Paula 16/01/2017Junto e misturado: uma etnografia do PCCApesar de ser um tema fruto de diversas pesquisas na área de segurança pública, sempre há algo novo a ser dito sobre o sistema prisional e as chamadas organizações criminosas. As dinâmicas mudam, as crises de acentuam e a impressão é que a cada nova rebelião o tema fica em evidência, mas é logo esquecido em seguida. Esse livro, então, é leitura obrigatória pra quem deseja entender ao menos uma ponta do que se passa nas prisões brasileiras.
Por se tratar de uma etnografia, pode-se pensar que a leitura será arrastada para aqueles que não têm conhecimento prévio de antropologia. É bem verdade que há passagens mais teóricas, naturais em um estudo que se propõe antropológico, mas tal natureza não impede que o livro seja apreciado por qualquer pessoa que se interesse pelo tema. Karina escreve como quem conta uma história e a leitura flui sem maiores percalços.
A pesquisadora explora e de certa forma desconstrói muito do discurso que é repetido largamente por veículos de comunicação em massa sobre o PCC, mostrando-nos que a hierarquia e a visão empresarial não são marcas do Comando - ou ao menos não é desta forma que seus membros agem e querem ser vistos. De maneira geral, Karina nos mostra a importância de deixar as famosas "caixinhas" com conceitos antropológicos pré-fabricados do lado de fora do campo de pesquisa. Ela lembra o que muitos pesquisadores esquecem: não é a teoria que deve se adequar à realidade, mas o contrário.