Ari Phanie 15/04/2021A Perspectiva da obstinada Princesa da Espanha
Eu me lembro de ter sido viciada na série The Tudors, como hoje sou viciada em The Crown. Eu adoro séries e filmes sobre as monarquias. E The Tudors, eu gostava muito mais pelo apelo sexual do que pelos fatos históricos. Jonathan Rhys-Meyers e Henry Cavill eram o que a TV tinha de melhor pra mim em 2008. Sempre gostei da Dinastia Tudor porque era um escândalo atrás do outro, e quando eu via filmes e afins, achava que Hollywood dava uma exagerada. Aí fui ler a sério o que a História tem para contar sobre esse período e rapaz...
Tudo o que eu sabia sobre Catarina de Aragão, a primeira esposa de Henry VIII, eram os fatos mais propagados da história: a mulher traída, renegada e abandonada em favor de outra mais jovem. Aquela que alegou firmemente, até o fim da vida, ser a verdadeira Rainha da Inglaterra, mas que se viu no meio de um escandaloso divórcio que causou a separação do país com a Igreja Católica. Você ler ou assiste algo sobre a Catarina de Aragão e o fica sempre marcado é o quanto a mulher sofreu pelos caprichos de um moleque que tinha poder demais. Felizmente, Philippa Gregory tinha muito mais pra mostrar sobre essa Catarina de Aragão do que simplesmente uma rainha sofrida e preterida.
O livro começa com Catarina ainda criança, na Espanha, assistindo aos seus pais lutando contra os Mouros. Desde a mais tenra infância, a Infanta sabe que foi feita para coisas grandiosas. Ela sabe que será princesa de Gales, e consequentemente, Rainha da Inglaterra. Quando alcança idade suficiente (16 anos!), Catarina é finalmente mandada para a Inglaterra para se casar com Arthur, príncipe de Gales, o primogênito Tudor. Ao chegar, a princesa sofre uma dupla decepção. A Inglaterra é uma terra fria e selvagem, para ela. E os Tudor lhes parecem igualmente frios, e selvagens. Mas Catarina cumpre perfeitamente com o que lhe é exigido. Ela e Artur demoram a se entender, mas uma vez que acontece, eles se apaixonam e criam muitos planos juntos. A história de amor dos dois é bonitinha; Philippa escreve sem recorrer a exageros, o que sempre me agrada. Mas os dois não tem muito tempo para curtir um ao outro e colocar seus planos em ação. Arthur morre de uma doença chamada febre do suor, e em seu leito de morte, Catarina lhe promete ser exatamente o que estava destinada a ser: Rainha da Inglaterra. Na minha perspectiva, com promessa ou sem promessa, Catarina faria o que fosse necessário para cumprir o destino a que ela tinha tanta certeza ser a vontade de Deus. E com a “mentira” de que continuava virgem, a princesa viúva conspira para se tornar a noiva de Henry VIII. Mas ela amarga longos anos de espera, vivendo na penúria por causa do despeito de seu sogro. No entanto, no final, consegue o que quer. Finalmente, se transforma na Rainha da Inglaterra, casada com o jovem, audacioso e intempestivo Henry, que no começo, é apenas um menino encantado por ela. Mas a gente sabe como a história termina.
Philippa Gregory fantasiou algumas coisas sobre a história de Catarina, como o romance com o idealista Arthur. Na realidade, não ficou comprovado se Arthur foi capaz de consumar o casamento com Catarina. Mas no tribunal eclesiástico, Henry fez o possível para provar que Catarina não era virgem quando se casou com ele, portanto, seu casamento seria inválido. Se foi consumado ou não, o fato nunca ficou claro, mas Henry conseguiu o que queria no final, rompendo com a Igreja Católica para poder se casar de novo e finalmente ter o herdeiro homem que tanto desejava. É imensamente SATISFATÓRIO saber que não importa o que tenha feito contra sua primeira rainha e sua própria filha (só pelo fato de ser mulher) Mary I foi Rainha da Inglaterra, como era seu direito e como Catarina queria.
Eu não esperava muito desse primeiro livro da Dinastia Tudor. Eu não sabia muito da Catarina de Aragão, apesar de na série The Tudors, ela ter sido forte e decidida. Eu confesso que nunca torci por ela. Daí quando eu conheci Six – o Musical, eu pesquisei bastante sobre as Rainhas de Henry. Elas foram corajosas até o último minuto, principalmente por aguentar um pedaço de merda igual àquele rei. Hoje gosto de cada uma delas, mas talvez Catarina seja a minha preferida. Apesar dos pesares, também gosto da Ana Bolena, ela foi ainda mais conspiradora e ainda mais poderosa do que Catarina. Mas acabou como outra vítima de Henry. A figura de Ana Bolena carregou por séculos uma má fama, mas ela era não era a vilã da história. O vilão foi só um e apenas ele: Henry VIII. Eu espero que suas seis esposas tenham encontrado a paz que Henry lhes tirou em vida.
Apesar desse ser um livro criticado pelos historiadores (por causa da coisa com a mentira da virgindade), eu adorei, e recomendo. É uma boa forma de ter outra visão de quem talvez tenha sido Catarina de Aragão. Recomendo também The Spanish Princess e Six; ótimas homenagens a essa grande Rainha.