O Tenente Quetange

O Tenente Quetange Yury Tynyanov




Resenhas - O Tenente Quetange


14 encontrados | exibindo 1 a 14


Nick 20/01/2024

Inteligente e divertido
Ambientado na Rússia do séc. XVIII, a novela nos imerge no contexto militar e burocrático do Império. 

Um escrivão está atrasado para digitar a Ordem do Dia, documento militar oficial, e comete erros ao redigir devido à pressa e ao terror que cairia sobre si caso não fosse feita a tempo. Ao invés de transcrever: ?A nomeação para tenentes que tange Stíven, Rybin [...]?  ele escreve: ?A nomeação para tenentes Quetange, Stíven, Rybin [...]?.                                                                             
A partir do erro de digitação do escrivão, surge um nome: Quetange. A partir do nome, uma identidade, a partir da identidade, uma vida. Ele comete, ainda, outro erro. Na declaração de óbito, declara um homem vivo como morto. 

A Ordem do Dia era absolutamente incontestável, de forma que quando o tenente Siniukháiev, vivo, escuta seu nome da sessão de óbitos, duvida de sua própria existência.

Quando o alto escalão é alertado sobre os erros, decidem ?considerar como existente o tenente Quetange? e como morto o tenente Siniukháiev.

Quetange é condenado ao açoitamento e ao trabalho forçado na Sibéria por creditarem a ele um feito que irritara o czar. Após sua volta à Rússia, é promovido, se casa e tem uma vida que só acende. Sua característica mais adorada pelo czar é a discrição. 

Na obra, Tyniánov ridiculariza o czar Paulo I, o militarismo burocrático, a elite afrancesada, a corte e tudo o que surge no caminho.   

A escrita é fluida. Apesar de lermos sobre procedimentos burocráticos, a comicidade das cenas é refrescante, tornando a leitura leve e divertida, com aspecto teatral, além de ter contribuído para o imaginário cultural da região. Como diz o posfácio desta edição:

"A penetração da literatura na vida nacional sempre foi sinal de um êxito genuíno e duradouro. Este êxito foi alcançado pelo conto O tenente Quetange, cuja imagem tornou-se símbolo de uma atitude fria, indiferente e oficialesca em relação à vida."
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Luiz Pereira Júnior 23/09/2023

O pesadelo nosso de cada dia
Um escrivão redige incorretamente uma ordem do dia e isso dá origem a toda uma série de confusões. Mas não se deixe levar por esse resumo tolo, pois estamos diante de uma obra-prima em versão curta, provando que não é preciso escrever um calhamaço de mil páginas para ter comprovado um enorme talento.

Em vez de escrever “A nomeação de tenentes no que tange a”, o oficial redige “A nomeação do tenente Quetange”. Morrendo de medo de seus oficiais superiores, a ordem do dia é passada para o oficial seguinte e dele para o seguinte e assim por diante até chegar às mãos do tirano czar russo, que condena o tenente que não existe a trabalhos forçados na Sibéria. E quem é louco para dizer que tudo não passa de um equívoco e incorrer na ira e nas horrendas punições do soberano?

Por meio dessa situação absurda, luri Tyniánov constrói um monumento crítico ao poder, à corrupção, à mesquinhez. Ao mesmo tempo, mostra-nos que é muito fácil criticar quem não luta contra a corrupção, a corrupção e a mesquinhez, mas quem de nós faria o mesmo quando podemos perder nossos bens, ser presos por nossas opiniões e ideias, ter nossa família jogada na miséria e no exílio?

E sim, a obra vale cada centavo.

“O tenente Quetange” é uma leitura curta, mas profunda, fazendo-nos refletir ao mesmo tempo em que nos entretém, que nos faz repensar quem somos e do que fazemos parte. E tudo isso sem grandes voos hermético-linguísticos, sem jogos de linguagem que, muitas vezes, mostram apenas que o autor sabe manipular a seu bel-prazer as palavras...
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Luci Eclipsada 24/08/2023

Uma verdade imaginada pela força da burocracia
Aos que buscam leituras curtas, mas que tenham conteúdo e levem a algum tipo de reflexão com doses de humor e criticidade, "O tenente Quetange" é uma ótima pedida.

Ambientada no século XVIII, no decorrer do reinado do tsar Paulo I, na novela curta do russo Iuri Tyniánov, nos deparamos com uma sátira política no qual um erro em um documento oficial cria uma escalada de situações absurdas que traz a existência alguém que sequer existe de fato enquanto condena a não existência uma pessoa real.

