Pefico 20/10/2010
O complicado problema da prostituição infantil
O tema Prostituição é sempre algo complicado em um país sexualmente hipócrita. Todo mundo sabe que prostitutas existem, mas muitos só as levam em consideração em piadas de mal gosto. Muitos dos piadistas em questão têm uma ou duas aventuras com essas profissionais em seu histórico, quando não as visitam regularmente. Mesmo assim elas são assunto de piada. Mais complicado que considerar as questões que envolvem uma mulher "vendendo seu corpo" como profissão é imaginar uma criança passando por situação semelhante.
O livro Meninas da Esquina de Eliane Trindade lança uma luz no que se passa na cabeça dessas meninas-mulheres que passam a usar o comércio sexual como uma plataforma, ilusória ou não, para uma vida melhor. Eliane Trindade nos traz os diários de cinco meninas pobres que vendem favores sexuais (com exceção de uma delas), todas moradoras de favelas e conjuntos residenciais financiados pelo governo. As descrições das garotas são vívidas e bem detalhadas, não do processo de venda de favores sexuais em si, mas do que se passa em suas cabeças e em seus corpos. Pela forma como elas descrevem seu cotidiano, seu relacionamento com a família e suas empreitadas para abandonar esse mercado tão nocivo para suas vidas, enxergamos a imensa teia que impede essas crianças de serem apenas crianças.
Há também grandes surpresas neste livro. Descobrimos, por exemplo, que a prostituição é uma definição que aplicamos para sua atividade, mas que elas mesmas não usam para se definir. Elas não "são" prostitutas, elas estão "temporariamente transando por dinheiro, mas logo que as coisas melhorarem vão parar". Outra surpresa é descobrirmos que para essas crianças a prostituição acaba sendo um substituto para a vida no tráfico, que segundo elas, é muito pior. A escolha que são obrigadas a fazer entre prostituição e o tráfico, evidencia a ausência de escolhas.
Mesmo exploradas, abusadas e castigadas por algo que elas mesmas consideram como errado, essas crianças sonham. Elas sonham com um futuro melhor onde possam estudar e se desenvolver. Elas sonham com oportunidades que não vem, empregos que não aparecem e uma sociedade mais justa. Mesmo sem entender, por ausência de experimentação, o que sociedade e justiça significam.