spoiler visualizarEloise.Siqueira 14/01/2023
Spoilers de Til e O Guarani
Tá mais pra uma análise do que uma resenha kk.
Eu amo a escrita desse cara, super poética (apesar de ter notado certa diferença no estilo, que eu não sei explicar).
Esta obra me lembrou muuito de O Guarani, o primeiro livro que eu li do autor. A protagonista, Berta (Til), é um amor de pessoa, me lembrando da personagem Cecília, que era amada e querida por todos também. Jão Fera se parece demais com o Peri, tanto pela agilidade nas lutas, quanto pela devoção demonstrada em relação à mocinha, que seria ?o ponto fraco? de ambos; valentes guerreiros, porém rendidos à sensibilidade da moça, a quem adoram como se fossem santinhas. Agora, uma coisa que chega a ser engraçada, é que ninguém consegue pegar eles kkkk; Só conseguiram pegar Jão Fera quando este se entregou (e ele o fez porque temia ter caído demais no conceito de Berta), tanto que ele conseguiu arrebentar as grades da prisão quando sua esperança de ser perdoado reacendeu.
Quanto aos jovens da narrativa, a interação entre eles remete muito à dos jovens de O Guarani, onde a menina Cecília, com um plano mirabolante, consegue unir Isabel e Álvaro (que antes era apaixonado por Ceci), me entregando assim um dos casaizinhos mais lindos da minha vida; eles são preciosos demais. Aqui, Miguel é apaixonado por Berta, uma moça inocente, cheia de caridade (sério, muito linda a forma como ela se compadece dos outros), mas outra pessoa gosta dele, a Linda, e Berta faz de tudo para que Miguel se interesse por Linda, mas aqui não funcionou tão bem. Não posso deixar de ter a impressão de que a Linda só estava cedendo a um capricho, pois ela era uma menina rica, tinha o amor dos pais e do irmão gêmeo, aí foi se apaixonar pelo moço pobre (que ela já sabia que sua mãe não iria gostar); ainda assim, os modos mais ?rudes? do Miguel eram demais para a educação esmerada que a jovem recebeu, e Berta se esforçou pra fazer ele chegar mais no nível que ela queria (ou seja, isso me deu a impressão de que a Linda, acostumada a ter tudo, foi gostar do Miguel porque não poderia tê-lo, e todos acabaram agindo de acordo com a sua vontade; Berta se revestindo de uma abnegação tremenda pra poder ver a mimadinha feliz).
É claro, eu não desgostei completamente da Linda, mas fico pensando no futuro desse casal. A Berta conseguiu uni-los, da mesma forma que Cecília, mas Berta descobriu tarde demais, enquanto observava os dois na festa de São João, que ela correspondia ao sentimento de Miguel. Mas reparando bem, não ficaria legal nenhum casal vindo dessa história, porque:
Berta era a filha mais velha do fazendeiro rico, que foi criada pela mãe de Miguel (assim como em O Guarani, onde a Isabel não sabia que era filha do fidalgo Dom Antônio de Mariz, e irmã da Cecília, e morreu sem saber disso, o que me deixou indignada, na época com 15 anos). O fazendeiro Luís Galvão tinha ainda seus filhos gêmeos, Afonso e Linda (o mesmo nome da mãe), de seu casamento com dona Ermelinda (correspondendo ao dom Diogo e Cecília).
O Afonso gostava da Berta, até tentou arrancar um beijo (e eu bem assim ?????). Agora, devo dar o braço a torcer para a dona Ermelinda. Ao afastar Linda de Miguel, ela permitiu que eles se despedissem; eu achei que fez bem assim, pois poderia gerar alguma revolta.
Todos foram pra uma festa e a Linda deu as costas pra Berta ao vê-la perto do Miguel. Eu fiquei tipo: eles foram criados juntos, mimadinha!
Voltando para casa, o segredo enfim foi revelado, e depois de uma noite que deve ter sido extenuante pra dona Ermelinda, ela disse ao marido na manhã seguinte:
? É preciso reconhecer a sua... a nossa filha. (Tiro o chapéu pra essa senhora ????).
Inventaram uma história pra Berta, mas ela foi atrás da verdade, na tapera onde ela havia nascido e onde ainda vivia uma escrava, que havia enlouquecido (por causa do passado trágico, onde ela assistiu à morte da mãe de Berta). Jão Fera estava lá e revelou tudo, e Berta o reconheceu como sendo seu pai, pela devoção prestada à mãe dela (ele a amava e protegia, foi ele quem levou Berta para batizar e vinte anos mais tarde, vingou a morte dela). Não importava que Luís Galvão fosse o verdadeiro pai, Berta reconheceu a Jão Fera:
?Assim em compensação de tantas míseras crianças abandonadas por aqueles que lhes deram o ser, houve então um pai enjeitado.? (Amei isso kkkk)
Eu achei que ela fez muito bem em recusar ser reconhecida por ele, pois imagina o climão estranho que ia ficar na casa?? O Afonso, que gostava dela antes, passando a vê-la como sua irmã; a Linda dividindo o espaço com ela, que gostava do mesmo rapaz; talvez se tornasse mais uma recontagem de Cinderela.
Berta cedeu seu lugar ao Miguel, para que eles pudessem pagar seus estudos, facilitando a união dele com Linda mais tarde. Só que... Miguel não deixou de amar a Berta, e foi embora dizendo: eu sempre sonhei com uma vida simples, em que eu viveria com você e minha mãe, Inhá, mas você está me mandando pra longe.
E ela seguiu firme nisso até o fim, dizendo que seu lugar era ali, onde as pessoas sofriam (se bem que seria estranho, já que eles foram criados juntos). Enfim, me preocupa o futuro de Linda e Miguel, sabendo que ele não superou seu primeiro amor, que embora não soubesse, era correspondido, e que Linda um dia desperte sabendo que foi por capricho dela, que poderia ter conhecido outra pessoa, afinal era jovem, que arrancou Miguel do interior e o mudou, tornando-os infelizes para sempre.
Se tiver interesse em ler, saiba que contém escravidão e termos um tanto ofensivos ao se referir aos problemas mentais.
No mais, eu gostei da narrativa (estou amando dramas familiares), que conseguiu me fazer rir em algumas ocasiões, e gostei demaaais da forma como a Berta cuida das pessoas, terminando com a seguinte descrição a seu respeito, que me deixou emotiva:
?Como as flores que nascem nos despenhadeiros e algares, onde não penetram os esplendores da natureza, a alma de Berta fora criada para perfumar os abismos da miséria, que se cavam nas almas, subvertidas pela desgraça.
Era a flor da caridade, alma sóror.?