Leticia2513 16/07/2023
Passagens de Território Lovecraft
- Amo mesmo - concordara George. - Mas histórias são como pessoas, Atticus. Nós até podemos amá-los, mas não podemos alegar que são perfeitas. Sempre tentamos enaltecer suas virtudes e relevar seus defeitos, mas isso não faz os defeitos desaparecerem.
Para os que desejavam passar férias no exterior, a agência podia recomendar destinos relativamente livres de racismo local e, não menos importante, que não ficassem apinhados de turistas brancos americanos - pois nada era mais frustrante do que viajar milhares de quilômetros só para encontrar os mesmos racistas com quem você tem que lidar todos os dias no próprio país.
- essa é uma palavra vulgar - disse ele, encarando Atticus -, uma palavra típica dos homens simplórios. Não somos mágicos. Somos cientistas. Filósofos da natureza. Natureza - repetiu, batendo os nós dos dedos na mesa. - A natureza é sólida. Tem regras. As pessoas que ficam falando de mágica acreditam que tudo é possível. Isso não é verdade. Não dá para pegar uma varinha de condão e transformar chumbo em ouro. Não é assim que funciona.
É a vida. A vida não é justa, Ruby. Você tem que ser compreensiva, Ruby. Deus do céu, como ela estava cansada de ouvir aquilo! A vida não era justa mesmo, mas seria ótimo se de vez em quando uma pessoa, e não ela, tivesse que ser compreensiva.
Observando as demais mulheres, sentiu outra vez aquela estranha adrenalina, mas sua empolgação tinha menos a ver como uma opção específica e mais com a sensação de ter escolhas e possibilidades ao seu alcance.
QUEM VOCÊ QUER SER?
- Você estava perfeitamente consciente quando tomou a decisão. Mas o choque da transformação se somou aos efeitos do álcool e tudo acabou provocando um ataque de pânico, o que é perfeitamente compreensível; a mudança é mesmo um tanto assustadora.
Somos estudiosos da natureza, e a natureza tem regras, regras que não podem ser flexibilizadas nem quebradas nem negociadas, apenas compreendidas. E da compreensão vem o poder, o poder esse que pode ser demonstrado. De modo objetivo
- Não é só de notícias que carecem por aqui. É de tudo. Há todo esse sol… Mas nunca sinto calor. - Ele se voltou para Montrose de novo. - Nem frio. É isto - prosseguiu, apontando o chá e o biscoito -, isto não satisfaz. Não há doc no açúcar, não há sabor no sal. E é a mesma coisa com as emoções. Claro, podemos fingir, mas nunca passa de ecos vazios. Pode sentir alguma coisa outra vez, experimentar uma emoção forte, nem que seja por um instante… isso seria uma boa troca.
“Ele não sentia medo por ele. Era por mim. Ele queria me proteger. E conseguiu: tinha salvado a minha vida ao me tirar da linha de fogo. Mas a noite ainda não tinha acabado, e ele sabia que não seria capaz de cuidar de mim até tudo terminar. Aí residia o horror, a coisa mais abjeta: ter um filho que o mundo quer destruir, e saber que é incapaz de ajudá-lo. Não existe nada pior que isso. Nada pior.”
Queria saber tudo sobre tudo, e isso é muita coisa para se saber. Muito mais do que seria possível aprender ao longo de uma vida humana. Assim, para ganhar o tempo de que precisava, ele decidiu se tornar imortal: e chegar o mais próximo possível da onipotência.