Mente Cativa

Mente Cativa Czeslaw Milosz




Resenhas - Mente Cativa


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Miguel.Moreira 20/11/2023

Mente Cativa – Czeslaw Milosz
Numa tentativa de convencer os jovens revolucionários da realidade em que é viver num sistema totalitário – chamado de democracia do proletariado, porém que mais se adequa à uma ditadura – o autor não tem a intenção de pregar uma ideia em oposição, mas se dedica a, simplesmente, descrever o regime comunista em que viveu, e do qual foi um dos agraciados pelo Partido, esbanjando dos privilégios de ser um escritor onde não há oposição, e coitado daquele que cogitar opor-se ao Partido.

Por muito tempo, Milosz tapou seus olhos para as atrocidades do comunismo soviético, mas uma hora a verdade abre seus olhos, o que o leva a escrever esta obra. Para expor o real sistema, o autor nos apresenta alguns conceitos como Ketman (que é basicamente uma espécie de Establishment), Murti-Bing (que é como Soma de Brave New World de Aldous Huxley, uma espécie de pílula da felicidade, que anestesia quaisquer sofrimentos dentro do sistema totalitário, impossibilitando a população de enxergar a realidade como tal).

Somos apresentados ao Método: basicamente a forma de instalar o comunismo num país, ocasionando numa extinção de valores, fim da propriedade privada, fim da família, fim da religião, e uma série de deturpações na realidade. E com isso, somos levados a quatro casos reais de escritores contemporâneos de Milosz que foram vítimas (e cúmplices) do regime Comunista: Alfa, Beta, Gama e Delta (são pseudônimos de escritores reais, revelados nas notas deste edição).

O livro é bem difícil, porém extremamente necessário. Mas para o trabalho de conversão de um jovem socialista, talvez seja complexo demais, e apenas os mais alfabetizados terão cognição suficiente para entender o livro, e uma parcela menor terá maturidade para enxergar a realidade e mudar de opinião.

Leitura obrigatório para entender o comunismo (e socialismo) da forma mais verídico, pois o autor mesmo sendo de opiniões mais à esquerda critica seu próprio lado e nos dá uma lição de humildade para os leitores. Uma pena eu não ter conhecido o autor antes (que inclusive ganhou Nobel na década de 80).
Vania.Cristina 20/11/2023minha estante
George Orwell, que era socialista democrático, achava que Stalin tinha desvirtuado o sonho russo do comunismo. Que a partir dele já não era mais comunismo e sim totalitarismo. Milosz fala dos problemas desde Stalin ou desde o início da revolução?


Vania.Cristina 20/11/2023minha estante
Essa deturpação de valores a gente vê em todos os regimes totalitários né, inclusive nos de direita. A Fazenda dos Animais que o Orwell escreveu mostra bem como a história é apagada e alterada e surgem as fake news. Aqui no Brasil a gente vê a extrema direita fazendo isso. Ou seja, totalitarismo é totalitarismo, não importa qual ideologia defenda, cai sempre na mesma fórmula de opressão.


Miguel.Moreira 20/11/2023minha estante
Ele fala do resultado que tal ideologia causou nos países invadidos pela União Soviética. Ele não aborda exatamente do início da revolução russa, mas fala do Método usado para angarir jovens, como uma Nova Fé.

Sim, totalitarismo é possível em todas as ideologias, mas cabe muito facilmente no socialismo e comunismo, pois abolir o direito à propriedade privada, e a concentração da riqueza no Estado não me parece uma boa ideia.

A crítica do autor é especificamente ao regime comunista. E detalhe, o autor continuou sendo de esquerda, e não passou pano nem pra ele mesmo, algo difícil de acontecer nas ideologias (expor as falhas e as atrocidades).


