Aisha Andris @AishandoBooks 02/08/2019
Mais um capítulo fantástico desta apaixonante saga histórica
Na continuação de Reino dos Céus, Radegund retorna à sua terra natal e precisa exorcizar os demônios que abandonou ao partir. Aqui conhecemos detalhes de seu passado, que foi mencionado muito superficialmente no livro anterior, e descobrimos a extensão de suas perdas e de sua dor. É impossível não admirá-la por seguir em frente depois de passar pelo que passou, quando pareceria tão mais fácil pôr um fim a tudo.
E ela sequer tem tempo de respirar, pois, assim que pisa na Normandia, é emboscada junto com Mark e ferida gravemente por uma flecha que atravessa seu ombro. Seu amigo consegue resgatá-la de seus atacantes, mas sua vida continua a correr perigo, por isso ele precisa correr em busca de algum local onde ela possa ser atendida e recuperar-se em segurança. Galopando ferozmente pela estrada, acaba chegando à Abadia de St. Radegund (coincidência, não?), onde são acolhidos e a ruiva é colocada sob os cuidados de Luc, o único ali com permissão de tocá-la.
Luc é um homem misterioso que mantém sua verdadeira identidade e seus segredos ocultos sob as vestimentas de um monge. No entanto, apesar de ter chegado à abadia há alguns anos, ainda não proferira os votos. Simplesmente porque, por mais que se esforce, claramente não possui vocação para seguir a vida religiosa. E isso fica ainda mais evidente com a chegada de Radegund para roubar sua paz. A ruiva é geniosa e teimosa o bastante para acabar até com a paciência de um santo, mas por maior que seja a irritação que provoque em Luc, nada se compara ao desejo que desperta nele, avassalador a ponto de fazer seu corpo arder de paixão. E Radegund passa longe de ser indiferente ao gigante com aparência de anjo, que a fará descobrir sentimentos e emoções que há muito acreditava-se incapaz de sentir. Quando o maior inimigo de Radegund, o mesmo homem que destruiu sua vida tantos anos atrás, voltar a ameaçá-la, Luc se revelará o único capaz de mantê-la em segurança, todavia, para isso, ele precisará retomar a vida que deixou para trás. Nos braços dele, também, nossa guerreira encontrará a genuína felicidade; mas, para mantê-la, precisará superar os inúmeros desafios que surgirão em seu caminho.
Uma das coisas que mais me agrada nesta obra é a sagacidade que a Drica Bitarello demonstrou ao criar uma mocinha extremamente forte, destemida, uma guerreira hábil como poucas, mas, ainda assim, cheia de características tipicamente atribuídas ao gênero feminino, como a sensibilidade e a grande capacidade de amar. A cada dia que passa, isso é mais raro. Boa parte dos autores, na tentativa de desmitificar a imagem de “sexo frágil”, esvazia suas personagens de delicadeza e outros atributos inerentes a nós, mulheres. Por mais que me agrade ler algo que faz estereótipos caírem por terra, e que eu saiba que somos muito diferentes entre nós, acredito ser desnecessário (atenção às aspas) “masculinizar” as mocinhas. Elas podem ser geniosas, autossuficientes (neste caso, devem), boca sujas, entre outros adjetivos, e, apesar disso, dotadas de sensibilidade, ou delicadeza, ou intuição, enfim, de uma combinação que destoe de “bela, recatada e do lar”, sem ser exatamente um (mais uma vez, atenção às aspas) “homem de saias”. Radegund é o exemplo perfeito, e neste livro, toda a miríade de características que a tornam tão densa, complexa e absolutamente incrível é explorada à exaustão, tornando a personagem ainda mais apaixonante.
Em Fogo Vermelho, Mark também encontrará o amor, resta saber se ele agarrará a chance de ser feliz, ou se permitirá que o passado interfira e o separe da mulher que toca seu coração quando surgir uma pista da identidade do homem que abandonou sua mãe grávida ao fugir de Jerusalém. Aqui também teremos a participação de Ragnar, que, já adianto, causará grandes confusões; mas como não se alegrar em vê-lo, não é mesmo? Eu amei matar a saudade do grandão!
Este livro é fantástico, com uma ambientação maravilhosa, personagens ricos e extremamente cativantes, recheado de mistérios instigantes, reviravoltas chocantes e cenas emocionantes, e a mesma escrita deliciosa que me conquistou em Reino dos Céus. Todavia, novamente a autora escorregou (na minha opinião, é claro, que passa longe de ser a verdade absoluta) num aspecto, que foi em tornar Luc ciumento demais. E embora, como já deixei claro no parágrafo anterior, eu admire muito personagens multifacetadas, não gosto quando um par romântico enfraquece a mocinha; e isso infelizmente acontece aqui, numa cena que foi terrível de ler e, novamente, me fez retirar uma estrela na avaliação.
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