@menos.uma.pagina 02/11/2023
A eminência do amanhã
Um senhor português, que ficou viúvo há pouco tempo, é colocado pelos filhos em um asilo, local onde definitivamente não queria estar e onde, dia após dia, se vê confrontado pelo fantasma da velhice.
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Valter Hugo Mãe escreve uma narrativa de delicadeza realmente comovente. Uma história que fala ao mesmo tempo da experimentação da velhice, junto das limitações que a acompanhem, e da história de seu país, Portugal. O texto intercala os momentos do asilo, com fragmentos da memória do protagonista que vivenciou o período da ditadura de Salazar naquelas terras.
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É um livro sobre memórias, pode-se dizer. As memórias que muitos portugueses carregam, de um Portugal antigo. O autor injeta na história o patriotismo belo que os portugueses têm por sua nação, introduzindo o Esteves sem metafísica da Tabacaria de Fernando Pessoa e adotando na narrativa o estilo de minúsculas e pontuação reduzida característico de José Saramago.
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Entre idas e vindas no tempo, António, o protagonista, confronta a realidade e fardo de que a memória e as lembranças, podem ser o conforto e ao mesmo tempo o desconforto das pessoas daquele lar. Um lugar que mescla humor e melancolia, nascendo novamente sempre que um de seus habitantes parte.
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Foi uma das histórias mais comoventes que eu li até agora, o autor pincela as páginas de uma escrita poética, ao mesmo tempo humorada, dramática e sincera sobre a velhice. É um dos livros que eu definitivamente sempre recomendarei. E vocês, já leram?