Fazendo Filmes

Fazendo Filmes Sidney Lumet




Resenhas - Fazendo Filmes


3 encontrados | exibindo 1 a 3


Juan 28/05/2020

Fazendo Filmes – Crítica do Livro de Sidney Lumet – Clube de Cinema Outubro
Em um encontro com Akira Kurosawa, Sidney Lumet perguntou a motivação do mestre do cinema japonês para filmar determinada tomada em Ran. “A resposta foi que se tivesse colocado a câmera uma polegada para esquerda, a fábrica da Sony apareceria na tomada, e se colocasse para a direita veríamos o aeroporto – nenhuma das duas paisagens cabia num filme de época”.

Só quem faz um filme sabe o motivo de filmar de determinada maneira, as motivações nem sempre são artísticas. No set, sempre pesam diversas questões desde orçamento até o clima. O livro serve tanto a estudantes, curiosos e interessados em conhecer um processo de produção de uma obra cinematográfica.


Uma menção importante a se fazer é a preocupação do cineasta com as relações de gênero no set de filmagem. De acordo com Lumet, quando começou a trabalhar no cinema, a única função técnica desempenhada por mulheres era na montagem. Quando produziu o filme Doze Homens e Uma Sentença, as mulheres poderiam ser dispensadas do júri, simplesmente por serem mulheres. O contexto qual foi educado e cresceu tinha seus problemas e defeitos. O machismo estava e está impregnado em tudo, inclusive no cinema.

Logo, quando utiliza o pronome masculino, o cineasta diz estar se referindo a ambos os sexos e reconhece as desigualdades no mundo audiovisual. Isso não o faz um partidário do feminismo, mas alguém com consciência dos problemas da nossa sociedade. Lumet morreu em 2001, antes de ver as mudanças no Oscar e o movimento #metoo.


É importante destacarmos as preocupações éticas do cineasta descritas no livro. Com elas, temos uma ideia de quem era o autor e qual imagem tinha sobre si. A meu meu ver essa imagem é simpática. Quando fala de sua relação com os atores é sempre de forma respeitosa. Afirma não gostar da tensão, nem da pressão sobre a equipe. Não se omite do erro em ter dado um tapa no rosto de uma atriz para tentar retirar dela lágrimas e ainda diz, “…tive a certeza de que nunca mais faria uma coisa daquelas. Se não podemos conseguir uma coisa por meio da habilidade artística, diabos a levem. Encontraremos outra coisa que sirva tão bem quanto ela”.

Essa preocupação de Lumet com a questão de gênero e com os assédios não se estende às relações de trabalho. Entendo o humor, mas soa pejorativo e cria um estereótipo equivocado, quando fala dos motoristas. Durante todo o livro eles aparecem como uns folgados e deslocados no set de filmagens. Ninguém é perfeito e não tenho santos entre as pessoas que admiro. Os comentários feitos por Sidney Lumet não o faz pior ou melhor, mas dizem muito sobre a classe a qual ele pertence.

O ponto de vista do diretor

É importante destacar, o livro é escrito a partir do ponto de vista do diretor. Logo, todas as áreas do fazer cinematográfico estão escritas a partir desse ponto de vista. A parte da música e trilha, por exemplo, não tratam da feitura diretamente, mas de como o diretor toma suas decisões. O mesmo com a fotografia e a montagem. O mais importante desses capítulos do livro é entender o quão importante é a liderança na direção do filme.


Lumet consegue mostrar como dirigir não é apenas dar ordens, mas conciliar diversos talentos na produção de um filme. Diferente do livro de Mamet ( leia aqui o texto), transcrito das palestras feitas por ele, Fazendo Filmes consegue dar uma belo panorama da direção de cineasta dentro da indústria cinematográfica americana. Livro soa como uma série de anedotas, como o de Mamet, mas com uma organização melhor dos detalhes e da etapas da produção de um filme.

O livro não vai falar de cinema alternativo, nem da luta pelo orçamento para a produção de filmes de diretores fora da indústria. Digo isso, pois a luta de Lumet está em produzir arte dentro da pressão da indústria. Ele tem orçamento, estúdio e exibição. Uma realidade bem diferente da realidade brasileira e de países subdesenvolvidos. Mesmo assim, a leitura traz lições importantes. Dito isso, ler o livro sem saber da realidade qual vivemos pode ser desesperador.


Acasos Felizes

“Dependo do grau de complexidade da produção física do filme passei já dois meses e meio a seis meses fora cuidado da pré-produção” conta Lumet no livro. Novamente, somente quem faz um filme ou quem estuda isso, sabe o quanto é trabalhoso iniciar as filmagens. Para o diretor, o filme começa com a chegada do roteiro em sua mesa. Caso o roteiro esteja ok, algo raro, passamos para a parte da pré-produção, mas como ele mesmo diz, dependendo do roteiro, o trabalho até a pré produção é longo.

Ninguém sabe se o resultado dos meses de preparação irão resultar nos acasos felizes, como fala Lumet, mas o trabalho do diretor é planejar. Para ele, não é fácil explicar o motivo de alguns na primeira mão produzirem arte e alguns nunca. O que se deve fazer é preparar o trabalho, planejar. Sem planejamento não existe filme.

Durante o planejamento devemos ter em conta a inevitabilidade da trama. Algo descrito por Mamet também. Num drama bem-feito sentimos o fim como algo natural à trama. Isso não significa o fim da surpresa, mas em tornar a surpresa algo real a história dos personagens. Não podemos utilizar um recurso qual não tenha sido mencionado ou deixado pistas durante a trama. O filme deve ser inevitável.


