Karla Lima 20/04/2017
ignore a contracapa e aproveite
No início do livro, a existência de Laurence Passmore é resplandecente. Aos 58 anos, ele tem amigos, prestígio, uma carreira muito bem-sucedida como roteirista de sitcom, bastante dinheiro, filhos independentes que já saíram de casa, uma esposa inteligente, companheira e bonita com quem a vida sexual é ativa e prazerosa. A única coisa a ameaçar essa existência brilhante é uma dorzinha no joelho que ameaça tornar-se permanente, pois resiste a todo tipo de tratamento ? e ele tenta vários.
Porém, como vidas perfeitas raramente levam alguém para a terapia, o título do romance já indica que tudo, ou grande parte disso, está prestes a mudar. Entra em cena Soren Kierkegaard, o filósofo que deitou e rolou na amargura existencial. O protagonista se encanta pela obra do dinamarquês e passa a analisar e conduzir a vida à luz do que consegue compreender dos complexos textos do filósofo. Foi aí que, para mim, o livro começou a ficar de fato interessante: quando o rosinha-da-felicidade-total se matizou com tons sombrios.
Eu gostei bastante, mas o leitor que não curte filosofia pode se sentir enganado: afinal, como encaixar as crises existenciais de Kierkegaard com uma contracapa que anuncia ?Uma comédia hilária sobre a crise da meia-idade??
Sim, há momentos divertidíssimos e a cena de masturbação envolvendo molho para salada me fez rir alto. No geral, porém, não se trata de ?uma comédia hilária?. Achei Terapia um livro muito bom que, por acaso, tem toques de humor aqui e ali. Quem procura uma história hilária provavelmente vai se frustrar, mas quem gosta do autor, os que fazem ou já fizeram terapia e os homens à beira dos sessenta vão encontrar muita coisa em que pensar.