renatocaldas 07/04/2022
Realmente: um livro sobre loucura.
Essa é a primeira obra de Élie Wiesel a que tenho acesso, já constando uma segunda (Noite) na minha fila para leitura. Contudo, acredito que esta seja uma obra especial, não somente pela forma peculiar como Wiesel escreve. A maneira pouco comum, faz uso de uma fluidez, de uma “corrência” que se assemelha não ao texto escrito, mas ao falado e mesmo o pensado. Certas vezes, cai como uma luva, outras dificulta um pouco o entendimento do que se quer dizer. Mas a verdade é que “Uma Vontade Louca de Dançar” é dos livros mais estranhos que já li. Em certo ponto, acreditei que seria de rápida leitura, mas não foi. Apenas 308 páginas (na minha edição), que pesaram como se fossem 3080. E por tratar de uma suposta “loucura” do personagem principal – que, no meu entendimento leigo, é na verdade uma forte carga traumática associada à depressão – a forma como Wiesel escreve vai te deixar realmente mentalmente desorganizado, e isso te dá um vislumbre de “loucura”. Um capítulo se passa em sua infância, o capítulo seguinte em um consultório de sua psicoterapeuta, onde se abre um “subcapítulo” que narra a história da mãe de Wiesel na resistência aos nazistas, e depois uma viagem de ônibus por Nova Yorque... Tudo muito desorganizado (e acho que de forma proposital), com uma quantidade de personagens pouco ou nada correlacionados, justamente pelas histórias nas quais cada um está contido não serem histórias concatenadas em fatos ou relevância. Mas o livro tem um sentido, tem mensagens bonitas e frases para se escrever em um caderno de anotações e serem relidas mais tarde em outros contextos do leitor. Wiesel também introduz o leitor geral a elementos de sua cultura, religião e filosofia de vida (Élie Wiesel era judeu) para, então, tudo se acabar de forma súbita e num caminho que não tem nenhum dos fatos narrados até então como base para o encerramento. Se Élie Wiesel queria, ele próprio, parecer maluco: ele conseguiu. “Uma Vontade Louca de Dançar” não é um livro que eu vá ler novamente. Terminei com um sentimento de alívio, mentalmente cansado dele e em busca de algo mais leve para ler em seguida. Bela obra. Mas, ok: passou. Ainda bem!