Melancólico Relato 07/02/2024
Leviatã, um "mal" necessário
Sabemos que todo escrito tem viés, seja ele em menor ou maior escala. Dito isso, é claríssimo o posicionamento em prol da monarquia adotado por Hobbes, que utiliza de toda argumentação possível (sempre tendo como base a bíblia cristã) para justificar não só o direito da coroa sobre os súditos, como também para desestimular mudanças no sistema e deslegitimar o governo da igreja, representada pelo Papa, sobre outros reinos que não o próprio (onde o considera legítima, já que estipula uma hierarquia de poderes, sendo o poder civil superior ao eclesiástico). Esse viés, acredito eu, deve-se à sua posição social: após sair da faculdade (na qual entrou aos 15 anos de idade), esteve relacionado fortemente à nobreza, sendo tutor de Cavendish, dentre outros.
Temos capítulos longos e maçantes onde tudo o que encontramos é discurso sobre partes específicas da bíblia, os quais usa como referência argumentativa em capítulos posteriores.
Minha parte favorita está mais ao final do livro, quando o vemos argumentar contra Belarmino, um membro da igreja que defendia o poder do Papa por sobre o soberano civil (apesar de que, pessoalmente, acredito que ambos estão equivocados, mas por motivos diferentes).
É uma boa leitura apenas para aqueles que estão dispostos a encarar as partes chatas para incrementar a base de informações, a bagagem que levamos para posteriores livros.
Sobre o sujeito do título do livro, o Leviatã é aquele monstro para quem entregamos nossa liberdade em troca de proteção, ou seja, o estado. Considero que a sua existência é necessária, já que como mencionado por Rousseau, a criação da primeira sociedade organizada em estado obriga aos demais a criá-las também; porém, cabe a cada um analisar e refletir: quanto da nossa liberdade vale a pena oferecer em troca da proteção recebida?