Red Mars

Red Mars Kim Stanley Robinson




Resenhas - Red Mars


5 encontrados | exibindo 1 a 5


Alessandro 27/11/2014

A melhor saga épica sobre a colonização de Marte.
Ficha Técnica do Livro
___________________

Título: Red Mars (Trilogia de Marte #1)
Nome do autor: Kim Stanley Robinson
Tradutor: Não foi traduzido para o português
Nome da editora: Spectra;
Data e local de publicação: EUA, 1993;
Número de páginas: 592 páginas;
Gênero: Ficção Científica;
Sub-Gênero: Ficção Científica Hard;
Nota: ★★★★

________________________________________________________________________

Red Mars é o primeiro livro da Trilogia de Marte, tendo recebido o Prêmio Nebula de 1993. Lembro de ter lido ele pela primeira vez em 1994 ou 1995, época em quem eu estudava astronomia na UFRJ e este foi o primeiro livro de ficção científica que li em inglês. Desde então venho esperando por uma tradução, mas infelizmente ela nunca foi feita, e como estou lendo os vencedores do Prêmio Hugo (Green Mars e Blue Mars receberam o prêmio) decidi começar relendo o primeiro livro da trilogia que considero a melhor ficção épica sobre a colonização de Marte.

A história de Red Mars inicia em 2026 com a primeira viagem colonizadora para Marte feita pelo Ares, a maior espaçonave construída para levar os primeiros colonizadores do planeta vermelho. A nave foi construída através da união de tanques externos dos ônibus espaciais, que após a utilização foram impulsionados até uma órbita para serem utilizados como módulos construtivos. A missão é um joint venture entre os Russos e Americanos, sendo que setenta dos Primeiros Cem são desses países. O livro detalha a viagem, a construção da primeira base (chamada de Underhill) por Nadia Chernyshevski, os relacionamentos complexos entre os colonizadores, os debates sobre terraformação do planeta e o relacionamento da colônia com a Terra.

Existem dois pontos de vistas diametralmente opostos quanto a terraformação de Marte: O personagem Saxifrage “Sax” Russell acredita que própria presença do ser humano no planeta significa que a terraformação de Marte já teve início, e que seria essa a nossa obrigação, pois a vida é a coisa mais rara e preciosa do universo e Marte precisa receber a vida. Já Ann Clayborne assume a posição de que a humanidade não tem o direito de alterar planetas para satisfazer suas necessidades.
O ponto de vista de Russel inicialmente é puramente científico mas acaba misturando-se com as ideias de Hiroko Ai, a chefe da equipe de agricultura que acaba criando um novo sistema de crença (a “Areophania”) que devota-se à admiração e promoção da vida (“viriditas”); os seguidores desses pontos de vistas são chamados de “Verdes”, enquanto os seguidores de Clayborne ficam conhecidos como “Vermelhos”.
O órgão que irá decidir para qual lado a colonização irá seguir será a Autoridade das Nações Unidas para Organização de Marte (UNOMA), e obviamente (contar o óbvio não é spoiler, certo?) os Verdes irão prevalecer.
Entre as técnicas utilizadas para transformar Marte são utilizadas as seguintes:

→ Instalação de um grande número de cataventos para transformar a energia eólica em térmica para aquecer a atmosfera;
→ Escavação de túneis profundos na crosta (moholes) para liberar calor retido abaixo da superfície. O nome Mohole é uma homenagem ao Projeto Mohole, que foi conduzido entre 1958 e 1966 e realizou uma tentativa de recuperar uma amostra de material do manto terrestre ao cavar um buraco através da crosta na Descontinuidade de Mohorovicic, ou Moho.
→ Aumento da concentração de gases na atmosfera através de uma complexa fórmula bio-química que fica conhecida como “coquetel de Russell”;
→ Detonações nucleares profundas para derretimento do permafrost e liberação de água;
Arremesso de cometas para colisão na atmosfera de Marte, em trajetória rasante, causando sua desintegração e agregação de oxigênio, hidrogênio e água na atmosfera;
→ Inserção de um asteroide em órbita geossíncrona com Marte, que é batizado de “Clarke” no qual será construído um elevador espacial;