Vania.Cristina 20/11/2023minha estante
Entendi, Miguel. Acho importante essa autocrítica. Se entendi bem o autor era daqueles escritores que escreveram o que o governo russo queria então foi privilegiado por causa disso. E depois abriu os olhos para o que estava acontecendo. Realmente muitos intelectuais de esquerda demoraram pra entender e aceitar que o governo russo era totalitário. Isso no mundo todo. Acabei de ler A Fazenda dos Animais e entendi que era sobre isso que o Orwell estava falando. Ele defendia um socialismo construído através da democracia. É o que me parece mais correto.


Vania.Cristina 20/11/2023minha estante
A gente vê realmente estrago nos países invadidos pela Russia. Livros poloneses e tchecos falam sobre isso. Aí já acho que entra uma outra coisa nessa equação: o imperialismo russo. Imperialismo é outra doença que faz muito mal pro mundo.


Vania.Cristina 20/11/2023minha estante
Imperialismo+ totalitarismo + fake news para confundir as massas. Ninguém merece


Miguel.Moreira 20/11/2023minha estante
Exato, ele era um dos escritores licenciados pelo Partido.


Miguel.Moreira 20/11/2023minha estante
Um livro em complemento é A Guerra contra o Ocidental do Douglas Murray. Apesar da aperente desconexão de temas, esses livros se complementam.

O livro do Murray é basicamente um manifesto "reacionário", que expõe o que Milosz expôs, porém Douglas Murray é um cara mais para a direita liberal (se eu entendi bem a ideia dele).


Aline Maia 21/11/2023minha estante
Lendo sua resenha me veio a mente dois livros que também podem completar o que Milosz apresenta em "Mente Cativa". O primeiro é "Escuridão ao meio-dia" (não pegue a tradução com título "Do Zero ao Infinito"), uma distopia que inclusive inspirou Orwell a escrever 1984. O segundo é "As Ideias Têm Consequências", nesse você será provocado a repensar os conceitos de hierarquia e democracia. É um livro que abre os olhos de muitas pessoas. Também indico um filme: "A Vida dos Outros".


Aline Maia 21/11/2023minha estante
Gostei dos comentários aqui, mas acho válido também falar que a esquerda solta muuuuitas fake news também. Além de que, quando é radical não consegue ter respeito e estar aberta a ouvir quem pensa diferente...


Vania.Cristina 21/11/2023minha estante
Aline, da mesma forma que os grupos que se dizem de esquerda muitas veze sãoi machistas, homofóbicos. Na edição especial da Fazenda dos Animais da Cia das Letras tem um texto de uma autora (não estou lembrando o nome dela agora) que analisa o livro pela perspectiva da repetição de uma sociedade patriarcal. Faz-se a revolução, muda-se os que estão no poder, mas continua sendo o macho dominante no poder e os costumes de antes. Achei essa perspectiva muito interessante. Como não se fez a revolução social, de fato, as coisas se repetem. Eu me considero uma pessoa de esquerda, mas estou ciente que muitos dos nossos problemas são estruturais e discursos não bastam. A mudança tem que estar no comportamento. Eu sou super aberta ao diálogo com as pessoas diferentes. Só acho impossível dialogar com a extrema direita, porque aí não há como ter diálogo, a meu ver.




M. S. Rossetti 18/03/2023

Prêmio Nobel de Literatura em 1980
Tenho lido pelo menos um livro de cada autora e autor laureados pela premiação sueca. E este escritor venceu o Prêmio Nobel de Literatura no ano do meu nascimento, o que me motivou a conferir todas as edições brasileiras disponíveis de sua obra.
Já havia lido "O Vale do Issa" (romance) e "Não mais" (poesia). Acabei de concluir a leitura de "Mente Cativa" (ensaios).
Neste livro, o autor dedica-se a esmiuçar os impactos psicossociais nas pessoas subjugadas a governos autoritários, tanto de esquerda quanto de direita.
Uma retomada histórica do totalitarismo em alguns países, principalmente nas imediações da Lituânia (seu país natal) e da Polônia.
Destacam-se a ironia e a escrita incisiva na problemática proposta no livro.
Leitura profunda e ao mesmo tempo agradável de um grande escritor mundial.
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Monique 26/02/2023

Mente Cativa
Como testemunha ocular dos acontecimentos durante e pós segunda guerra mundial, Mi?osz analisa a transformação ideológica que ocorreu na Polônia na II Guerra Mundial e a origem desse fenômeno. O que motivou homens que lutaram contra o totalitarismo a ceder e ajudar a propagar o Regime Soviético na Polônia?

