Guilherme Ramos 08/01/2020
Vigie seus pensamentos, sentimentos e condutas e não caia nas armadilhas da mágoa.
Após ser deixada pelo pai em um convento ainda criança, Jandira viverá uma nova realidade, mesmo esperando que seu pai lhe busque um dia como foi prometido pelo próprio ao entrega-lá nas mãos das freiras e do Padre Gusmão.
Os anos passam e Jandira mais crescida já começa a perder a esperança de que um dia seu pai lhe busque, seu consolo é a grande amizade construída com Marifa, apelido e junção do nome Maria de Fátima, uma menina inteligente e cativante. O destino das amigas e das outras meninas não tem outro, pois já crescidas precisam ser transferidas para um orfanato e não podrão ficar mais no convento, no entanto, Padre Gusmão tem um sentimento diferente por Jandira e resolve por não enviá-la tornando-se seu tutor e responsável imediato.
Os anos passam e Jandira agora já consta 17 anos, sua primeira mágoa cultivada no coração foi pelo pai não ter cumprido com a promessa de buscá-la, além das mágoas que já sentia pelo tratamento das freiras. Ainda assim ela consegue conhecer e se apaixonar por Erasmo, aquele que viria a ser seu esposo.
A situação agrava quando o jovem casal vai morar na casa de Marina e Orlando, pais de Erasmo e sogros de Jandira, por falta de recursos já que estavam começando a vida. O casal vem a ter três filhas, são elas: Márcia, Marlene e Miriam, nomes escolhidos pelo marido que quis homenagear a mãe, senhora Mariana com a letra inicial de seu nome. O casal reside ali por longos 10 anos e durante esse período todo, Jandira sofre perseguição e ofensas pela sogra, que sem trégua a humilha constantemente, agravando ainda mais os ressentimentos da nora, que não consegue se desvencilhar das armadilhas da mágoa, alimentando pensamentos e sentimentos tão amargos e tornando-se uma pessoa cada vez mais fechada e azeda. E isso piora ainda mais quando Marina revela algo à nora de forma estupidamente humilhante sobre o passado de seus pais, motivos do qual se sente no direito de humilhar Jandira.
Aquele período passa e o casal vai viver em outra residência com as três filhas, Jandira porém alimenta os mesmos sentimentos de mágoa e acaba por diversas vezes tomando atitudes precipitadas e descontando nas pessoas erradas, o que trás grande desconforto no seu casamento e família, ficando assim cada vez mais sozinha, sendo evitada por todos, já que é difícil conviver com uma pessoa amargurada...
O livro passa a mensagem sobre como devemos vigiar nossos sentimentos e sobretudo como esperar o tempo agir, não nos precipitar. No caso de Jandira, ela sim foi abandonada em um convento, mas, por outro lado teve a oportunidade de ter uma vida mais religiosa, entrar em sintonia com Deus, pois nas armadilhas da mágoa que se embrenhou, ela perdeu esse contato íntimo com Deus, o hábito de orar e voltar seus olhos para as coisas boas do Criador e da espiritualidade benevolente. Deixou-se levar por falta de vigília e excesso de orgulho pelos caminhos da mágoa e da solidão, sempre tempestuosa, nunca silenciou a mente para enxergar os acontecimentos com outros olhos, ficando por assim dizer, cega para as coisas da vida, alheia a sua própria realidade, acordando para a realidade somente após ficar extremante só, perdendo grandes oportunidades de ser realmente feliz. Quantas pessoas não conhecemos que leva uma vida total de azedume, que tem respostas afiadas na ponta da língua, pronta para soltar suas farpas e ferir alguém? Como conviver como uma pessoas assim? O que fazer para auxiliar uma pessoa que nunca da o braço a torcer, mesmo estando já no fundo do poço?
Fiquei muito tocado em ler esse livro, tanto que não consegui parar de ler, um dos melhores que li do autor, mexeu muito comigo, embora não me sinta como a Jandira, conheço pessoas muito parecidas com a personagem principal, o livro me abriu um novo olhar para com essas pessoas, das quais eu vinha sendo muito intransigente e intolerante e embora não sejam dignas de piedade, são dignas de atenção e compaixão também, acredito que com essa leitura eu posso de certa forma ajudá-las, adentrando em seu mundo sem me intoxicar e sendo um pouco da Agnes por exemplo, uma personagem espetacular que aparecerá no decorrer da estória, trazendo grandes lições e fazendo a diferença.
Um estória muito linda e profunda, leitura mais que recomendada!
Frase destacada:
"Se a mágoa é um veneno altamente corrosivo, o perdão é o antídoto que cura todos os males provocados por ela."