Além disso Robinson introduz muitas tecnologias que hoje seriam consideradas como o Santo Graal da ciência, tanto na ciência de materiais (com super materiais extremamente resistentes que possibilitariam a construção do elevador espacial e redomas flexíveis capazes de envolver cidades inteiras) como na ciência biológica (tratamentos genéticos e geriátricos que prolongariam a vida e a qualidade de vida em várias décadas).
Considero Red Mars um dos melhores livros de ficção científica hard já escritos, e sem dúvida o melhor livro sobre uma possível colonização de Marte, muito coerente nos princípios científicos apresentados, cheio de aventura, romance e humor. Mas então por quê não dei cinco estrelas para ele? Acredito que a única falha do autor foi dar pouco destaque ao enorme desafio que os colonizadores deveriam enfrentar ao lutar contra um ambiente extremamente hostil: atmosfera rarefeita e tóxica, frio extremo, recursos limitados e ambientes confinados em um sistema ecológico frágil e complexo. Para se ter uma ideia, após mais de um ano da chegada da equipe de cem colonizadores nenhum deles morre ou sofre ferimentos graves. O pior ferimento foi o de Nadia, uma especialista em construções em ambientes hostis, que perdeu apenas um dedo e um acidente. Comparando com as dificuldades enfrentadas pelos colonizadores do Novo Mundo ou com as dificuldades que os exploradores da Antártica enfrentaram, é praticamente um acampamento de verão! A viagem da equipe de geólogos e Nadia ao pólo norte marciano foi descrita rapidamente e transcorre sem nenhuma dificuldade, sendo apresentada mais como uma excursão de férias para Nadia do que como uma missão arriscada com algum propósito científico ou prático. Enquanto isso a maior preocupação de Maya (a líder do grupo russo) é como ela vai lidar com seu triângulo amoroso que mantém com os dois líderes americanos, Frank e John.
Muito pouco do livro é dedicado à questão homem versus ambiente, e muito dele é dedicado aos conflitos entre os próprios seres humanos, questões políticas e econômicas, como se a maior dificuldade de viver em Marte não fosse o ambiente inóspito, mas sim a própria natureza destrutiva do ser humano e as dificuldades de relacionamentos dos colonizadores.
Mas essa é uma pequena falha de Kim Stanley Robinson, e de forma alguma desmerece esse grande livro. Na minha opinião, Red Mars seria ainda melhor se tivesse um pouco mais do estilo que Arthur C. Clarke empregou em Encontro com Rama (veja minha análise), que é muito mais realista e focado na exploração e não nos relacionamentos humanos.

Robinson utiliza o eficiente recurso de alternância da narrativa em terceira pessoa entre os personagens principais, o que permite ao leitor ver Marte e os relacionamentos dos colonizadores sob perspectivas muito diferentes: Nadia com seu pragmatismo cabeça-dura, Ann com sua tristeza quase patológica, John com seu entusiasmo e estilo celebridade de primeiro homem em Marte, Arkady com seu libertarismo revolucionário, o psiquiatra francês Michel Duval sofrendo de saudade crônica da Terra; essa alternância amplia muito a abrangência do trabalho do autor, possibilitando ao leitor identificar-se com um ou outro personagem e suas atitudes em determinados momentos.

Não deixe de ler também Green Mars e Blue Mars, em breve publicarei minha análise dos outros livros da trilogia!

site: http://leiturasparalelas.wordpress.com/2014/11/27/red-mars-kim-stanley-robinson/
comentários(0)comente



Paulo 29/07/2018

Kim Stanley Robinson é considerado o mago da ficção científica ambiental. É um subgênero da ficção científica com histórias que se passam em ambientes bizarros ou que analisam a interferência do homem em um ambiente que pode ou não ser o nosso. Red Mars é uma aula de como criar uma história inteligente em um cenário familiar usando análises científicas para tornar a história escabrosamente verossímil. Apesar de a resenha de Aurora ter sido publicada antes, Red Mars foi o primeiro livro que eu li do autor. E foi paixão à primeira vista.

