Vilamarc 26/06/2019A insolente aristocracia da pobrezaTerra sem mapa é um livro melancólico, pois descobre-se que a terra sem mapa é aquela que não se reconhece nas cartografias de papel. A terra sem mapas são as lembranças distantes que nos trazem sentimentos delicados, memórias afetivas de tempos e espacos, experiências vividas com emoções, recordações infantis de deslumbramento, medo, encanto, afetos perdidos e recuperados...
Mas as histórias aqui narradas são bem localizadas no espaço: uma Galícia rural e mística das lembranças da mãe de Ángel Rama, amalgamadas as suas próprias, quando cruança, no bairro Reducto em Montevidéu no Uruguai.
O livro é uma homenagem a sua mãe que após a morte desejava ser en{terra}da nos domínios das suas lembranças infantis, aquela terra que o autor não localiza no mapa, ou que os mapas não dão conta, mas que existe nas lembranças transmitidas entre gerações.
"Cada infância são duas infâncias e talvez todas as infâncias. Alegrias, medos, êxtases desses anos em que o mundo se dilacera diante de nós como um inacabável tecido de seda; e alegrias, medos, êxtases da infância de nossos pais, que eles evocam para nós e vão entretecendo com a nossa, como uma enredadeira que vem de muito longe". p. 137.