Resenhas - A Gaveta de Aurélia

Arodahnos 21/01/2021

Romance epistolar com voz intimista e reflexiva
"A gaveta de Aurélia", de Samara Hartt foi uma linda surpresa. "A" fala de morte, escrita, amor e muitas outras coisas. É a amiga escritora com quem Aurélia se correspondia. As duas escrevem e pensam juntas, mas ouço mais a voz de "A". O fluxo temporal acontece no narrar dos dias, que se mistura com memórias do passado e vislumbres do futuro. Tudo acontece na troca de impressões e na reflexão do que se vive imiscuído ao que se lê, ao que se sente e ao que se recorda. De início, achei que se tratasse de um romance fragmentado, depois, fui percebendo que ele tem uma linha narrativa temporal, mas é o tempo da escrita - do rememorar e narrar os acontecimentos. É por isso que as datas das cartas não indicam um avanço cronológico. A memória não é linear e a escrita do que se vive demonstra essa característica de que o fluxo dos dias é atravessado por vários tempos. Em "A gaveta de Aurélia" enxerguei a teoria de Bergson em que já passei os olhos em algum momento, vi também Virgínia Woolf, mas o tom mais contundente, a nota mais forte, alude sem dúvida a Marguerite Duras, com sua intensidade melancólica e doce.
"A sua vida está toda em você", diz "A" para Aurélia em uma das cartas. E embora ela relacione a escrita com a morte em outros momentos, é como se ela também dissesse que a escrita é atravessada por sua vida e que a escrita se confunde consigo mesma. Escrever, no fim das contas, é uma repetição de si mesma, uma maneira de atravessar a vida.

Karol 06/08/2020

Instigante
Na gaveta de um móvel antigo, cartas de A. para sua amiga Aurélia desnudam a intimidade das duas mulheres, suas dores, seus medos, seus desejos e impotências diante da vida.