Tina 13/03/2012
Pré-produção e bastidores da reportagem
O livro “A Prática da Reportagem“ de Ricardo Kotscho é um manual indispensável para quem deseja engrenar na vida de repórter. Ainda que muito antigo, as práticas adotadas pelo autor ainda são válidas para quem trabalha em redação. O diferencial é que hoje em dia já não existem as mesmas dificuldades para enviar uma matéria quando se está na rua. O texto e as entrevistas podem ser facilmente enviadas por e-mail através de um telefone celular. O autor relata muitas situações complicadas da profissão, como domingos e feriados em que não acontecia nada de extraordinário para render uma boa matéria, e que a criatividade teve que ser explorada para que se contasse uma história que interessasse aos leitores do jornal em que trabalhava.
Uma dica importante de Kotscho é a de manter o bom relacionamento com o fotógrafo ou o cinegrafista. Afinal, a palavra do jornalista pode ser colocada em xeque quando não se tem imagens para provar que o que está escrito realmente aconteceu. Muitas vezes as imagens dizem mais que as palavras em uma reportagem. Ajudar o chefe de reportagem a pensar uma pauta e não ficar esperando que ela caia em nossas mãos é outra dica muito importante do autor. O problema é que alguns veículos não comportam o número suficiente de jornalistas, e por isso o profissional que está desenvolvendo três ou quatro assuntos diferentes em um mesmo dia não consegue dar a atenção necessária para uma nova ideia.
De todas as reportagens selecionadas para a publicação do livro, mais chama atenção aquela publicada no Estadão em meados dos anos 70, denunciando a boa vida que levavam os ministros e altos funcionários brasileiros em uma época em que o país morria de fome. A matéria também encontra-se no livro "10 Reportagens que Abalaram a Ditadura" da Editora Record e foi a primeira denúncia das mordomias do governo depois que a censura foi banida no Brasil. Hoje em dia se lidas, as denúncias daquela época não passariam de motivo de piada depois de tantos outros escândalos na política brasileira, como a Farra das Passagens e os desvios de verbas públicas para a compra de terras, automóveis e outros bens pessoais aos governantes do nosso país.