Bruno.Rafael 11/06/2022A escravidão pelo olhar de um escravoComo as letras miúdas da capa do livro já diz, essa é uma autobiografia, mais especificamente de Frederick Douglass, uma figura importante no processo abolicionista nos Estados Unidos. Ele narra sua jornada em busca da sonhada liberdade de sua condição escrava, mas a sua fuga é só uma pequena parte da vida dura e batalhadora de Frederick. Nosso narrador não é do tipo resignado e que baixa a cabeça para qualquer dificuldade, e isso está bem explícito na sua escrita, que é forte e impactante, mas ao mesmo tempo motivacional, ainda mais para aquela época onde o movimento de abolição dos escravos ainda enfrentava muita repreensão, principalmente pela parte sul dos Estados Unidos, que foi onde ele cresceu e passou seus piores anos nas mãos de diversos senhores cruéis. Através do seu relato, podemos ver o quão cruel era a condição dos escravos nas mãos dos brancos. É claro que muitos de nós já lemos sobre a escravidão no Brasil e em outros lugares, em livros de história, mas nada se compara ao próprio olhar do escravo que viveu toda a dor das chicotadas e espancamentos que quase o levaram à morte, sem exagero na palavra. E mais, Frederick, ao começar a aprender a ler, vai saindo cada vez mais da ignorância e percebendo que a escravidão não é só uma questão de maus tratos com os negros, ele vê que é algo muito maior, em termos sociais. E quando escrevo “termos sociais”, isso se refere a uma diversidade maior de problemas do que se possa supor inicialmente. Por exemplo, ele enfatiza que os senhores de escravos usavam de uma má interpretação religiosa para justificar seus atos cruéis com os escravos, e com essa justificativa se virem de mãos limpas.
Depois de sua fuga, Frederick se torna um ativista a favor da liberdade de seus irmãos que ainda estão sob o regime escravagista, não sem temor, pois como os Estados Unidos ainda vivia sob tal regime contra os negros, ele próprio temia ser devolvido à condição de escravo. Nessa autobiografia faltou um pouco mais dessa parte da vida dele, já como um escravo liberto e agitador. Mas ele escreveu três biografias, e provavelmente nas outras ele deve ter se aprofundado na sua luta contra a escravidão, já na situação de fugitivo, pois a luta dele começou ainda quando ele era escravo, e não depois de ele fugir.