Assim, o irreal tenente Quetange serve a noveleta de Tyniánov como um projeto heroico fruto de uma verdade imaginada que proporciona, ainda que de modo mais velado, uma crítica mordaz não só a burocracia como a política e a autocracia russa em que a burocratização do dia a dia e o uso equivocado de registros históricos ocasiona situações grotescas.

Nesse ponto, a palavra escrita ganha contornos dantescos e nos mostra como ela pode ser usada tanto para o bem quanto para o mal, como o que ocorre em "O tenente Quetange", afinal é uma palavra surgida por um equívoco provocado por um burocrata apressado que acaba se materializando e ganhando vida própria.

E a edição da Editora 34 é muito satisfatória por dois motivos: pelo prefácio de Boris Schnaiderman que nos conceitua no universo do conto de Tyniánov assim como não deixa de comentar a tradução para o português, feita pela experiente Aurora Fornoni Bernardini a seu pedido, e pelo posfácio que analisa a novela de modo excepcional, nos ajudando a ampliar nossa percepção sobre a história.

Então, se você deseja se aventurar pela escrita de autores russos que fujam do eixo dos já consagrados escritores que no Brasil são mais populares, como Dostoiévski, Tolstói, Gógol, Turguêniev, mergulhar no texto de Iuri Tyniánov não é só uma opção diferenciada, como uma grata surpresa e deleite literário com o seu conciso e divertido "O tenente Quetange".
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Gabriela.Rossi 11/08/2023

Novelinha divertida
Sem entrar na discussão ?o que é novela e o que é conto?, o livro é muito divertido. Daqueles que dá pra ler numa sentada só e se divertir com as atrapalhadas que acontecem. Ótimo livro! Recomendo fortemente.
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Manfred 31/07/2023

Vontade de sentar numa mesa de bar com outras pessoas que também leram esse livro e ficar viajando nessa ideia do personagem que é inexistente, que é só uma configuração social fantasmagórica mas que tem mais importância que o ser humano de carne e osso.
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Georgeton.Leal 06/07/2023

O absurdo que explica a realidade
De leitura rápida e leve, esse pequeno livro traz uma curiosa trama que me lembrou muito as obras de Kafka com aqueles tipos de situações improváveis que permeiam todo enredo. Por ser uma sátira sutil e engraçada, algumas nuances podem passar despercebidas ao leitor que não conhece o contexto histórico da época em que a obra foi escrita, por isso, sempre é bom ficar atento aos detalhes.
A história se passa na corte do Tsar Paulo I, na Rússia do final do século XVIII. O Imperador fica fascinado com as histórias de um suposto herói militar chamado "Tenente Quetange", que na verdade não passa de uma invenção proveniente de um erro em um relatório. Enquanto o Imperador se encanta com as histórias do tal Tenente, a burocracia do governo tenta manter a farsa, inventando missões e sucessos fictícios para o oficial inexistente, o que acaba gerando uma série de eventos cômicos.
Ao introduzir esse personagem imaginário que afeta profundamente a realidade, Tyniánov questiona a noção de autoridade e as falhas inerentes ao sistema burocrático. Essa inversão irônica lança luz sobre os absurdos e contradições presentes na administração estatal, criticando as estruturas de poder e controle que governavam a sociedade russa naquele período.
Essa é uma novela sensacional que vai além de seu tempo e continua relevante até os dias de hoje, pois levanta questões sobre a natureza da verdade e a manipulação da narrativa em busca de objetivos políticos.

site: https://senso-literario.blogspot.com/2023/08/o-absurdo-que-explica-realidade.html
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Icaro 27/05/2023

Amei!
Editora 34 tem se superado em cada novo lançamento esse ano. Esse comprei hoje e achei incrível, texto praticamente telegráfico, baseado em uma anedota (ou não) do império czarista russo do final do séc. XVIII, divertido e triste ao mesmo tempo!
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Lílian 29/10/2021

Ler um bom autor russo é quase que fazer uma especialização
Ótima sátira, humor sutil, inteligente... E eu pagando pau desde o título.

O mote aqui é o absurdo de se estar "vivo ou morto por decreto ou conveniência" e tudo que isso pode envolver.

Eu sou do time que dos que gostam demais das produções russas, de modo geral. Tyniánov aborda e tira sarro dos temas comuns: o czar, a corte, a burocracia, o exército, os rituais, o afrancesamento da elite russa de então, os temas comuns.

