O livro do contador de histórias chines

O livro do contador de histórias chines Michael David Kwan




Resenhas - O livro do contador de histórias chines


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Sharon 03/12/2012

Delicioso para um piquenique!
Achei o livrinho na sessão infantil da biblioteca do SESC, que tem pouca coisa para pequeninhos, mas muita para os maiorzinhos. Me animei, porque queria, desde o começo, ler dois livros para ao desafio, um "adulto" e um "infantil", mas só havia encontrado literatura de gente grande para aquele mês. Fiquei feliz!

A edição é da Martins Fontes e tem 247 páginas ilustradas, formato bolso. As ilustrações bem dentro do estilo oriental são de Cláudia Scatamacchia.

O autor cresceu em uma família multilíngue em Hong Kong, onde escutou histórias do folclore local:
"No topo está o Paraíso, onde vivem os deuses. Abaixo está a Terra, onde moram as pessoas. E abaixo da Terra fica o reino mágico das bruxas, dos vampiros, dos fantasmas e das raposas imortais, capazes de assumir a forma humana." - da orelha
São nove histórias com personagens sobrenaturais, mas não exatamente de horror. Só uma ou duas podem trazer pesadelos para os mais pequenos, mas como o livro é uma delícia, eu aconselho os pais a lerem primeiro e decidir o que contam para eles ou não...

Os contos e personagens são parecidos e também muito diferentes da nossa tradição.

Lembram muito o "Contos de Assombração", um dos meus favoritos na infância, mas, ao mesmo tempo, são mais elaborados, os personagens são mais complexos e detalhados. Tudo delicioso, olhem só:
"- As Raposas Encantadas enfeitiçam as pessoas - vociferei, o sangue me subindo à cabeça - e tornam-se criaturas da noite também!
Yinn riu na minha cara.
- Já que não acredita que existem Raposas Encantadas - bradei -, passe a noite na mansão assombrada e lhe darei um banquete como você nunca experimentou antes." - de "O casamento da raposa encantada"

***
"- Perguntei se você viu uma raposa! - vociferou o homem.
Lao Mu apontou na direção oposta à que a raposa tomara.
- Ela foi para aquele lado! - gritou o batedor, apontando na direção indicada por Lao Mu, quando seu patrão se reuniu a eles." - de "Ser o melhor"
***
"- O que você achou, querido irmão? - ressoou a voz da jovem de dentro do coche.
O homem chegou o rosto bem perto de Wong Shung.
- Um homem - respondeu, lacônico.
- Como ele é?
- Médio." - de "As raposas"
***

Achei divertido descobrir como as raposas são importantes para a mística chinesa. Elas aparecem em mais alguns contos do livro, mas nesses três são personagens centrais. O próximo conto é o meu favorito. E eu sei de pelo menos uns quatro amigos que vão adorar também. Fila no SESC! Dá pra ter uma ideia exata do que vai acontecer pelo pedacinho que eu coloquei aí embaixo, mas isso não tira o sabor dessa historieta suculenta como uma pera madura:
" - Mestre, tenho fome e sede... Em nome de Buda, poderia me ceder uma pera?
O fazendeiro Chang arregalou os olhos, espantado. Será que estava ouvindo coisas?
Claro que não. Pois lá estava o monge, repetindo o que acabara de dizer, a voz fininha, choramingando.
- Como? Como? - disse o fazendeiro Chang, arquejando. - Abrir mão de uma pera!
Nunca tinha ouvido nada tão absurdo!" - de "A pereira"


***

E essa história sobre um casal de camundongos não ficaria destoante no "Livro da Selva" do Kipling:
"Ela chamava-o de "Bigodes" porque ele tinha os bigodes mais arrojados que ela já tinha visto. Ele a chamava de "Olhinhos Brilhantes" porque o riso em seus olhos o enchia de alegria. Eles moravam no fundo de um armazém, onde o ar era carregado de cheiro de mel, de tempero, de frutas e de muitos grãos. Era um lugar barulhento, empoeirado e movimentado; sempre estava acontecendo alguma coisa. Mas era quente e seco." - de "Bigodes e Olhinhos Brilhantes"
***
"A história do pescador", que é talvez, a mais diferente do que estamos acostumados... sem contar as raposas, claro. Depois, vem "A cantora da noite", muito familiar para nós, olhem se não:
"...Reabra a mansão à beira do lago. Torne-a habitável no primeiro dia do terceiro mês', escreveu meu patrão. "A ala leste do pátio principal, porém, deve permanecer trancada."


A próxima história, "A Bela Dama" segue o estilo de horror mais universal em tudo: inimigo, mestre, heroína salvando o amado da tentação... e é ótima. O livrinho finaliza com uma história bonita e triste de amor, "A borboleta".

Um detalhe interessante é que todas as histórias tem em comum uma casa, um rio, a mesma cidade, ou um jovem prestando exames para o Serviço Público Imperial. Temos a impressão de que pode ser possível montar uma linha do tempo e ligar uma história a outra, mas sempre tem alguma pequena coisinha diferente... Um livrinho delicioso para ler numa tarde de sol, num piquenique, com seu filhote de sete aninhos.

Quatro estrelinhas. Em cinco.

Mais resenhas de livros infantis em: http://www.quitandinha.blogspot.com.br/p/livros-infantis.html
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