, especialmente os contos "Além do Ponto", "Os sobreviventes" e "Para uma avenca partindo", notei a fascinante presença da narrativa em forma de fluxo de consciência, o que me fez lembrar de "Mrs. Dalloway", de V. Woolf, e "Paixão segundo G.H", de Lispector; porém, aqui, aplicada de uma forma autêntica e com um toque distintivo de Caio F.
Muito embora cada conto aqui colacionado tenha um vigor tão potente que, ao final de cada um, eu simplesmente ficava sem palavras e sem saber como reagir quando concluída a leitura, acredito que meus favoritos foram "Os sapatinhos vermelhos", "Uma história de borboletas", "Para uma avenca partindo", "Além do ponto" e, sobretudo, "Aqueles dois".
Termino esse livro com um enorme desejo de "quero mais". E, aos que não conhecem a obra de Caio Fernando Abreu, considero ser uma excelente porta de entrada.
Recomendadíssimo!
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"Perseguidos e acuados, os loucos na obra de Caio F. representam um olhar sobre uma sociedade que nega o diferente ou aquilo que não entende, uma vez que não se encaixam nos padrões dominantes. O autor revira as vísceras do aparente mundo da normalidade focando sua atenção nas drogas, na alienação, na autodestruição e nas punições ao comportamento não-convencional. Nesse panorama, a paranóia é crescente, e suas personagens não escapam do terror por ela causado.
"Loucura, eu penso, é sempre um extremo de lucidez. Um limite insuportável. Você compreende, compreende, compreende e compreende cada vez mais, e o que você vai compreendendo é cada vez mais aterrorizante - então você "pira". Para não ter que lidar com o horror", dizia Caio F. (MORICONI, 2002)." (COELHO (Biba), Eulália Isabel. Domínio do irremediável em Caio: palavra/imagem. Conexão ? Comunicação e Cultura, UCS, Caxias do Sul, v. 5, n. 9, p. 197-217, jan./jun. 2006. p. 210).