Geralmente histórias que mexem muito com aspectos científicos costumam ser chatas e maçantes com detalhes que nem sempre interessam ao leitor. Não é o caso aqui. O autor consegue empreender um ritmo tranquilo e brilhante à narrativa, fazendo com que as coisas sejam captadas muito bem pelos leitores. Conseguimos entender mesmo as altas ideias que ele implementa aqui. A narrativa é em terceira pessoa e vai se centrar em diversos personagens cada um representando um núcleo narrativo por vez. Ora estamos com o líder de missão, ora com a engenheira-chefe, ora com os revoltosos resistindo à empreitada das grandes corporações. A história é grande e vai fazer você imergir no planeta vermelho completamente.

Vou falar um pouco sobre os personagens apesar de eles serem apenas uma parte menor do enfoque. Pensar que toda a confusão em Marte se inicia por conta de um triângulo amoroso é incrível. Parece clichê no começo, mas aos poucos o autor vai delineando toda uma cadeia de eventos onde no final o triângulo amoroso vai parecer o menor dos problemas. Os colonos são vivos, no sentido de que eles é que vão dar forma ao começo da terraformação. Durante esse processo vamos ver relações iniciando, e como elas vão moldar os rumos da colonização. O início que se passa na nave a caminho de Marte é claustrofóbico e realmente deixar os sentimentos aflorarem naquele momento é parte desse processo de permanecer encarcerado em um lugar sem ter para onde ir. Uma cena muito boa que é característica desta sensação de claustrofobia é quando temos os personagens indo visitar o observatório faltando poucos meses para aterrissagem. É ali que vemos as alianças se formando e os ressentimentos transparecendo.

Se vocês não conhecem o autor, deem uma oportunidade. Se encantem com a sua escrita. Sejam levados até ambientes estranhos regados por uma ciência que parece tão real que você vai perguntar se isso não seria possível. O que é o maior atrativo da escrita de Kim Stanley Robinson é que mesmo ele sendo um pouco pessimista com o que o homem pode fazer dado o poder de alterar a natureza que ele possui, seus livros não deixam de ser encantadores. E servem até de alerta em uma era em que vivemos tão próximos de exaurir nossos recursos naturais.

site: www.ficcoeshumanas.com
comentários(0)comente



spoiler visualizar
comentários(0)comente



carlos.delvalle 06/01/2016

Um clássico
Ler este livro foi uma experiência fantástica. É importante salientar que este é um livro de "hard sci-fi", ou seja, levou anos de pesquisas científicas para ser escrito. Por vezes, ele é pesado, porque o autor faz questão de descrever a geografia marciana com detalhes. Chego a dizer que consigo desenhar um mapa completo de Marte de cabeça agora mesmo, com os grandes vales, cânions, vulcões e planícies.

O livro começa com um assassinato, e depois volta vários anos no tempo, com a viagem dos cem primeiros colonizadores de Marte, que viajaram ao planeta vermelho na nave Ares. Tanto a nave como seus componentes e equipamentos são descritos com detalhes bastante verossímeis. Faltando um terço para o final, chegamos ao momento do assassinato que iniciou o livro, e então o livro fica mais agitado, com ameaças de revolução e intrigas políticas. Há muito material escrito sobre a tentativa de "terraformação" de Marte, ou seja, a tentativa de se interferir no clima do planeta, tornando-o mais quente e com sua atmosfera mais rica em oxigênio. Isso será levado adiante nos dois próximos livros da trilogia.

Este livro não pode ser considerado um thriller, então se quiser algo agitado, vá ler Duna ou The Martian ou algo assim. Mas "Red Mars" é uma obra que vale o investimento no esforço de uma leitura mais concentrada. Nos EUA, há críticas pelo teor supostamente ambientalista e esquerdista do livro, o que é até perceptível, mas pelo menos a mim não incomodou.
comentários(0)comente



5 encontrados | exibindo 1 a 5


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com a Política de Privacidade. ACEITAR