Cidades da planície

Cidades da planície Cormac McCarthy




Resenhas - Cidades da Planície


2 encontrados | exibindo 1 a 2


jota 17/04/2017

Os últimos caubóis...
Este volume finaliza a Trilogia da Fronteira - de que fazem parte Todos os Belos Cavalos e A Travessia - e como os demais encerra certa tensão entre americanos e mexicanos, que muitas vezes pode culminar em violência e morte. Desta vez, no entanto, não são cavalos roubados de uma fazenda nem o espírito aventureiro dos jovens americanos a conduzi-los para aventuras e desventuras no país vizinho.

Em terras mexicanas o peão John Grady Cole se apaixona perdidamente por uma jovem prostituta doente. Seu amigo Billy Parham tenta dissuadi-lo desse envolvimento, ainda mais que Magdalena também é cobiçada por seu cafetão mexicano, Eduardo, a quem está presa por dívidas. Em inúmeras ocasiões Billy pede ao amigo quer desista da garota, sabe que as coisas podem terminar mal para Cole, mas este não lhe dá ouvidos. No entanto vai ajudá-lo mais à frente, quando o amigo tenta comprar a liberdade de Magdalena.

Quem leu os outros livros da trilogia pode imaginar como este vai terminar: na morte de alguém, claro. E não teremos apenas um cadáver desta vez. Mas antes que isso ocorra acompanhamos uma história narrada de modo oblíquo, fragmentado, mais ou menos como se estivéssemos lendo um William Faulkner do sudoeste americano (a escrita de McCarthy já foi comparada por críticos literários à do grande escritor sulista).

Estamos nos anos iniciais da década de 1950, ecos da guerra na Europa ainda são ouvidos através da conversa dos protagonistas, que tanto montam cavalos quanto utilizam caminhões e automóveis para locomoção e serviços. Mais do que em pastos, campos e fazendas, como o próprio título aponta, esta é uma história sobretudo urbana, passada em cidades fronteiriças.

O que parece não mudar muito é a cultura dos caubóis que trabalham como domadores de cavalos nas fazendas, feito Cole, Billy e outros peões. Também cuidam das cabeças de gado, claro. As coisas entre os homens são ditas com poucas palavras, as frases são curtas e nem sempre são pronunciadas completamente, mas eles se entendem assim mesmo, por vezes através de resmungos e olhares apenas. É um mundo próprio, à parte, que será modificado para sempre para Billy e Cole a partir do momento em que este último se envolve com Magdalena.

Confesso que senti grande desconforto ao ler Cidades da Planície, se bem que os outros dois volumes também contém cenas bastante violentas (os demais livros de McCarthy que li também: Meridiano de Sangue e A Estrada). Não apenas por conta da briga fatal entre os homens como consequência da malograda fuga de Magdalena do prostíbulo, também por uma caçada aos cães selvagens que matavam os bezerros do fazendeiro para o qual trabalhavam os jovens caubóis. Enfim, ninguém lê impunemente uma história de Cormac McCarthy.

Lido entre 01 e 16/04/2017.
comentários(0)comente



Aguinaldo 02/02/2011

Cidades da Planície
Com "Cidades da planície" Cormac McCarthy termina sua trilogia da fronteira. No primeiro volume John Grady Cole e seus companheiros adentram um México idílico sabendo apenas como se comportam os cavalos e não os homens. Ali Cole conhece o amor e as perdas capitais. No segundo volume Billy Parham três vezes cruza a fronteira entre os Estados Unidos e o México em busca de algo, mas nas três vezes fracassa. Neste último volume encontramos Cole e Parham trabalhando em uma grande fazenda do sul dos Estados Unidos, como domadores de cavalos. A segunda guerra mundial já acabou e o mundo dos vaqueiros é algo anacrônico mesmo para aqueles que nele vivem. A América de 1950 é contrasta com aquela que saiu dividida e selvagem de sua guerra civil (em 1870). O livro é dividido em quatro capítulos e um epílogo. Cole e Parham vivem de suas habilidades com o gado e os cavalos. Cole se apaixona por uma garota mexicana que trabalha em um bordel. Apesar dos conselhos de seu empregador, de um pianista cego (que lembra, claro, Homero) e de seu amigo Parham, Cole decide primeiro convidar a moça a sair do bordel, depois comprá-la de seu cafetão e por fim forçar sua saída. Após todos estes sucessos não surpreende o leitor encontrar um final trágico para esta história (os ecos gregos retumbam em toda a trilogia). O combate singular entre Cole e o cafetão, armados de punhais, é muito plástico, muito bem escrito. No epílogo encontramos Parhan velho e empobrecido, mas sem rancor. Ele ouve os sonhos de um sujeito que encontra em um bar (este sujeito bem pode ser a morte, curiosa da versão de Billy sobre suas histórias e seus sonhos). Ambos dividem longas reflexões sobre a vida e a morte, sobre o contínuo fluxo de gerações e sucessos. Por fim se hospeda na casa de uma família típica do rico e poderoso Estados Unidos em que seu país se transformou. Sonha com seu irmão. Se este é um livro menos movimentado que os dois anteriores, ainda assim é muito bom. Trata-se de uma espécie de coda, algo que leva o leitor a refletir, a filosofar, com vagar e precisão. Esta trilogia entra sim na minha cota dos belos livros. [início 06/05/2010 - fim 10/05/2010]
"Cidades da planície", Cormac McCarthy, tradução de José Antonio Arantes, editora Companhia das Letras, 1a. edição (2001), brochura 14x21 cm, 343 págs. ISBN: 978-85-350-0133-7
comentários(0)comente



2 encontrados | exibindo 1 a 2


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com a Política de Privacidade. ACEITAR