Paulo Silas 26/06/2015O homem é, por natureza, um animal político, estando inclinado assim a conviver numa sociedade política (a "pólis"), de modo que somente de tal forma possui os meios capazes para realizar plenamente as suas potencialidades. Este é o contexto desta obra de Aristóteles, se tratando do ponto de partida (e também do ponto conclusivo) em sua análise criteriosamente metodológica sobre o homem na sociedade.
Estruturando o homem enquanto convivente em sociedade (dada a impossibilidade de exercer o seu potencial se com outros não convivesse), Aristóteles expõe de forma pormenorizadamente rigorosa a sua análise da sociedade humana, tratando do homem e seus deveres, das leis, das instituições, da família e das demais questões pertinentes ao homem enquanto ser social. O autor esmiúça cada questão abordada de modo a tornar larga a sua análise sobre cada ponto em específico. Isto contribui para o estudo sistemático da coisa, em que pese causar fadiga em alguns pontos. No "Livro II", por exemplo, no qual Aristóteles trata e analisa as "Comunidades Ideais" mediante a observação e cidades de seu tempo, a leitura se torna enfadonha.
Outro ponto que merece o destaque crítico é a visão misógina de Aristóteles, bem como a sua sustentação em defesa da escravidão. Para o filósofo, haveria uma distinção natural entre os homens livres e os escravos, já que cada "tipo" possuiria tal natureza de acordo com a sua aptidão para servir ou para ser servido. Ainda, as mulheres estariam em lugar semelhante ao dos escravos - pelo menos com relação a condição de partícipe ativo na sociedade.
Assim, o autor ao sustentar em três níveis a atuação do homem como animal político (senhor e servo / homem e família / homem e cidade), coloca o escravo como servo na primeira dimensão, enquanto a mulher neste mesmo patamar, só que na segunda dimensão.
Em que pese tais tropeços do autor, a obra como um todo merece relevo, dada a já mencionada análise criteriosa da sociedade humana.
A obra é divida em oito livros, cada qual abordando diversos temas pertinentes ao convívio do homem em sociedade. Pouco escapa sem que haja julgo do autor, vez que nos escritos são tratadas questões como a definição e estrutura da cidade, economia, modos de governo (aristocracia, oligarquia, monarquia, democracia e tirania), classificação das constituições, virtudes cívicas, educação das crianças, as causas de revoluções e diversos outros amiúdes.
Durante sua exposição, Aristóteles tece diversas críticas contra Platão e o seu estado ideal proposto na "República", evidenciados os contrapostos e as ideias insustentáveis tanto num plano prático como teórico.
Um estudo filosófico profundo sobre o homem enquanto animal político (condição fundante de todo ser humano para que possa desenvolver toda e qualquer aptidão social). A sociedade, enquanto estrutura analisável e observável, dissecada pontualmente pelo autor. Um bom apanhado de filosofia política. Enfim, um tratado filosófico sobre o homem, suas virtudes, seus deveres e direitos enquanto membro da sociedade.
Recomendo!