Só que, como sempre, a maneira de escrever, as abordagens, as ideias, o equilíbrio entre a história, o humor, a crítica, o drama, o apelo emocional... Ai, tenho que ler, ler, ler pra aprender cada vez mais!
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Marker 21/07/2017

É sempre impressionante se deparar com um texto que mesmo conciso (ou especialmente por conta dessa característica) consegue ser divertido, ácido, complexo e curioso num nível que seus contemporâneos mais robustos não alcançam. Novela sobre a loucura que rege o conceito de tirania, O Tenente Quetange é também sobre a palavra, sobre a escrita, sobre o mundo -neste caso um ambiente militar- redefinido à partir de um descuido ortográfico. Talvez pudesse ser um pouco maior, mas não sei ao certo se o impacto seria o mesmo.
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Hildeberto 11/01/2017

"O Tenente Quetange", de Tynianov, é um livro de agradável leitura. A edição de 2002 da Cosac Naify é de boa qualidade, embora note-se uma evolução entre este livro e as edições mais recentes de outros livros da falecida editora.

Na corte do czar Paulo I um escrivão comete um erro. Um tenente é posto como morto enquanto outro que não existe é promovido. Porém, numa sociedade em que errar perante o Czar pode levar a morte, ambos os são levados a frente. O tenente que existe é tratado como se fosse absolutamente nada e o inventado ganham promoções e honrarias.

Divertido, sagaz e irônico, "O Tenente Quetage" pode ser lido como uma crítica ao formalismo burocrático que por vezes se sobrepõe a vida real, a artificialidade das relações sociais e uma sátira dos regimes autoritários . Vale a reflexão.
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Teco 30/05/2014

Um tanto quanto psicodélico. Lembra um tanto de Matrix, mas de uma ambientação de Metamorfose de Kafka. Mais que engraçado, muito mais, é estranho, num ambiente estranho, com comportamentos estranhos, frente a realidade da não realidade, de as pessoas vistas não mais na sua realidade aceitarem e agirem de maneira estranha.
A mudança de alguma coisa, pessoa, função, para outra, por um mero pequeno erro burocrático, e as pessoas assim as aceitavam num ar bem Kafkiano, de A Metamorfose, ou até outras obras do autor. Estranho, miragem, transformação, de condição, de não saber quem era e por uma mera pequena burocracia da sociedade (que na verdade mostra a grande burocracia dela) torna-se um outro e sem saber de sua condição. Sociedade mecanizada de Matrix, burocracia de Orwell, estranheza de mundo, de condição, de Kafka. Espetacular e muito fascinante como o passa a narrativa. Fica algo no ar, vago, muito Matrix, Kafka, Orwell. Excelente. Nota: 5.
Ju Furtado 20/07/2014minha estante
Excelente resenha Teco! De fato, esse livro é de uma fina ironia que se aproxima muito, muito mesmo, dos citados por você!




Felipe 27/06/2012

De repente o mundo não é mais o mesmo. De repente você entende que a vida pode ser uma farsa. Você simplesmente desconfia que sua própria existência é uma falsidade inventada por algum sistema burocrático. Não será difícil o leitor sair deste livro e se perguntar: Eu existo? Eu estou vivo?

Genial e original! Este pequeno livro tem a força de um calhamaço! Seu soco é direto e o leitor poderá contar com um olho roxo no final deste IMENSO baque que irá te puxar de volta (caso você tenha sido afastado!) para os questionamentos mínimos do cotidiano e da existência.
Ju Furtado 03/08/2013minha estante
Ótima sua resenha Felipe!
Realmente, após o livro acabar eu fiquei com a mesma sensação que tive ao sair do cinema após assistir Matrix.


Teco 11/04/2014minha estante
Criou grandes expectativas pra eu o ler!




jana no hibi 20/09/2010

...
Uma breve critica sátirizada.Uma pessoa que não existe passa a ser tão importante por seus atos, e ao mesmo tempo uma que realmente existe tem um destino nada digno,por um simples erro de um escrivão sonolento e atrapalhado,sem falar de leis "burrocraticas" por assim dizer, de um rei tirano!
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N.A.N.E. 29/06/2010

Excelente!
Tynianov traz uma sátira ao absolutismo, ao poder burocrático e principalmente as instituições militares. De maneira cômica, retrata fielmente as disfunções dessas instituições, os jogos de poder e o poder da palavra escrita - principalmente o que pode ocasionar um erro, tanto para o bem, quanto para o mal.
Leitura bastante interessante e de profunda reflexão, sobre o poder e suas instituições milenares.
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