Biia Rozante | @atitudeliteraria 15/11/2020Uma leitura vertiginosa.Karen Eiken é uma mulher forte e muito determinada que sempre buscou provar sua competência e valor em um meio dominado por homens; a delegacia de polícia de Doggerland. Acostumada com machismo e misoginia, Karen não se abala facilmente, e nem se deixa atingir por essas coisas e segue cumprindo o seu dever com responsabilidade e respostas ácidas. Anos trabalhando, construindo uma reputação para acordar na cama de um hotel ao lado de seu chefe, após o grande festival das ostras que rendeu uma bela ressaca não apenas alcoólica quanto moral. Culpa e raiva duelam dentro dela, mas Karen faz o que precisa fazer – sai de fininho, antes que Jounas Smeed, acorde.
Já em casa uma ligação a assombra. Ela precisa ir para a cena de um crime próxima a sua casa, uma mulher foi morta, encontrada quase desfigurada e Karen terá que assumir/liderar a investigação, pois a vítima é Susanne Smeed, a ex-mulher do Jounas, ou seja, o que a torna o único álibi de seu chefe. Mas essa informação ela não pretende contar a ninguém.
“Uma vida diferente, Karen reflete, era provavelmente tudo o que todos eles queriam. O que eles sem dúvida buscavam era o que todas as pessoas buscavam: uma vida melhor, coletividade e felicidade, por mais que idealizassem essas coisas. E eles haviam viajado uma distancia muito longa, arriscando tudo para encontrar o que procuravam. Tiveram coragem e disposição para criar a existência que queriam.”
Em meio a uma investigação que inicialmente parece não ter suspeitos ou motivos aparente, Karen precisa se desdobrar enquanto os dias passam rapidamente e nem o departamento parece acreditar em sua capacidade de encontrar pistas e estabelecer um caso. É então, que ela opta por seguir uma linha alternativa, um caminho ao qual todos acreditam não levar a lugar nenhum, mas Karen insiste e se depara com um emaranhado de segredos, mentiras, traições, ódio e vingança, que podem ou não mudar tudo.
PISTAS SUBMERSAS, é o primeiro livro da série DOGGERLAND, um cenário que foi criado pela autora – embora se tenha embasamento que um dia tenha existido -, para a ambientação de seus enredos. Então, é uma cidade “ficcional” e, portanto, a autora gasta um tempo nos apresentando este lugar e sua história o que pode deixar a leitura inicialmente um pouco mais lenta, mas não se preocupe a narrativa tem uma crescente e vai se tornando instigante com o passar dos capítulos. Como mencionei acima, aqui nos deparamos com um crime brutal sem suspeitos ou pistas aparentes, o que torna a investigação um tiro no escuro. E nós vamos acompanhando a progressão da investigação junto com a detetive Karen. A autora vai jogando as peças aleatoriamente e nós as recebemos junto com os personagens portanto acabamos passando parte da leitura no escuro assim como eles. Outro ponto que quero ressaltar é o quanto os personagens são reais, palpáveis, com conflitos, intrigas, situações que revoltam e que precisamos debater, como por exemplo a aceitação da mulher como uma profissional qualificada independente da profissão que ela escolheu. A nossa protagonista vive em um meio extremamente machista, sendo confrontada a todo instante, com dificuldades de liderar sua equipe, porque os homens se sentem ultrajados de terem uma mulher “mandando” neles. A forma como se referem a ela, a maneira como duvidam de suas escolhas, tudo vai sendo levantando ao longo dos capítulos - o que torna o final, ainda melhor.
"Eles não sabem se estão lidando com um assassino frio ou com alguém que matou involuntariamente num impulso de fúria: de qualquer maneira, parece cada vez mais improvável que o caso seja solucionado em três dias e incluído na estatística de sucesso de oitenta por cento."
Eu não posso entrar em muitos detalhes sobre a investigação, mas posso compartilhar com vocês que passado e presente colidem, e quanto mais escavamos a vida dos personagens mais chocados e ligados com eles ficamos. Karen é o tipo de protagonista que eu amo conhecer, ela é forte, determinada, inteligente, que não foge da luta e que segue seus instintos. Uma mulher poderosa, que ganhou meu carinho e me deixou ansiando pelos próximos livros da série que seguem tendo-a como detetive.
A edição da Faro Editorial como sempre é um presente a parte. O livro está lindo, com uma diagramação confortável e ótimo material.
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http://www.atitudeliteraria.com.br/2020/08/pistas-submersas-maria-adolfsson-faro.html