spoiler visualizarVitorcfab 25/03/2023
Daughters Of Nri
O livro traz duas histórias paralelas, onde acompanhamos a trajetória de irmãs gêmeas separadas ao nascimento. Duas histórias totalmente diferente, com propostas, dilemas e desenvolvimentos diferentes, mas que se completam.
No arco de Naala, acompanhamos a garota em uma fuga para salvar a própria vida, depois que sua vila foi atacada pelo exército do Eze. Ela se junta a um estranho grupo de sobreviventes repleto de personagens interessantes, mas que geram desconfiança, uma vez que Naala não sabe suas reais intenções.
Na cidade de Nri, acompanhamos Sinai, uma garota que vive entre a nobreza, mas sofre com o bullying extremamente violento de um grupo de garotas. Porém, Sinai forma uma aliança com a cozinheira Meekulu, e concorda com a tarefa de espionar a nobreza.
O desenvolvimento desse livro me surpreendeu bastante, subvertendo algumas expectativas e ideias que tive a princípio.
Inicialmente, estava gostando muito mais da história de Naala, uma vez que seu arco narrativo envolvia problemas mais sérios e urgentes. Do outro lado, tínhamos apenas uma garota nobre e privilegiada sofrendo bullying, um arco narrativo que me deixava com um pouco de preguiça.
Mas, como falei, o desenvolvimento foi surpreendente. O arco de Naala, que já contava com uma premissa excelente, se torna cada vez mais interessante e cheio de potencial. E o arco de Sinai também evolui bastante, trazendo um grande desenvolvimento pessoal para a protagonista, além de reviravoltas e descobertas muito interessantes, que fizeram total diferença para o desenvolvimento da história principal.
Apesar de ser um livro de fantasia, não espere uma história repleta de magia ou eventos sobrenaturais. A magia existe e desempenha um papel importante, mas o foco do livro está totalmente direcionado para questões políticas, mistérios, planos para derrubar um governo opressor e desenvolvimento dos personagens.
Gostei muito da identidade africana que a autora trouxe para o livro, que está presente de diversas formas, como nos nomes dos personagens, termos, comidas, descrições dos lugares, organização social, as crenças, etc. A autora é Nigeriana, então acredito que ela saiba muito bem como fazer essa representação.
A construção dos mitos também conta com detalhes e histórias muito interessantes, principalmente a respeito dos deuses e o impacto que trouxeram ao mundo. Gostei também da premissa do vilão, uma vez que o Eze foi um homem que desafiou os deuses e saiu vitorioso, supostamente libertando o mundo.
De forma geral, acredito que esse livro se encaixe perfeitamente na estrutura em três atos, com "começo", "meio" e "fim". Particularmente, considerei os dois primeiros atos praticamente perfeitos, mas o grande defeito do livro veio no ato final.
A autora decidiu apresentar informações e conceitos novos nas últimas 50 páginas. A falta de construção ou preparação acabou me incomodando um pouco, uma vez que esses conceitos pareciam vindos do nada.
A conclusão do livro veio de forma extremamente apressada e abrupta, com a ameaça sendo resolvida de forma fácil, ao ponto de parecer que nunca existiu nenhum grande problema difícil de resolver.
Porém, os pontos positivos falaram muito mais alto, resultando em uma experiência de leitura extremamente agradável e divertida, que me apresentou à personagens maravilhosas e uma fantasia cheia de identidade africana. Com certeza lerei as continuações.
--- Protagonistas ---
Naala. Uma garota que vive em uma pequena vila do interior. Ainda que ela goste dessa vila, nunca se sentiu pertencente à esse lugar, e sabe que todos a vêem como uma estranha. Após sua vila ser atacada pelo exército do Eze, ela é forçada a fugir para tentar sobreviver. Naala foi a primeira pessoa que viu o exército se aproximando, e tenta com todas as forças alertar os demais moradores, mesmo quando eles a acusam de ser louca. O começo de sua história é marcado por muita violência, sofrimento e luto, mas isso também faz com que ela deseje vingança. Naala é uma garota observadora e desconfiada, principalmente com o grupo de sobreviventes ao qual se junta, pois não sabe direito os planos deles.
Sinai. Uma garota que vive na cidade de Nri, junto da nobreza. Porém, sua vida é um constante tormento, principalmente por conta das provocações e bullying violento que sofre de outras garotas. Sinai também tem uma personalidade tímida e submissa, com muita dificuldade de se posicionar contra suas opressoras. Porem, depois de muito sofrer, ela começa a nutrir uma certa sede de vingança. Sinai faz amizade com Meekulu, que promete ajudá-la, mas em troca pede que Sinai espione a nobreza. Ela tem um grande desenvolvimento e evolui muito ao longo do livro, ao ponto de parecer uma personagem muito diferente no final dessa história.
--- Núcleo de Sinai ---
Eze. O vilão da história, um homem que se considera a justiça, e em seu ponto de vista, acredita estar fazendo o melhor para o mundo, mesmo que suas atitudes sejam cruéis.
Meekulu. Uma cozinheira do palácio. Ela ajuda Sinai depois de um acidente, e se torna praticamente a única amiga da garota. Meekulu ensina muito a Sinai, e faz dela uma espécie de espiã que investigará a nobreza. Gostei muito dessa personagem, principalmente da ambiguidade que ela traz, pois durante muito tempo não consegui entender se ela era realmente uma aliada ou uma vilã usando Sinai. Sua amizade também é muito importante e significativa para o desenvolvimento de Sinai.
Ina. Uma garota bela e adorada por todos, mas que sente muita inveja de Sinai, o que faz com que ela atormente a vida da garota de inúmeras formas. Seu desenvolvimento me pareceu muito satisfatório, ainda que tenha uma reviravolta óbvia.
--- Núcleo de Naala ---
Kora. Parte de um grupo de sobreviventes que encontra Naala. Ela é a mais sensível e compreensível do grupo, que inclusive entende a dor de Naala, e lhe dá o espaço que precisa para viver seu luto.
Azu. O líder do grupo de sobreviventes, um rapaz que sabe observar e ponderar para chegar em soluções, ainda que tenha opinião forte.
Eni. Um rapaz que conhece de perto a vida no palácio, entende como os nobres vivem um estilo de vida fútil e prejudicial, principalmente em desrespeito à natureza.
Madi. Um dos integrantes mais importantes do grupo, e quem mais se aproxima de Naala. Ele tem um Irmão chamado Emeka, que trabalha no exército, e Azu quer usar o garoto em um plano para derrubar o Eze. Madi tem que lidar com a difícil tarefa de usar o irmão, além de descobrir algumas coisas muito tristes ao longo do livro, o que traz um pouco de desenvolvimento para ele. Sua amizade com Naala é um pouco complicada no começo, mas evolui para algo maior.