A Mente Cativa foi uma leitura muito difícil de levar até o final, foi bem arrastada para mim, pois exigiu muitas pausas para pesquisar os acontecimentos da época e entender o contexto histórico ao qual o autor estava se referindo. No entanto, valeu muito a pena a leitura, as pesquisas me trouxeram uma dose extra de conhecimento sobre a história da Polônia no período durante e pós segunda guerra e uma reflexão sobre as diversas formas que regimes totalitaristas utilizam para cercear a liberdade humana.

Além disso, foi muito legal conhecer um pouco sobre a história do autor Czes?aw Mi?osz, um autor pouco conhecido no Brasil, mas com uma biografia muito admirável e um trabalho muito importante na exposição dos horrores causados pelos regimes políticos totalitários.
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Aline Maia 25/02/2023

Mente Cativa é um livro que apresenta várias memórias e reflexões que Czeslaw Milosz teve no começo da década de 50. Dado o momento da escrita e a trajetória de vida do autor, esse ensaio é cheio de informações impressionantes sobre o que acontece em uma democracia popular, especificamente com escritores/artistas.

Por ser poeta e ter tido uma vida acadêmica, Milosz constrói uma explicação do que é viver em um estado totalitário no oriente através de conceitos e histórias presentes na literatura. Ele inicia o livro apresentando o conceito de Murti-Bing: uma pílula que aparece como uma solução para as mazelas da mente e que ao ser tomada traz uma felicidade que a longo prazo se revela oca. E com base nessa premissa que a magia acontece.

Milosz nos convida a entender a mente de uma pessoa da Europa Central e Oriental naquela época construindo personagens a partir das histórias de colegas de profissão ou um sujeito que anda pelas cidades de uma democracia popular. Nos é apresentado o que pensam sobre os ocidentais, o que sentem durante a ocupação nazista e também como se adaptam à ocupação do Centro com a aplicação da Nova Fé.

Mente Cativa tem trechos complexos que demandam mais atenção para serem compreendidos, mas também possui capítulos que passam voando. É um livro para ser degustado com calma, aproveitando cada palavra e pensamento. Deveria ser leitura obrigatória para todos que estudam sobre o socialismo. Acredito que ia abrir os olhos e a mente de muitas pessoas.
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Carol 19/02/2023

O livro é uma análise da natureza do pensamento totalitário e sua influência na cultura europeia, especialmente na Europa Oriental. Milosz explora as raízes históricas e filosóficas do totalitarismo, investigando como as ideias e ações dos regimes totalitários afetam a vida cotidiana das pessoas, assim como sua psicologia individual e coletiva.

Milosz descreve a situação na Europa antes do início da Segunda Guerra Mundial, abordando as tensões políticas e sociais que levaram ao surgimento de regimes totalitários. Ele também narra suas próprias experiências como um poeta e intelectual polonês no contexto de uma sociedade em transformação.

O autor argumenta que a mente cativa é um estado em que o indivíduo perde sua liberdade interior e se submete completamente à autoridade externa. Esse estado pode ser provocado por várias formas de opressão, como regimes políticos totalitários ou mesmo pela manipulação de ideias na cultura popular.

Mente Cativa é uma obra que oferece insights profundos sobre as condições sociais, políticas e culturais que levam à opressão totalitária. Milosz argumenta que a luta contra a mente cativa exige uma compreensão profunda do pensamento totalitário e das estruturas sociais que o apoiam. Ele também destaca a importância da criatividade e da independência intelectual como formas de resistência contra a opressão. Em resumo, é um livro importante para qualquer pessoa interessada em entender as ameaças à liberdade humana e as condições necessárias para a sua preservação.
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