Nunca devemos amenizar a violência ou mudar algo pensando em como o público vai entender ou gostar. Lumet cita o roteirista Paddy Chayefsky, que diz: “Há dois tipos de cena: a cena de alisar o cachorro e a cena de chutar o cachorro. O estúdio quer sempre uma cena de alisar o cachorro para que todos possam dizer quem é o herói”. Ou seja, os produtores sempre irão pelo caminho mais fácil, pelos clichê, pelo caminho já conhecido. Devemos fugir disso.

Roteirista

É interessante como Lumet se refere ao cinema de autor, roteiristas que são também diretores. Segundo ele, uma tolice. Não sei bem o motivo dessa crítica, mas imagino que como um homem da indústria, Lumet não acreditava no filme como uma produção de autores, mas coletiva. Algo difícil de determinar, pois é uma opinião qual ele não desenvolve, apenas joga.

O cinema de autor seria a causa de muitos bons escritores não desejarem trabalhar como roteiristas. Segundo o diretor, o cinema não tem dado o devido respeito aos roteiristas.


“Eu venho do teatro. Lá o trabalho do escritor é sagrado. Realizar a intenção do autor é o principal objetivo de toda a produção. A palavra “intenção” é usada no sentido expressar o motivo do autor ter escrito a peça. De fato, como determina o contrato do Dramatists Guild, autor tem a palavra final em tudo – elenco, cenários, figurino, diretor – inclusive o direito de encerrar a peça antes de ela estrear se não está satisfeito com o que vê no palco. Sei de uma ocasião em que isto aconteceu. Fui criado com o conceito de que a pessoa que teve a ideia inicial, que passou pela angústia de colocá-la no papel, era quem tinha de estar satisfeita”.

O estilo e a crítica

O estilo é a forma como contamos a história. São as escolhas na decupagem e a forma como gerimos o set que irão determinar o estilo do filme, mas também o roteiro veio com parte do estilo. O filme sempre começa com duas decisões: De que trata a história? Como devo contar?


“Discussões de estilo como algo totalmente desligado do conteúdo do filme me deixaram furioso”, conta Lumet. “A forma segue a função – nos filmes também. Eu percebo que há muitas obras de arte que são tão belas que não precisam de qualquer justificativa. E talvez alguns filmes não quisessem outra coisa senão ser belos, ou ser apenas um exercício ou experimento visual. E os resultados podem ser extremamente emocionais porque só devem ser belos. Mas não comecemos a usar os termos empolados como ‘técnica visual ideal da tragédia’”.

Essa fúria de Lumet pode também ser lida ao falar dos críticos. Segundo ele, um crítico escreveu sobre como a montagem de Dede Allen era algo reconhecido, característico de cada filme. Para o cineasta ele ter escrito isso é um absurdo, a montadora segue exatamente as orientações do diretor. Ou seja, o trabalho de criação da montagem está em realizar exatamente as instruções do diretor.

Essas e outras anedotas recheiam o livro de Lumet, mas sempre com um objetivo simples, explicar a função do diretor. Logo, quem quer aprender sobre cinema não deve deixar de ler o livro, muito menos ver os filmes do grande Sidney Lumet.

João Diego é jornalista formado no Bom Jesus Ielusc, em Joinville. Especialista em cinema pela Universidade Tuiuti do Paraná e escreve sobre cinema há quatro anos No blog Clube de Cinema Outubro

site: https://clubedecinemaoutubro.wordpress.com
comentários(0)comente



Rumenig 10/07/2011

Relatos sobre a produção de um filme
Sidney Lumet escreveu um ótimo livro sobre a rotina e os desafios de um diretor de cinema. Suas memórias e relatos são extremamente úteis para qualquer um que queira se tornar diretor.

Ele relata suas histórias sobre todas as etapas de produção de um filme, da análise do roteiro até a pré-estreia, passando pelos ensaios, gravações e montagem.

Porém, para mim, seu livro funciona apenas como um relato de acontecimentos do que aconteceu na produção de seus filmes, pois não concordo com a abordagem e interpretação dos fatos propostos pelo diretor. Vejo Lumet como um diretor técnico e disciplinado, que zela para que o filme seja bem realizado, mas não como um artista que realmente acredita na obra que está fazendo. Ser diretor era sua profissão, e é exatamente esse o ponto de vista exposto, o de um profissional, não de um artista. Não quero dizer que não existe arte em seus filmes, mas quero dizer que a arte é expressa através dele, pelos atores, fotógrafos e roteiristas, mas ele em si não faz a arte. Em momento algum ele fala sobre o processo criativo e a angústia de conceber uma idéia nova e original através de sua direção. Sidmey Lumet é um ótimo realizador de filmes, realizador de idéias de outros e potencializador da expressão artística do resto de sua equipe, porém ele em si, não é um artista. Mas admito que em seus filmes existe arte e ele tem uma grande contribuição para que a arte possa ter florescido no filme.

Não estou o criticando, há muitos bons filmes que ele fez, mas apenas digo o que considero a verdade e o que eu gostaria de saber a respeito do livro se eu estivesse lendo a resenha.
comentários(0)comente



AlêPeriard 14/10/2013

Um livro obrigatório para quem quer fazer Cinema
Sidney Lumet através de sua inteligência, ironia, uma boa dose de bom humor e com muita generosidade, consegue expressar toda a sua experiência no Cinema dando uma verdadeira aula para quem tem uma ideia na cabeça e uma câmera na mão. Vale a pena o investimento.
comentários(0)comente



3 encontrados | exibindo 1 a 3


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com a Política de Privacidade. ACEITAR